Coluna da Maga
Magali Moraes escreve sobre a mudança de nome do bairro Tristeza
Dizem que morar na Zona Sul é tudo de bom. Eu imagino. Nunca morei lá, conheço várias pessoas que adoram. Deve ser bom mesmo ter um vizinho tranquilão como o Guaíba. Essa região de Porto Alegre cresceu muito e ganhou novos bairros. Mas o primeiro que me vem à cabeça é Ipanema. Dar uma voltinha no seu calçadão em um domingo de sol e curtir o astral da praia é um programa que atrai gente de toda a cidade. O visual lindo compensa a fila de carros que se forma.
Tristeza é outro bairro que eu simpatizo bastante. Tem nome de sentimento, só podia chamar a minha atenção! Acho poético e charmoso, apesar do alto potencial pra piadinhas sem graça. "Quem mora na Tristeza fica triste?" Ou "Dá pra ser feliz na Tristeza?" É bem provável que isso irrite alguns moradores. Tanto que agora estão querendo mudar o nome do bairro. Surgiram páginas contra e a favor no Facebook (que novidade!, é onde o pessoal mais briga ultimamente).
Pra baixo do tapete
Dizem que havia um antigo chacareiro com esse apelido. Por que o homem era triste? Não faço ideia. O bairro tem passado e histórias pra contar. É um nome forte e cheio de significado. Parece que as pessoas têm medo de falar de tristeza. Tão mais fácil varrer esse sentimento pra baixo do tapete ou achar que só remédio resolve o assunto. Quem consegue ser alegre o tempo todo? A tristeza faz parte da vida, assim como a alegria. Somos feitos de altos e baixos. Se precisar, uma boa terapia ajuda a equilibrar. Tudo menos ignorar qualquer tipo de sentimento.
Convocaram pra amanhã de manhã um encontro na praça central do bairro pra conversar com os moradores. Como se diz nas redes sociais: nunca te pedi nada. Deixa a Tristeza em paz. Esse nome só perde em lindeza pro meu bairro, o Menino Deus. Se a moda pega, vão mexer o que mais? Eu poderia listar coisas fundamentais pra mudar na cidade. A falta de segurança, por exemplo. Isso, sim, é triste.