Depois de tantos dias molhados, eu ainda resolvo escrever sobre a chuva. Pra atrair mais água? Que nada. Pra valorizar o que a chuva tem de bom. Ela é uma incompreendida. Todo mundo reclama e implica. Parece que a chuva sempre atrapalha alguma coisa, chega na hora errada, bagunça os planos. Geralmente, é o que acontece. Eu queria ter ido para a praia nesse último fíndi, mas cadê o sol pra arejar a casa? Mesmo assim, eu gosto da chuva. Principalmente do barulhinho hipnótico que ela faz. Será que sou a única?

Não é qualquer chuva, veja bem. Se for com raios e trovoadas, assusta. Se cair um aguaceiro, é preocupação na certa. A gente não lembra se fechou as janelas, vai pegar a sombrinha e descobre vareta quebrada (isso quando não descobre goteira na casa). O trânsito enlouquece, os bueiros entopem. Os carros molham quem espera pra atravessar a rua. As lajotas soltas da calçada dão banho nos pés. Em contrapartida, se for uma chuva fraquinha e sem graça, só serve pra sujar os vidros. E se demorar muito pra chover, o pessoal reclama igual.

Meditação

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Chuva perfeita é aquela que chega de madrugada, pra embalar o sono. A gente ouve os primeiros pingos e não sabe bem o que está acontecendo. Espicha o ouvido e... sim!! É chuva! Mansinha desse jeito, pode chover a noite inteira. Melhor a previsão do tempo nem avisar, senão estraga a surpresa. Todo mundo em casa dormindo, ninguém precisa sair, apenas puxar as cobertas e agradecer as horas de sono que ainda tem pela frente.

Com a cidade quieta, dá pra ouvir bem a chuva. É o mais perto que eu já cheguei da meditação. Em vez de repetir o Ommmmm, fechar os olhos e se concentrar nos pingos batendo com a mesma cadência na caixa do ar condicionado, no telhado, no asfalto molhado. Isso esvazia a mente e relaxa o corpo, experimente. Eu sempre escrevo a coluna ouvindo música. Dessa vez, tirei os fones e ouvi a chuva. Ô barulhinho bom.