Coluna da Maga
Magali Moraes escreve sobre pessoas que destroem a escova de dentes
Essa sou eu. Quando quero me sentir forte, eu olho pra minha escova de dentes. Esbugalhada. Destruída. Terra arrasada. Poderia ter sido um halterofilista que usou a dita cuja. Não sei de onde vem esse muque todo. Coitada da pasta, que é esmigalhada entre a escova e meus dentes. E o que eles diriam se pudessem falar? "Fujam para as colinas!!!" Ainda bem que minha arcada dentária não vai a lugar nenhum.
E a retração gengival? Você conhece essa expressão assustadora? Ela te deixa com dente de vampiro. Em vez de crescerem pra baixo, eles crescem pra cima. Quem encolheu foi a gengiva, revelando parte do osso que antes ficava escondido. Ela é outra que sofre. Gengivas não gostam de agressividade. Mas eu acabo descontando o estresse na minha. Não adianta recorrer ao alho pra se proteger do dente de vampiro. O jeito é pegar leve na escovação. Já experimentei escovar os dentes com a mão esquerda, justamente pela falta de firmeza. Não dá. Quem consegue ser canhota com uma vida inteira de destra?
Ovelha negra
Não sei por que estou filosofando sobre dentes e gengivas. Sei, sim. Me culpo por essa falha técnica! Sou de uma família de dentistas. Avô materno, pai, irmão e cunhado. Eu mesma já pensei em ser dentista. Então me sinto a ovelha negra da escovação. Eu deveria saber segurar uma escova de dentes corretamente: na maciota, suave na nave, firme sem perder a ternura. Definidamente, não nasci pra isso.
Só os fabricantes gostam da minha escovação de Incrível Hulk. É que eu troco de escova quase toda semana. Além do muque, tenho mania de morder as cerdas enquanto escovo os dentes. Me distraio, lembro de algo que esqueci de fazer e saio pela casa com a escova na boca, mordiscando e pensando. Como se as cerdas fossem um chiclé sabor menta, sabe assim? Isso acaba com a escova. Provavelmente, também acaba com os meus dentes. O que importa é que sigo sorrindo. Por enquanto.