Coluna da Maga
Magali Moraes e os 245 anos de Porto Alegre: sem motivo pra comemorar
A aniversariante não está bem, gente. Melhor cancelar a festa. Suspendam os balões. Congelem os salgadinhos. Devolvam os refris no mercado e perguntem se dá pra trocar por merenda escolar. Não gastem com bolo e velas. Estamos sem ânimo pra cantar parabéns. E o medo de que a lembrancinha desse níver seja uma bala perdida? Porto Alegre anda triste, largada, insegura, envelhecida. Como festejar em meio a tantos problemas? Tapando o sol com a peneira e sorrindo amarelo?
Não sei agir assim. Quem acompanha a coluna sabe que eu sou otimista. Adoro a leveza da vida. É por isso que a situação de Porto Alegre me incomoda demais. A cidade está pesada! Carregamos os nossos medos a tiracolo, desconfiamos da própria sombra. A cada dia, vemos mais amigos entrarem para as estatísticas. Porto Angustiada. Porto Apavorada.
Santos protetores e anjos da guarda
Olhe ao redor. Obras inacabadas, lixo por tudo, inúmeros moradores de rua, crateras no asfalto, postes sem luz, esquinas sem policiais, cidade sem lei. A gente já se acostumou com notícias de esquartejamento e de bandidos botando o terror direto da cadeia. Porto Alegre tem feito as pessoas rezarem como nunca. Entregar a Deus (seja qual for a religião) é a única maneira de seguir em frente. Os santos protetores e anjos da guarda estão sobrecarregados de trabalho. A fé é o novo Waze, nos guiando pra escapar desses horrores e voltar pra casa com vida.
A verdade é que eu amo essa cidade, ainda não desisti de Porto Alegre. Me dói escrever uma coluna assim. Peço desculpas pelo desabafo, mas está difícil enxergar alguma poesia em meio ao descaso que virou o nosso cotidiano. Neste domingo, aniversário da cidade, eu desejo que o sol brilhe forte e nos motive a lotar parques e praças. É pedir muito um domingo de paz e uma segunda-feira sem manchetes sangrentas? Dona violência, dá uma trégua. Porto Alegre precisa fazer jus ao nome lindo que tem.