Coluna da Maga
Magali Moraes escreve sobre uma hóspede indesejada

Fim. Acabou. Matei a lagartixa. Sei que ela cumpre um papel na sociedade porque come insetos. Inclusive agradeço os mosquitos eliminados. Mas era uma lagartixa abusada! O tipo de hóspede que ninguém quer. Banhos já estavam sendo evitados por causa de suas aparições dentro do box. Pense num ser minúsculo e de uma arrogância enorme. A gota d'água foi encontrar a tal lagartixa em cima da cama. Na minha colcha nova que nem acabei de pagar! Num cantinho do rejunte ainda passa, no meu quarto é desaforo. A partir daquele momento, ela ficou jurada de morte.
Essa lagartixa achava que tenho tempo pra brincar de esconde-esconde. Sumia alguns dias e reaparecia do nada. Ninguém convidou, entende? Ela tinha planos de ficar lá em casa até quando? Natal? Os últimos dias foram tensos. Sabe filme de perseguição? Era eu atrás dela, e ela atrás de mim. No duelo que deveria ter sido o final, empurrei a bandida pra dentro do ralo. Pronto! Vai afundar na imensidão do esgoto. Só esqueci dos furos que o ralo tem pra escorrer a água.
O homem da casa
Na manhã seguinte, quem estava tranquila no tapete de borracha? Antes de dar bom dia pra minha família, matei a cacetadas a maldita lagartixa. Comecei o dia assim, destruindo uma tampa de plástico que usei como arma. Imagine a barulheira às seis da matina. Tive que bancar o homem da casa (eles têm nojo de matar lagartixa). É realmente nojento ver aquele bicho se dividir ao meio e continuar vivo, o rabo mexendo sozinho. Sinto um arrepio gelado percorrer o braço ao me aproximar dela.
Naquela manhã, não. Baixou a guerreira e parti pra cima com rapidez e pontaria. Foi pá-pum. Meu filho acordou, viu o assunto encerrado e disse "que mulher!". Obrigada. De nada. Confesso que não tenho certeza se resolvi o problema. Era sempre a mesma lagartixa? São todas iguais! E se ficou uma maninha hospedada no meu lar, doce lar? Vou ter que conviver com essa dúvida.