Coluna da Maga
Magali Moraes escreve sobre dores e superações
Quero te contar uma história. É sobre fatalidades da vida. E quanto tempo demoramos pra refletir e aceitar. Há quase cinco anos, meus pais foram atropelados na frente de casa. Decidiram atravessar a rua no meio dos carros parados. Ao cruzarem a última pista, um taxi que tinha acabado de deixar passageiros não os viu e pegou eles em cheio. Minha mãe ficou presa embaixo das ferragens. Meu pai só arranhou a testa, mas ficou desnorteado e desesperado. Agradeço até hoje à fada que o ajudou a ligar pra mim e aos anjos da SAMU que socorreram a mãe.
Enquanto nós esperávamos a pior notícia do mundo no HPS, um homem veio perguntar por ela. Era o taxista. Nunca odiei tanto uma pessoa. Minha mãe passou duas semanas entre a vida e a morte na UTI, dois meses hospitalizada, sofreu com muita dor sem saber se voltaria a andar, fez cirurgia pra reconstruir a bacia, colocou vários pinos, fez enxerto de osso e pele. Nasceu de novo, com uma sequela na perna que tirou sua independência. Meu pai parou de trabalhar e não recuperou a confiança na vida.
Tudo passa
De tempos em tempos, algum conhecido pega esse taxi. Até hoje ele entrega santinhos pagando a promessa que fez pro Padre Réus, e conta a história do casal de idosos que atropelou. Ele ficou sabendo que minha mãe voltou a caminhar e acredita no milagre das suas rezas. No que eu acredito? Que, às vezes, é quase impossível conseguir se colocar no lugar dos outros.
Essa semana, alguma coisa acalmou dentro de mim. Uma das senhoras que dividiram o quarto do hospital com a mãe (foram muitas que chegavam e saíam, enquanto ela seguia lá) sempre telefonava pra saber notícias. A mãe sentiu falta das ligações e descobriu com a filha dela que sua amiga morreu. Foi aí que percebi o quanto somos privilegiadas. Continuamos juntas!! Apesar de tudo, minha mãe tá firme e forte com sua bengalinha. Voltou a ser alegre. Tudo passa. Até as dores mais difíceis.