Coluna da Maga
Magali Moraes escreve sobre a profissão de chaveiro
A gente passa na frente de uma banca de chaveiro e nem imagina quantas histórias bonitas circulam por ali. Quer dizer, eu imagino direitinho. Claro!! Todas aquelas chaves iguais penduradas lá no fundo não me enganam. Elas estão ali por pouco tempo. Logo vão ganhar uma família, uma bolsa, um bolso, a companhia de uma chave da correspondência. No mínimo, uma argolinha na ponta. Com sorte, um ganchinho na parede de uma casa onde bate sol e as pessoas são felizes.
Chaveiro bom é aquele que abre 24 horas pra dar um jeito na nossa vida. Pra porta trancada com a chave dentro porque alguém tá com a cabeça nas nuvens. Pra memória fraca da vovó que esqueceu de novo o segredo do cofre. Pra cópia da chave da casa da namorada. Pra quem mudou de endereço. Pra mão pesada que quebrou a chave ao meio. Pra colocar mais uma tranca e se sentir seguro. Pro filho caçula que é promovido a adulto e ganha a chave do portão. Pro casal que se separa e quer preservar seu espaço. Pra quando a gente chega na praia e trouxe tudo, menos a chave.
Troca segredos
Quem nunca bancou o chaveiro borrifando grafite em pó pra lubrificar a fechadura (e se sujou todo)? Ou então enfiou um arame no buraquinho da porta (e nada aconteceu)? Às vezes a nova cópia não abre de primeira, e a gente precisa voltar lá. Quantas vezes um chaveiro troca segredos com gente que nem conhece? Como não ficar hipnotizada vendo ele serrar os cantinhos da chave pra acertar as arestas que só ele vê?
Seguido a gente ouve falar sobre as profissões do futuro. E que muitas delas ainda nem foram inventadas. Acho superlegal pensar em modernidades que mudam a vida da gente! Mas não vamos esquecer das atividades que seguem fundamentais no dia a dia. O chaveiro pai que ensina seu ofício ao filho e o negócio continua por mais uma geração. Até que todas as fechaduras abram com o poder da mente, o chaveiro da esquina vai precisar da gente. E e nós, dele.