Noveleiros
A fórmula do sucesso de "Malhação - Viva a Diferença"
A temporada da novelinha chega ao fim hoje com muitos méritos
Malhação – Viva a Diferença chega ao fim hoje colecionando méritos. Foi uma das temporadas mais bem-sucedidas dos últimos anos, sucesso de público e crítica, além do pioneirismo na abordagem de certos temas, como autismo, assédio sexual, racismo e bullying.
E tem mais: foi a primeira vez, em 23 anos no ar, que a novelinha exibiu um romance entre duas meninas, com direito a beijo e final feliz. Precisa mais? Confira outros ingredientes desse sucesso e o que vai rolar no desfecho!
Amizade acima de tudo
Após várias temporadas focando em romances adolescentes e triângulos amorosos, Malhação inovou ao destacar a amizade como seu principal tema. Ao longo dos últimos meses, Tina (Ana Hikari), Benê (Daphne Bozaski), Keyla (Gabriela Medvedovski), Ellen (Heslaine Vieira) e Lica (Manoela Aliperti), as Five, enfrentaram altos e baixos, chegaram a passar um tempo brigadas, mas, no fim das contas, saíram fortalecidas e ainda mais unidas.
Quem diria que uma amizade que nasceu no metrô, em meio ao parto de Keyla, resistiria a tantos infortúnios? Não foi fácil. Afinal, são cinco meninas muito diferentes, com histórias de vida, origens e personalidades distintas.
Mas é justamente por isso que essa relação deu liga. Afinal, Viva a Diferença!
As protagonistas
Não é de hoje que Malhação é um celeiro de novos talentos. Na temporada que termina logo mais, o quinteto de protagonistas se destacou desde o primeiro capítulo e tem tudo para brilhar em futuros trabalhos.
— A mais inconstante das Five foi um desafio e tanto para Manoela Aliperti, que fez de Lica uma rebelde com muitas causas e histórias para contar. A jovem viveu e experimentou de tudo, mas termina a temporada mais humana e consciente de seu papel na sociedade.
— Logo nas cenas iniciais, a gaúcha Gabriela Medvedovski precisou encarar um intenso trabalho de parto, seguido pelos desafios de ser mãe adolescente. Keyla amadureceu desde o nascimento de Tonico, mas foi importante, acima de tudo, para manter as Five unidas. Afinal, foi graças a ela e a seu bebê que tudo começou.
— Na pele de Ellen, Heslaine Vieira mostrou que o preconceito dói fundo, mas não é motivo para desanimar. Pelo contrário. A garota enfrentou o bullying, venceu os obstáculos sociais e mostrou a mente brilhante que sempre foi.
— Ana Hikari passou por mudanças visíveis desde o início. Literalmente, pois Tina passou de adolescente oprimida pelos pais a estrela pop, com direito a um visual moderno e uma personalidade mais forte.
— O grande destaque fica por conta de Daphne Bozaski, incrível como Benê. Portadora de um grau leve de autismo (síndrome de Asperger), a personagem foi importante para levar ao público as dificuldades de vários jovens por aí. Apesar de suas limitações, Benê amou e foi amada, venceu a si própria e conquistou muitos fãs.
Assédio em debate
Assunto em pauta na vida real, o assédio foi mostrado em Malhação de forma sutil e esclarecedora. K1 (Talita Younan), sofreu com as investidas do padrasto, Roger (José Karini). Com o apoio das amigas e da diretora Dóris (Ana Flávia Cavalcanti), a menina tomou coragem de denunciar, e o homem acabou na cadeia.
Todos os ingredientes de um drama real foram mostrados, inclusive a "cegueira" da mãe, Kátia (Dig Dutra), que chegou a acusar a filha de ter se insinuado para o padrasto. Ainda bem que, ao menos na ficção, essa história teve um final feliz. E ainda serviu de alerta para que a vida real siga o mesmo caminho.
Sem rodeios, mas também evitando mostrar o óbvio, o tema foi bem elaborado e trouxe à tona um drama que atinge muitas jovens na vida real.
Questão racial
Não é preciso usar as palavras para ser racista. Foi isso que Malhação provou nas cenas de Ellen, que sofreu bullying na escola. Ao ser atacada com um "banho" de farinha, a garota percebeu logo que estava sendo vítima de um crime. O discurso dela contra o preconceito calou a boca dos agressores e de muita gente do outro lado da telinha.
Enquanto isso, outras tramas exageram no tom ao abordar o mesmo tema, com diálogos escancarados e desrespeitosos. Falta, para outros horários, a sutileza da novelinha adolescente.
Entre dois mundos
As diferenças entre escola pública e escola privada foram evidenciadas em Malhação, mas sem generalizações. Enquanto vários alunos intercambiavam entre o Cora Coralina e o Colégio Grupo, algumas questões foram destacadas.
O ensino público tem suas mazelas. Mas alguns profissionais, aqui representados pela engajada Dóris, acreditam no potencial de seus alunos e valorizam a história pessoal de cada um. A diretora conseguiu, por exemplo, ressocializar o jovem infrator Dogão (Giovanni Gallo), indo contra a maré e mostrando que não existem "casos perdidos".
Na outra ponta, o Grupo não era ambiente só de "patricinhas" e de "mauricinhos". Ellen, ao ganhar uma bolsa de estudos na escola particular, enfrentou o preconceito e provou que o importante, acima de origem social, cor da pele ou qualquer outra diferença, é o respeito pelo outro.
Lica fez o caminho oposto. De família rica, filha do dono do colégio, ela optou pela escola pública, onde teria voz para lutar pelo que acredita. No Cora, a menina também deu de cara com o preconceito, foi rotulada, chegou até a ser agredida. Mas lutou pela aceitação e pelo respeito.
Bandeira da diversidade
Relações homoafetivas não são mais novidade nas tramas da Globo. Mas, em Malhação, ainda eram um tabu.
Viva a Diferença quebrou essa barreira com a construção do amor de Lica e Samantha (Giovanna Grigio). As meninas se aproximaram de forma doce e verdadeira e caíram nas graças do público.
Com tamanha aceitação, rolaram até alguns selinhos, mas não deve ficar só nisso. O último capítulo deve ter um beijo de verdade do casalzinho, para a alegria dos fãs de "Limantha".
Em mais uma "aula" de tolerância, a cena em que Gabriel (Luis Galves) revela ao pai, Roney (Lúcio Mauro Filho), que é gay comoveu o público. Jogo aberto, diálogo e muito amor envolvidos em cada palavra.
Bullying
Quase todos os personagens da atual temporada foram vítimas de bullying, em suas mais diversas formas. Cor, classe social, peso ou comportamento: tudo foi motivo de chacota no ambiente escolar.
O mais importante foi mostrar que ninguém pode julgar. Aceitar o outro, sem rótulos, é sempre a melhor pedida.
Uma das maiores vítimas de bullying ao longo da temporada foi Benê. Com seu jeitinho todo especial, ela foi tachada de "esquisita" por alguns colegas e rejeitada até pelo pai. Foi em uma conversa com Cícero (Luciano Pontes) que a menina explicou o porquê de sua personalidade tão peculiar:
— Sou uma autista com habilidades para fazer muitas coisas. Não é uma doença. É só uma diferença humana.
É a "diferença humana" de Benê que faz dela um ser tão especial, capaz de amar incondicionalmente, mesmo não suportando ser tocada. Responsável pela união das amigas, até nas situações de conflito. Sensata e racional, quando tudo parecia um caos.
Quem dera todos fossem assim, "diferentes".
Os desfechos
— A temporada termina do mesmo jeito que começou: com um parto. Desta vez, é Dóris quem dá à luz. Em pleno incêndio no colégio, a diretora terá a ajuda de Keyla, Lica, Ellen, Tina e Benê, além de Roney. Dóris terá duas meninas, uma branca e outra negra, que receberão os nomes de Cora e Carolina, em homenagem às escritoras Cora Coralina (1889 – 1985) e Carolina Maria de Jesus (1914 – 1977).
— Ao que tudo indica, as Five terão seus respectivos finais felizes. O destaque fica por conta de Lica, que assumirá seu romance com Samantha e, juntas, viajarão pelo Brasil. Está previsto ainda um beijo "delicado e intenso" para o último capítulo.
— O destino de Keyla também está traçado. Após meses de indecisão, ela cairá nos braços de Tato (Matheus Abreu) e formará uma família com ele e o pequeno Tonico. Pra completar, Aldo (Claudio Jaborandy), pai de Tato, pede perdão ao filho depois de tudo o que aprontou e vai morar com eles.