Carnaval no Litoral
"O Rio Grande do Sul é parecido com a Bahia", diz Daniela Mercury, que faz show em Torres, neste sábado
Cantora, que se apresenta no Litoral Norte, fala da rotina pós-maratona de Carnaval e da invasão do funk na folia baiana
Na noite deste sábado, milhares de pessoas que estiverem pela região de Torres, no Litoral Norte, poderão conferir de perto o furacão que é Daniela Mercury. Aos 52 anos, uma das principais cantoras do país e precursora entre as mulheres do axé na Bahia promete um espetáculo que é a cara de musicalidade brasileira.
Mas Daniela é mais do que uma referência no cenário artístico nacional, dona de uma carreira brilhante, com números impressionantes. Ela se tornou, também, uma expressiva representante da comunidade homossexual, desde que assumiu o namoro com a jornalista Malu Verçosa - que adicionou o sobrenome Mercury ao seu. Entre em ritmo acelerado com a Rainha do Axé!
Vencidas as 33 horas em cima de um trio elétrico, entre os carnavais de Salvador e São Paulo, Daniela Mercury faz o primeiro show após uma pequena pausa depois da folia. Será em Torres, na noite deste sábado, em um evento gratuito e ao ar livre.
No encerramento do Circuito Verão Sesc de Esportes, a baiana promete trazer um pouco do Carnaval da Bahia para os gaúchos.
Incansável
No palco, ela relembra os primeiros sucessos da carreira, como Canto da Cidade e outras recentes do disco Vinil Virtual, lançado em 2015. Animação não vai faltar!
— Todo o meu trabalho é dançante, construído em cima de um trio elétrico, há mais de 20 anos. Então, não será diferente aí em Torres. Meu repertório é imenso, não consigo colocar todo em um show, mas tentarei — adianta Daniela, em entrevista, por telefone, ao Diário Gaúcho.
No espetáculo, ela divide o palco com nove músicos e quatro bailarinos, agita do começo ao fim, como faz questão de dizer, e faz uma grande mistura de ritmos. São canções com influências do reggae, do rock, do axé e do samba-rock, além de influências eletrônicas.
— O Brasil e sua música são muito ricos. E o meu show é um resumo disso. É muito dançante (risos). Quero atualizar o povo do Rio Grande do Sul sobre o show, estou com saudade! — avisa a baiana, que não se apresenta no Estado há oito anos.
Por isso, tamanha é a sua expectativa para este sábado:
— É um grande prazer fazer show aí. Acho muito divertido o fato de ser o encerramento de um circuito de verão. E, ainda, é um show gratuito, na beira do mar, tem um astral diferente.
Precursora e ícone do axé
Com 19 CDs e sete DVDs lançados, Daniela despontou como expoente do axé, ritmo baiano que tomou conta de boa parte do país. Hoje, os brasileiros cantam músicas de grandes nomes do gênero, como Claudia Leitte, Ivete Sangalo e Carlinhos Brown, graças ao seu pioneirismo.
Porém, no fim dos anos 80 e no início dos 90, o cenário era bem diferente. Com exceção de Caetano Veloso, Gilberto Gil e outros astros da música baiana mais ligados à MPB, o axé era pouco conhecido fora da Bahia.
Em 1989, esse contexto começou a mudar um pouco, quando o então pouco conhecido Luiz Caldas emplacou a canção-título da novela Tieta (1989). Porém, mesmo ganhando fama, o sucesso do cantor não se comparou ao fenômeno que estava por vir.
Próprios passos
Depois anos depois, em carreira solo, Daniela lança o disco que viria a consagrar não só a sua música, mas dar visibilidade ao ritmo: Swing da Cor estourou com a sua faixa-título. Antes, ela havia sido vocalista da banda Eva e backing vocal de Gilberto Gil.
Não satisfeita, em 1992, lançou o histórico Canto da Cidade, disco que também bombou a sua faixa-título. E, assim, inscreveu, definitivamente, o seu nome na lista das grandes cantoras do país.
_ Mas, antes disso tudo, eu tinha uma banda de pop rock, você sabia? Comecei a cantar com 15 anos, tenho mais de 35 anos de palco, não é pouco! _ gaba-se a cantora, 52 anos.
Parcerias
Sua trajetória seguiu elétrica, e a música, diversificada. Como em 1996, quando emplacou uma faixa romântica na trilha de O Rei do Gado, À Primeira Vista — outra que entrou para a sua lista de grandes sucessos.
Foi então que, em 2001, ela cantou no Rock in Rio e representou o Brasil na cerimônia de entrega do Prêmio Nobel da Paz ao dividir o palco com Paul McCartney.
A partir daí, Dani seguiu mesclando de tudo um pouco em seus lançamentos.
Em Eletrodoméstico - MTV ao Vivo, de 2003, gravou com a portuguesa Dulce Pontes e com a espanhola Rosário Flores.
Seu mais recente disco saiu em 2017. TRI ELETRO conta com três canções inéditas, Eletro Ben Dodô, Samba Presidente e Banzeiro.
Discurso pela diversidade
Em 2013, Dani se separou do publicitário italiano Marco Scabia, após três anos de união. Com ele, adotou Ana Isabel, seis anos, Alice, 14, e Márcia, 17, além de já ser mãe de Giovana, 29, e Gabriel, 30, do seu primeiro casamento, com Zalther Povoas. Naquele ano, anunciou que estava namorando a jornalista Malu Verçosa.
Desde lá, passou a ser vista como uma forte representante dos homossexuais. Em 2015, a capa do disco Vinil Virtual foi uma pose pra lá de sensual com o seu novo amor.
Em 2017, elas se casaram, em cima de um trio elétrico, é claro, na Bahia. Questionada sobre o fato de ter agregado um público homossexual ao seu show, depois que assumiu o seu relacionamento, Daniela dá uma resposta curiosa.
Rótulos não!
— Claro que eu sei que, depois de me casar com a Malu, eu ganhei a simpatia deste público. Mas eu acho que está se dando muito importância para isso, acho que não devem ser colocadas paredes no público — afirma Daniela, ampliando o seu pensamento para outras tribos que são seus fãs:
— Tem muito militante social no meu público, gente de MPB, de pop rock. Eu não sei quem é meu público... É diverso como a minha música.
"O Rio Grande do Sul é parecido com a Bahia"
Durante mais de 30 minutos de conversa, por telefone, de Salvador, na Bahia, antes de viajar para o Rio Grande do Sul, Daniela Mercury falou sobre os seus momentos de descanso após a folia. E defendeu o axé como um dos símbolos do Carnaval no país.
Depois de uma maratona nos carnavais de Salvador e São Paulo, que tempo tu tiras para descansar?
Em geral, eu descanso no fim do ano, mas não tenho uma programação definida. Foram 33 horas em cima de trios elétricos, não é pouco (risos)! Agora, por exemplo, depois do show que farei aí, faço dois shows em Miami, nos Estados Unidos. Era uma programação que já estava definida antes.
Recentemente, jornais de São Paulo noticiaram uma suposta "invasão" do funk no Carnaval da Bahia e uma queda do axé. No papel de uma das protagonistas desta festa, como enxergas isso?
Eu acho que a percepção de alguns jornais não corresponde à realidade. O que eu noto, historicamente, é que a Bahia sempre acolheu todos os gêneros, como acolheu muito bem a Pabllo (Vittar), que se apresentou aqui, neste ano. Os Novos Baianos fazem o som deles, a Turma do Pagode, o deles, o (Wesley) Safadão, o dele, e todos são acolhidos na Bahia, Mas o axé é o grande gênero do Carnaval, sem dúvida! Sem axé, não existe Carnaval da Bahia nem carnaval do Brasil.
Em 2002, tu estiveste no Planeta Atlântida, trazendo um ritmo diferente ao festival. Qual é a tua relação com a música gaúcha?
Sabe que eu acho o Rio Grande do Sul parecido com a Bahia? É um Estado cosmopolita. Acho lindo isso, o vanerão é uma música sensacional! Sempre admirei muito a música do Renato Borghetti, é um cara que levou a música gaúcha para a Europa. E, claro, a Elis Regina (1945 - 1982), né? Que cantou tudo o que podia cantar.
Tu és considerada a Rainha do Axé, e o Luiz Caldas, o Rei. Como vês isso? Quais são as diferenças entre vocês?
Sou a rainha, mas sempre me arrisquei, sou inquieta nos shows e na minha carreira. Eu sou o cavalo dos meus próprios santos, minha música reflete quem eu sou. Acredito que ganhei esse título porque foi comigo que o axé ganhou corpo, identidade. E eu flerto mais com o samba e com o reggae. Luiz se destacou fazendo uma mistura de frevo e ritmos caribenhos.
Serviço do show:
— O quê: show de Daniela Mercury
— Quando: neste sábado, a partir das 21h
— Onde: Praça da Sociedade Amigos da Praia de Torres, em Torres