Noveleiros
"Orgulho e Paixão" vai deixar saudade
Novela das seis termina hoje repleta de finais felizes
É difícil dizer adeus a uma boa trama, ainda mais quando a história mexe com os sentimentos do público, acirra torcidas e discussões, mostra temas importantes a serem discutidos e enaltece o amor acima de tudo. Autor de Orgulho e Paixão (RBS TV, 18h), que termina hoje, Marcos Bernstein tomou como ponto de partida várias obras da escritora britânica Jane Austen (1775 – 1817). Mas foi além: criou personagens marcantes, carismáticos e que, sem dúvida, ficarão na memória afetiva do público por um bom tempo. Mas quais foram os principais ingredientes desta deliciosa novela das seis? Muito mais do que orgulho e paixão, com certeza.
Orgulho de ser mulher
Apesar de ser uma trama ambientada em 1910, muitas cenas e diálogos de Orgulho e Paixão poderiam, facilmente, se passar no século 21. O autor, Marcos Bernstein, destaca esta mistura de história de época com assuntos da modernidade:
— Orgulho e Paixão é uma novela que trouxe uma característica muito marcante de apresentar temas atuais da sociedade com muita sutileza e delicadeza. Trazer isto para a tela com leveza e naturalidade é muito interessante.
Alguns personagens estão muito à frente de seu tempo, como é o caso de Elisabeta (Nathalia Dill). Enquanto a mãe, Ofélia (Vera Holtz), tinha como principal objetivo na vida casar as cinco filhas, a primogênita tinha outros planos. Mas nem Elisa imaginava que seria atropelada por um amor mais forte do que tudo, um sentimento que a fez rever suas metas e abrir mão do orgulho e do preconceito que trazia arraigados dentro de si. No meio do caminho, havia um Mister Darcy (Thiago Lacerda), um homem à moda antiga, de família inglesa tradicional, que jamais imaginou se envolver com um espírito livre como Elisabeta.
Inspiração
Aos poucos, os dois foram modificando as suas formas de pensar e agir, superaram os obstáculos, que, muitas vezes, eram eles mesmos. Assim, a mocinha descobriu que o amor poderia fazer parte de seus sonhos de liberdade. E o jovem sisudo encontrou em um sentimento arrebatador a pitada de doçura que faltava em sua vida.
Elisabeta era uma feminista, se a palavra existisse em sua época. Ao lutar pelo direito de ser mais do que esposa, bela, recatada e do lar, ela incentivou outras personagens a se livrarem das amarras que as convenções sociais lhes impunham. Ema (Agatha Moreira) descobriu que poderia ter uma carreira e, ao mesmo tempo, ser feliz com o seu marido “suculento”, Ernesto (Rodrigo Simas).
Jane (Pâmela Tomé) enfrentou as dificuldades financeiras ao lado de Camilo (Maurício Destri), complementando a renda familiar como podia. As mocinhas deram um show de sororidade (união entre as mulheres) — se esta palavra também existisse na época — apoiaram-se, compraram brigas decisivas e mostraram que são o verdadeiro sexo forte.
Paixão pela liberdade
Falando nisto, por que algumas tarefas, naquele tempo, eram privilégios do sexo masculino? Não era permitido às mulheres, por exemplo, andar de motocicleta. Mas a jovem Mariana (Chandelly Braz) não se conformou com esta proibição. Se só homens poderiam correr sobre duas rodas, ela criou Mário, personagem no qual se transformava ao vestir roupas masculinas, usar cabelo curto e bigode.
Não entremos no mérito de que a fantasia enganou todo mundo, até mesmo a família de Mariana, que não a percebeu por baixo do disfarce — entra aqui a licença poética da ficção. O que importa é a mensagem da destemida jovem.
Mariana (ou Mário, no caso) se tornou um exímio piloto, desbancou os machões nas corridas e, quando estava no auge, resolveu se revelar.
Sem medo
Os homens ficaram estarrecidos, expulsaram a moça e o seu noivo, o Coronel Brandão (Malvino Salvador), que, a esta altura, já sabia e apoiava a loucura da amada. E disseram vários impropérios à moça que só queria ser livre em cima de uma moto.
O vilão Xavier (Ricardo Tozzi) foi ainda mais cruel. Sentindo-se humilhado pela situação criada por uma mulher, sequestrou Mariana e cortou à força seus longos cabelos. A violência deixou a jovem em crise por vários capítulos, mas, com o apoio das amigas, irmãs e de Brandão, superou e exibiu o novo visual sem medo.
Amores à flor da pele
A novela ficou marcada por ser a campeã de "shippagem" (quando o público cria um apelido carinhoso para um casal): #Erma (Ernesto e Ema), #Aurieta (Aurélio e Julieta), #Darlisa (Darcy e Elisabeta), #Rocília (Rômulo e Cecília), #Jamilo (Jane e Camilo) e #Brandiana (Brandão e Mariana). Mas um deles fez história na teledramaturgia. Luccino (Juliano Laham) e Otávio (Pedro Henrique Müller), ou #Lutávio, para os fãs, protagonizaram o primeiro beijo gay do horário das 18h.
Não há tabu que resista a uma história bem contada. Intérprete de Otávio, Pedro Henrique Müller comemora o sucesso do feito:
— A novela é uma celebração desta diversidade dos afetos.
Traumas superados
O drama da violência contra a mulher foi mostrado de forma delicada e profunda. Julieta (Gabriela Duarte) trazia dentro de si as marcas de um casamento abusivo, mas só na reta final da trama as cicatrizes começaram a se curar.
O primeiro passo foi abrir o coração para Elisabeta. Depois, para Aurélio (Marcelo Faria) e, por fim, para o filho, Camilo. Livre, amada e feliz, Julieta mudou até o visual.
Substituiu a indumentária preta por outras cores, casou-se de vermelho e, no último capítulo, surgirá toda de branco, confirmando que está curada. Com um pé na vilania até metade da trama, a Rainha do Café foi salva pelo amor e pela descoberta de que todos merecem uma chance para ser feliz.
Sucesso
Resumindo os motivos que fizeram de Orgulho e Paixão uma daquelas tramas que vai deixar saudade, podemos utilizar o adjetivo favorito da baronesinha Ema: a novela tinha um texto "suculento". A cada diálogo, o público parava para refletir sobre temas que, quase sempre, passam batidos na correria do dia a dia.
Elisabeta, Ema, Luccino, Darcy e tantos personagens deram voz a assuntos poucas vezes retratados no mais adocicado dos horários. Novela das seis com potencial para horário nobre, isto sim.
Desfechos
— As irmãs Benedito enchem o lar de crianças.
— Lady Margareth (Natália do Vale) tenta acabar com os seus inimigos, mas Elisabeta arrisca a própria vida para impedir uma tragédia. Lady bebe veneno e morre.
— Ernesto vira prefeito.
— Luccino e Otávio acham uma forma de ficarem juntos sem chocar a sociedade.
— Passam-se cinco anos. Elisabeta celebra o sucesso do seu livro, Orgulho e Paixão, e o amor ao lado de Darcy.
Da novela para os livros
Ficou curioso e quer conhecer mais os livros que inspiraram a novela? São os romances de Jane Austen (1775 – 1817) Orgulho e Preconceito, Razão e Sensibilidade, Mansfield Park, A Abadia de Northanger, Emma e Lady Susan. Vale a pena conferir!