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Veja quem são os poucos gaúchos que peleiam com artistas nacionais no ranking das mais pedidas

 Entre as 200 mais tocadas na Capital, só 12 são de artistas daqui

01/09/2018 - 12h00min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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A partir deste sábado (1º), entramos no chamado mês farroupilha, quando o gaúcho comemora todo o seu orgulho de ter nascido no Rio Grande do Sul, celebra os feitos e exalta sua música, sua cultura e seus costumes. Porém, para um povo que tanto exalta o seu Estado, os rankings de músicas mais tocadas em Porto Alegre, da rádio 92 (92.1 FM) e da Crowley, trazem dados que despertam nossa atenção. 

Na Crowley, empresa que monitora a execução das músicas nas rádios do país, entre as 200 mais tocadas na Capital, só 12 são de artistas daqui – pouco mais de 5%. Na lista da 92, ao longo do mês de agosto, a partir de pedidos de ouvintes via WhatsApp, apenas Vitor Kley, Louca Sedução e Rodrigo Ferrari se revezaram entre as 15 mais executadas na emissora, em listas divulgadas semanalmente, no Diário Gaúcho. 

Conheça quem são os gaúchos mais ouvidos pelos conterrâneos. E, afinal, por que os músicos locais não tocam tanto nas rádios daqui? 

"Faz tempo que não vejo uma galera nova daqui surgindo", diz Vitor Kley

Félix Zucco / Agencia RBS
Vitor é destaque com o Sol

Um dos fenômenos da música nacional, o gaúcho Vitor Kley, 24 anos, é o primeiro da terrinha a aparecer na lista das 200 canções mais tocadas em rádios, em Porto Alegre, segundo a Crowley (confira mais detalhes no quadro). E, claro, a canção que o leva a tal posto é O Sol, que, neste recorte local, aparece em quarto lugar e, no nacional, em 24º, entre todos os gêneros. 

Orgulhoso do feito, o músico reconhece que é gratificante ser lembrado pelos gaúchos. Vitor nasceu em Porto Alegre, foi criado em Novo Hamburgo e saiu do Rio Grande do Sul no ano de 2006. Hoje, mora na capital paulista.

Fenômeno nacional, ele comemora que a sua música também está bem em outros lugares do país. 

— O sucesso de O Sol é uma coisa mais geral, sabe? Graças a Deus. Esses dias, estava na ponta das mais tocadas no Rio de Janeiro e em São Paulo. Mas é muito legal estar nesta lista, é gratificante ser lembrado pelos gaúchos, tenho muito orgulho de ser gaúcho — declara o cantor, que esteve em Porto Alegre, nesta semana.

Firme na proposta

Para que a gauchada volte a aparecer nestes rankings, ainda mais entre o público daqui, Vitor acredita que os músicos têm que preservar, sim, a sua identidade, independentemente do gênero que adotem.

— Eu lembro de uma época muito boa, quando vários nomes daqui estavam em alta, como Papas da Língua, Armando (Armandinho), Reação em Cadeia e Cachorro Grande. Esses dias, até comentei que faz tempo que não vejo uma galera nova daqui surgindo, com uma identidade forte daqui — avalia Vitor.

Na opinião do músico, um ingrediente é fundamental para virar este jogo.

— É preciso insistir, não dá pra o cara começar num gênero, ficar um tempo, não atingir o que esperava e trocar. Tem que insistir e persistir. O público tem que ver a tua verdade. Tipo nestes grupos que citei, os caras eram muito "eles", com maneira de escrever e cantar muito características aqui do Sul, independente se for rock, reggae ou sertanejo — comenta.  

Autoral desde sempre

Com música nas listas da Crowley e da 92, Rodrigo Ferrari aparece em 47º lugar, com Test Drive, na versão com o Grupo do Bola, e na solo, em 49º lugar. Ele celebra o fato de sempre ter apostado em música autoral, mesmo no começo da carreira, quando é natural que se faça mais covers.

Robinson Estrásulas / Agencia RBS
Rodrigo começou sua carreira já apostando no som autoral

— Há uns sete anos, lancei a minha carreira com música autoral. Fiz toda uma preparação, mostrei para quem era do meio, pedi muita opinião. Colho os frutos hoje — diz.

Para o sertanejo, há dois caminhos: cover ou autoral.

— Hoje, prevalece o cover, a casa noturna quer que o cara agite, e não precisa ter música própria. Porém, para quem quer fazer show em eventos grandes e ter carreira a longo prazo, é fundamental ter canção própria — explica o artista, 33 anos. 

Fundamentais

Entre as dicas que Rodrigo dá, além de investir na música autoral, está o relacionamento com os fãs. São eles os responsáveis por pedir a música do artista nas rádios, por assistir aos clipes e acessar os canais, no caso das plataformas digitais. 

Mais uma vez, falar a "sua verdade", mantra repetido por muitos artistas, é apontado como essencial.

— Tu tem que falar a tua verdade, ninguém mente para tanta gente durante tanto tempo. Se não for a tua verdade, um dia, tu é desmascarado — afirma. 

Talentos daqui merecem reconhecimento

Gaby Christo, que aparece em 56º lugar na lista da Crowley, com a faixa Bandeira Branca, lançada na metade de agosto, tem um discurso forte quando o assunto é o pequeno percentual de gaúchos nas mais tocadas justamente aqui.

Tony Santos / Divulgação
Gaby defende o reconhecimento para a gauchada

— Fico imensamente grata por fazer parte desta lista. Mas, por outro lado, acho que ainda temos muito o que conquistar para aumentar o número de gaúchos. Temos muitos artistas talentosos, e este número é a prova de que falta valorizarmos mais nossos artistas locais — diz  a sertaneja, 29 anos.

Receita

Gaby que, no começo do ano, assinou contrato com a Midas Music, selo do bambambã Rick Bonadio, acredita que uma das receitas para ser lembrada pela gauchada é apostar nas músicas autorais:

— Faz um tempo que escolhi direcionar a minha carreira para o trabalho autoral, deixando os covers um pouco de lado. E acredito na escolha de um bom repertório, com músicas com que as pessoas se identifiquem.

Aposta nas rádios e preocupação

Em 34º lugar com a faixa Otário - empatado com nomes como Maiara & Maraisa (Quem Ensinou Fui Eu) o Louca Sedução é o único grupo de pagode gaúcho que integra a lista, além de ser nome frequente, no mês de agosto, na lista da rádio 92. Lelê, vocalista do grupo, 39 anos, faz um diagnóstico interessante sobre o fenômeno.

Divulgação / Divulgação
Pagodeiros são únicos representantes do gênero em lista

— Muitos grupos deixaram de lado um pouco as rádios, e passaram a investir mais na internet. Antes, os grupos "jogavam" qualquer coisa na rede e tinham um bom resultado. Hoje, não é mais assim, pois o público da internet está mais seletivo. E o Louca Sedução sempre foi um grupo que deu atenção ao público das rádios — constata Lelê.

Mesmo com o avanço da tecnologia, o pagodeiro constata que as rádios estão passando por um processo de renovação, acompanhando as tendências de seu público.

— Para o Louca, isso está sendo muito positivo. Rádio ainda é onde tudo acontece, o cara escuta direto, os aplicativos ainda tem algumas limitações. Porém, mesmo com a felicidade de estarmos em duas listas importantes como essas, vemos o cenário com preocupação. São poucos grupos entre os mais tocados, principalmente de samba e rock, dois gêneros que sempre foram muito fortes aqui no Rio Grande do Sul. 

Concorrência de fora complica

Depois de Vitor Kley, quem melhor aparece entre os gaúchos mais tocados em Porto Alegre é a dupla sertaneja Rodrigo & Callegari, com a faixa Não Sou Ladrão, que aparece na 22ª posição, empatado com nomes como Gusttavo Lima (Apelido Carinhoso). Fazendo coro aos demais integrantes da lista, eles mostram gratidão aos gaúchos por estarem na lista, mas fazem o alerta.

Divulgação / Divulgação
Rodrigo & Callegari, nos palcos

— O cenário para os artistas do Estado acaba se tornando mais complicado, por conta de uma grande concorrência de artistas nacionais, que tem grandes escritórios, estrutura de divulgação e investimentos altos em sua carreira — afirma Rodrigo, 31 anos.

Os parceiros de dupla são só agradecimentos aos fãs e afirmam que a sintonia entre admiradores e artistas é a sintonia de tudo.

— Esses números só aumentam a nossa responsabilidade de sempre apresentar um trabalho melhor para os nossos fãs. Essa música nos trouxe números expressivos. Neste mês, lançaremos uma nova canção, Brincadeirinha Boba — adianta Callegari, 28.

Os números

— O padrão de 200 músicas mais tocadas é feito pela Crowley deste 1998 para Capitais, exceto Rio de Janeiro e São Paulo, que tem o padrão de 300 músicas tocadas. 

— Já para rankings nacionais, o padrão é ranquear as 100 mais tocadas. 

— Semanalmente, a rádio 92 faz seu ranking, baseado nos pedidos dos ouvintes, via WhatsApp. No mais recente, o primeiro era a dupla Zé Neto e Cristiano, com Mulher Maravilha.

— Em Porto Alegre, entre todos os gêneros, de acordo com levantamento mais recente da Crowley, a música mais tocada em Agosto foi de Marília Mendonça, o hit Ausência. 

Os locais no ranking de Porto Alegre

/// 4º – Vitor Kley, O Sol

/// 22º – Rodrigo & Callegari, Não Sou Ladrão

/// 29º – Gabriel Farias, Pais

/// 34º – Louca Sedução, Otário

/// 47º – Lucas & Felipe, Identidade, Digital e Beijo, e Rodrigo Ferrari (com grupo do Bola), Test Drive

/// 49º – Rodrigo Ferrari, Test Drive

/// 53º – Claus & Vanessa, Alma Gêmea

/// 56º – Gaby Christo, Bandeira Branca. E Sandro & Cícero, com Nosso Love É Top

/// 57º – Tchê Chaleira, Te Fazer o Bem

/// 58º – Cidadão Quem, O Amanhã Colorido


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