Nas paradas
Conheça quatro vozes que pedem passagem na música sertaneja
Um dos destaques são os gaúchos Júnior & Cézar, do hit Golzinho Quadrado
Ano após ano, o sertanejo avança seus "tentáculos" no cenário nacional. Dos dias 17 a 21 de junho, no mais recente levantamento da Crowley (que monitora a execução de músicas em rádios), das 20 primeiras canções da lista das 100 mais tocadas entre todos os gêneros, apenas Wesley Safadão e Ferrugem não são do gênero dominante.
E o que mais chama atenção nessa liderança é que não são apenas sertanejos bombados, já muito populares, que aparecem no ranking. Com um poder de renovação incrível, semanalmente, aparecem nomes menos conhecidos do grande público, mas com carreiras que começam a ganhar fãs e as rádios. Suas músicas em destaque nas paradas já são cantadas de cor por fãs em festivais pelos quatro cantos do país. Conheça os talentos por trás das vozes em cinco novas apostas do gênero nesse Brasil sertanejo.
Made In Rio Grande do Sul
Únicos gaúchos, além do pop Vitor Kley (em 69º) e Luísa Sonza (91º) com hit entre as 100 músicas mais tocadas no país, na lista da Crowley, Júnior & Cézar comemoram o feito após 11 anos na luta. A responsável pelo destaque da dupla é a faixa Golzinho Quadrado em 49º lugar, à frente de nomes como Ed Sheeran (50º). Com mais de 12 milhões de visualizações no YouTube, a canção remete ao cotidiano das pessoas, segundo Cézar, 27 anos, em entrevista por telefone, de São Paulo, onde os irmãos moram desde o começo de 2018.
Durante o papo, para sustentar a sua tese, ele lembra de um trecho da música: "Como é que eu deixo ela de lado, se ela é do tempo do Golzinho quadrado?". A referência é feita aos tempos de penúria do personagem do vídeo, que tinha um dos modelos mais antigos do carro, chamado de Golzinho quadrado. Mesmo na pindaíba, o sujeito do hit contava com a amada ao seu lado.
— A música pegou porque valoriza as pessoas que estão com a gente nos momentos difíceis — reflete Cézar, natural de Constantina, na região noroeste do Rio Grande do Sul.
Já Júnior, 29 anos, nasceu em Liberato Salzano, na mesma região. Desde cedo, os gaúchos conviviam com música em casa, pois o pai, Sadi, já falecido, animava o ambiente tocando gaita. Ainda morando em solo gaúcho, a dupla batalhou por 10 anos, fazendo shows em bares e casas noturnas.
Mundo afora
Em 2015, porém, eles começaram a notar que novos ventos sopravam a seu favor, quando tiveram a composição Eu Só Quero Você gravada por Henrique &Diego.
— Nosso sonho sempre foi muito grande, e a gente sabia que, na música, ou você é oito, ou é 80. Não consegue viver disso se não ganhar muito destaque. Viemos para São Paulo para ter uma aproximação com o mercado nacional — diz Cézar.
O destaque nacional chegou para os gaúchos em março, quando lançaram o clipe de Golzinho Quadrado. A música faz parte do DVD Duas Vidas e um Sonho, gravado em agosto de 2018, com produção de Eduardo Pepato, que já assinou trabalhos de nomes como Marília Mendonça.
Atualmente, a dupla se voltou para regiões do país como o interior de São Paulo, de Minas Gerais e do Mato Grosso do Sul. Bem no começo deste mês, eles fizeram uma turnê em Singapura, na Ásia. Mas não esquecem de sua terra natal. E ainda se apresentam por aqui.
— Seguimos com agenda aí! Nosso último show foi no dia 8 de junho, na cidade de Sarandi — afirma Cézar.
A dupla:
— Júnior, 29 anos, & Cézar, 27, gaúchos
— Tempo de carreira: 11 anos
— Principais canções: Golzinho Quadrado, 49º lugar na lista da Crowley, chegou a ficar em 12º lugar no ranking do Top 50 do Spotify no país, há duas semanas. Outro destaque é Das Duas Uma, com 9 milhões de visualizações no YouTube.
— Média de shows: de oito a 10 por mês.
Conexão direta Brasília-Minas
A história dos amigos Diego, 33 anos, natural de Brasília, e Victor Hugo, 30, de Uberlândia, Minas Gerais, se cruzou em 2010, na cidade natal de Victor Hugo. Ali, começava a dupla, após uma vitoriosa participação em um festival de música sertaneja, promovido por uma rádio local.
A primeira canção autoral, Calafrio, foi lançada em 2014, e foi gravada por duplas como Henrique & Juliano. A partir dali, o trabalho deles começou a ficar conhecido no centro do país. Em 2017, os amigos gravaram o primeiro DVD. Porém, foi em novembro de 2018, quando lançou a música Infarto que Diego & Victor Hugo mudaram de patamar.
Dá licença...
— Ali, com certeza, foi o nosso salto! Foi quando nós ficamos mais conhecidos nacionalmente. Foi uma das faixas mais tocadas nas rádios do Brasil em janeiro deste ano (2019) — assegura Diego, por e-mail.
Em janeiro, também, veio o segundo DVD, Ao Vivo em Brasília, com participações de Marília Mendonça, Zé Neto & Cristiano e Dilsinho. Uma das faixas mais estouradas é Do Copo Eu Vim, quarta colocada em toda a lista da Crowley.
— As coisas acontecem no tempo certo. Um dos nossos diferenciais é que eu vim do forró, e Diego, do pagode. É uma mescla de estilos — define Victor Hugo, hoje sertanejo.
Com vocês:
— Diego, 33 anos, de Brasília, & Victor Hugo, 30 anos, de Uberlândia, Minas Gerais
— Tempo de carreira: nove anos
— Principais canções: Infarto e Do Copo Eu Vim(quarta colocada na lista da Crowley).
— Média de shows: 20 por mês.
De "afinadinho" para parcerias certeiras
Natural de Varginha, no interior de Minas Gerais, Danilo Bottrel, 30 anos, começou a sua relação com a música bem cedo, aos seis anos. Na época, ganhava elogios de amigos e vizinhos quando cantava o hit Um Sonhador, de Leandro (1961 - 1998) & Leonardo.
— O pessoal falava que eu era afinadinho — recorda Danilo, em entrevista por telefone, a Retratos.
Ainda na infância, aos oito anos, formou dupla com o irmão, Diogo, com direito a turnê pelos Estados Unidos. Na época, por uma decisão da família, os guris terminaram a função para priorizar os estudos.
Porém, Danilo nunca deixou de cantar e, em 2008, quando se mudou para Belo Horizonte, resolveu tentar a sorte na carreira solo. Rapidamente, lançou o primeiro disco, Dose Perfeita, que tinha três faixas autorais: Assunto Delicado e Você Vai Precisar de Mim, além da faixa-título do trabalho.
Vem pra Porto Alegre!
Aos poucos, Danilo, que, atualmente, reside em Goiânia, um dos berços do sertanejo no país, ganhou destaque no gênero nas regiões Sudeste e Centro-Oeste. Porém, ele acredita que o salto de sua carreira aconteceu em fevereiro deste ano.
Foi quando gravou o álbum Ao Vivo em Escarpas do Lago, registrado no balneário Escarpas do Lago, na cidade de Capitólio, em Minas, com as participações de nomes como Fernando, da dupla som Sorocaba, Roberta Miranda e Gusttavo Lima.
No disco, uma das principais faixas é Foi, Né (em sexto lugar), que aparece no levantamento da Crowley à frente de canções de cantoras renomadas como Simone & Simaria e Anitta.
— Depois desse trabalho, notei que tive mais demanda no pedido por shows, o pessoal tem gostado das minhas músicas. E comecei a fazer mais apresentações fora de Minas Gerais — comemora Danilo, que participou, no começo deste mês, do Pedro Leopoldo Rodeio Show, um dos maiores eventos do gênero em Minas Gerais, com público superior a 30 mil pessoas.
Em solo gaúcho, fez apenas uma apresentação até hoje. Foi em Pelotas, em abril, em um evento privado:
— Mas Porto Alegre está "no radar". Quero muito cantar aí!
Com vocês:
— Danilo Bottrel, mineiro, 30 anos
— Tempo de carreira: 11 anos em fase solo
— Principais canções: Foi, Né, sexta colocada na Crowley e Por Amar Demais, que tem participação especial de João Bosco & Vinicius e e Jornal da Cidade.
— Média de shows: de oito a 10 por mês.
Baianos sertanejos com origens ciganas
Da Bahia, vem a dupla Edy Britto, 32 anos, e Samuel, 29. Aliás, a terra do axé, nos últimos anos, ganhou um representante de peso na música sertaneja: as irmãs Simone & Simaria.
Atentos ao mercado, os irmãos, de origem cigana, tomaram o mesmo caminho de Danilo e moram em Goiânia. Para completar, ingressaram no casting da Talismã Music, escritório do cantor Leonardo. Os irmãos, que cantam juntos desde a adolescência, formaram a dupla em 2013 e passaram alguns perrengues antes de começarem a se estabilizar na carreira.
Em 2014, após deixar a família e rumar para Goiânia, vieram as dificuldades. Mas, na época, por intermédio de um radialista local, eles chegaram até Rick, da dupla Rick & Renner. Impressionado com os irmãos, o cantor produziu e gravou o primeiro clipe de Edy Britto e Samuel, Ponto G, em 2014.
Hoje, o vídeo tem 17 milhões de visualizações no YouTube.
— O clipe foi uma espécie de ponto de partida para que a nossa música chegasse nas rádios. De lá pra cá, viemos trabalhando o repertório e mostrando o nosso estilo. Mas, sem dúvida, o momento atual é um dos melhores da nossa carreira. Depois de tanto tempo na estrada, lutando para realizar o nosso sonho que sempre foi a música, estamos colhendo os frutos e felizes demais — afirma Edy em entrevista, por e-mail, ao Diário Gaúcho.
Laços fortes
Já o mais recente trabalho, o DVD Edy Britto e Samuel - Ao Vivo em Belo Horizonte, lançado em março, contou com a participação do padrinho da dupla, Eduardo Costa. A faixa que emplacou foi Então Fica Assim (13ª colocada na Crowley), gravada em parceria, justamente, com o mineiro. O vídeo do hit já tem 4 milhões de visualizações no YouTube.
— Hoje, somos motivo de orgulho para o nosso povo. Os companheiros que conviviam com a gente nos acampamentos dos ciganos chegaram a patrocinar algumas gravações amadoras, para poder ouvir as nossas músicas durante as viagens. Nascemos na Bahia, somos de família de ciganos e sempre fomos apaixonados por sertanejo. Toda essa carga cultural, a gente acaba transmitindo pela nossa música — reconhece Edy.
Conheça:
— Edy Britto, 32 anos, e Samuel, 29 anos, baianos.
— Tempo de carreira: seis anos de dupla
— Principais canções: Então Fica Assim, 13ª colocada na lista da Crowley, e Ponto G.
— Média de shows: a reportagem entrou em contato com a Talismã Music, mas não obteve a média de shows.