Noveleiros
Filhos desnaturados: veja os ingratos das novelas e sinais de alerta aos pais da vida real
As principais novelas que estão no ar mostram que amar, cuidar e proteger nem sempre forma pessoas de bem
"Filhos... Filhos? / Melhor não tê-los! / Mas se não os temos / Como sabê-los?". As palavras do poeta Vinicius de Moraes (1913 – 1980) traduzem perfeitamente as angústias e dúvidas de muitas mães e pais. Afinal, quem poderá adivinhar se aquele bebê fofo irá trazer mais alegrias ou sofrimentos? Na ficção — assim como na realidade —, mães amorosas se deparam com filhos que são o oposto de suas expectativas. Aproveitando que as três principais novelas da Globo trazem personagens que só dão dor de cabeça às suas genitoras, veja sinais que mostram que o filho está se desvirtuando do caminho desde a infância. Afinal, o que mais essas mães se perguntam é: "Onde foi que eu errei?".
Dona da maldade
A Dona do Pedaço começou há pouco menos de um mês, mas o telespectador já percebeu que Josiane (Agatha Moreira) não é flor que se cheire. Maria da Paz (Juliana Paes) jura que tem a melhor filha do mundo, apesar de ver, mas não enxergar.
— Percebo nas redes sociais que o público já entendeu que dali boa coisa não sai. Walcyr (Carrasco, autor) me deu um pacote completo: vilã que maltrata a própria mãe. Já estou pronta para os xingamentos que estão por vir — diverte-se Agatha em papo com Retratos da Fama.
As palavras duras da jovem batem fundo no coração da mamy poderosa. Mas basta um pedido de desculpas mais falso do que nota de R$ 3 para a boleira se derreter pela filhota.
— O público sempre fica esperando uma justificativa para as atitudes dos vilões, mas, durante a minha pesquisa, deparei com casos em que essa justificativa não existe. Às vezes, a pessoa simplesmente nasce assim, com essa índole, com esse desvio de caráter. Existem muitas pessoas que não são capazes de sentir culpa nem empatia — avalia a intérprete de Jô.
Golpe armado
Não basta explorar Maria da Paz e exigir cada vez mais dinheiro para se tornar uma influenciadora digital. Aliada a Régis (Reynaldo Gianecchini), a vilãzinha planeja um golpe contra a empresária.
— Não vejo erros na educação que Maria deu. Ela mimou muito a Josiane, mas não é desculpa para as maldades que faz com a mãe — opina Agatha.
Ela será capaz até de separar a mãe do próprio pai, Amadeu (Marcos Palmeira). Josiane está mais para "Falsiane".
Vale Tudo — o retorno
Assim como a maioria dos vilões da teledramaturgia, Jô é movida a ambição em A Dona do Pedaço. A origem humilde da mãe é uma pedra no caminho da garota, e suas atitudes lembram muito as de Maria de Fátima (Gloria Pires) em Vale Tudo (1988).
Na época, a filha da sofrida Raquel (Regina Duarte) chocou o país pela forma cruel como tratava a mãe. Ela fingiu que não conhecia a genitora ao vê-la vendendo sanduíche na praia, ajudou a separar Raquel do seu amado, Ivan (Antonio Fagundes), e chegou ao ponto de vender a casa da família, único bem que possuíam. Voltando à novela atual das nove, Jô deve aprontar muito contra Maria da Paz. Não duvidem se ela superar as maldades de Maria de Fátima e chegar ao topo da lista dos filhos mais ingratos da telinha.
Guerreiro que foge à luta
"Pau que nasce torto nunca se endireita", já diria o ditado. Em Verão 90, desde criança, Jerônimo (Jesuíta Barbosa) mentia, fugia de casa, trapaceava na escola e dava pequenos golpes. O oposto do mano problemático, João (Rafael Vitti) é amoroso e incapaz de fazer mal a uma mosca. Resta à mãezona da dupla, Janaína (Dira Paes), questionar: "Onde foi que eu errei?". Pilantra de carteirinha, Jerônimo — ou Rojê, como prefere ser chamado — subiu na vida às custas da desgraça do irmão, que passou anos na cadeia por um crime que não cometeu.
Jana sofre por não ter conseguido "endireitar" o filho problemático, mas vira e mexe, seu coração fala mais alto, e ela dá outra chance ao rapaz, para logo depois cair em um novo golpe e sofrer mais uma decepção. Mas mãe que é mãe sempre perdoa, por pior que seja a cria.
Jana sofre por não ter conseguido "endireitar" o filho problemático, mas vira e mexe, seu coração fala mais alto, e ela dá outra chance ao rapaz para, pouco tempo depois, cair em um novo golpe e sofrer mais uma decepção. Mas mãe que é mãe sempre perdoa, por pior que seja a cria.
Desafio e gratidão
Jesuíta Barbosa contou a Retratos da Fama que não é nada fácil imprimir realismo às maldades de Jerônimo:
— É muito estranho, uma relação que vai para um lugar difícil. É um absurdo quando duas pessoas que são mãe e filho não dão certo. Mas, por outro lado, também é um desafio.
Ainda mais que o ator tem um carinho de filho pela colega de cena.
— A Dira Paes tem um lugar maternal. Tenho um grande afeto por ela. Desde pequeno, conheço a Dira, do cinema ainda. Muito do que eu sou nessa novela é por ela. Sou muito feliz com essa oportunidade de dividir e aprender muito com a Dira — diz ele.
Órfã de caráter e de noção
Em Órfãos da Terra, Rania (Eliane Giardini) já se perguntou inúmeras vezes se agiu errado na criação da caçula, Camila (Anaju Dorigan). Aline (Simone Gutierrez) e Zuleika (Emanuelle Araújo) mostram caráter irretocável. Já Camila, nascida e criada no mesmo lar, tem uma ambição desmedida, é capaz de destruir a vida de alguém por um punhado de dólares e não perde a chance de espezinhar as pessoas.
Rania e Miguel (Paulo Betti) até tentam explicar as maldades da filha e se culpam por terem mimado demais Camila. Será que é por aí?
De algoz a vítima
A moça não chega a ser uma vilã, ainda que as suas atitudes tenham provado o contrário. É, isso sim, uma pessoa despreparada para o mundo: acha que tem "vocação para ser rica" e se considera injustiçada por ter nascido em uma família de classe média. Tanto que caiu direitinho na armadilha de Paul (Carmo Dalla Vecchia) e Dalila (Alice Wegmann) — esses sim, malvados de primeira grandeza. Os anos que passou longe da casa dos pais, trabalhando como arrumadeira de hotel para se sustentar, não foram suficientes para mostrarem a vida como ela é à caçulinha dos Nasser. Só mesmo um chacoalhão fará Camila abrir os olhos, o que está perto de ocorrer.
Mais filhos
Há outros casos de personagens que deram trabalho para as mãezonas da ficção. Quem não se lembra dos sacrifícios de Griselda (Lilia Cabral), ou Pereirão, que criou três filhos sozinha em Fina Estampa? Um dos rebentos, José Antenor (Caio Castro), estudava Medicina — às custas da mãe, é claro — e namorava uma jovem rica. O maior medo do rapaz era que os futuros sogros descobrissem que ele era filho de uma "marida de aluguel". Mentira tem perna curta, e a verdade veio à tona com um belo barraco familiar. Desmascarado e humilhado, Antenor precisou de um bom tempo para aceitar a mãe. Griselda também teve muito o que perdoar, mas coração de mãe é maior do que qualquer maldade.
"Olha a cocada!"
Outro mentiroso de carteirinha era Guilherme (Klebber Toledo), de Morde & Assopra. Noivo de Alice (Marina Ruy Barbosa), temia que a moça descobrisse que ele era filho da batalhadora Dulce (Cássia Kis), uma simples vendedora de cocadas. O pilantra fingia estudar Medicina, mas gastava o dinheiro na farra. Os pecados eram muitos, mas a generosidade de Dulce era tamanha, que o malandro acabou sendo perdoado.
"Dizer 'não' agora é dizer 'sim' no futuro"
Nem sempre uma boa educação garante filhos íntegros. Segundo a psicóloga Denise Quaresma, é fora de casa que estão os grandes influenciadores na constituição da personalidade.
— A formação dos filhos é feita pela família. Mas, muitas vezes, a família educa, e a sociedade deseduca. Portanto, o trabalho educativo se estende a observar as companhias dos filhos e discutir o que eles aprendem na sociedade — orienta a professora de Psicologia do programa de pós-graduação em Diversidade Cultural e Inclusão Social da Feevale.
O nascimento de um irmão pode ser o "gatilho" de um comportamento egoísta e manipulador por parte do filho mais velho.
— Por uma necessidade de atenção ou por achar que perdeu algo, a criança pode usar várias armas, como mentiras, chantagem emocional e manipulação. Os pais, por culpa, acabam cedendo – explica a psicóloga e psicoterapeuta especialista em casais e famílias, Andréa Alves, também colunista do Falando de Sexo, do Diário Gaúcho.
Limites e identificação natural
Andréa alerta que são estes momentos que exigem maior cuidado. É quando os filhos mais precisam de limites:
— Dar limites é difícil. Mas dizer "não" agora é dizer "sim" no futuro. Limites também são uma forma de afeto.
A ideia de que mães e pais amam todos os filhos da mesma forma tem que ser desmistificada, segundo a psicóloga Denise.
— Cada filho é único, pois nasceu em momentos diferentes da vida dos pais e desperta sentimentos e desejos inconscientes diferentes. Esta "preferência" pode existir, mas deve ser entendida como uma identificação maior com os traços de um filho ou uma filha — diz a especialista.
A percepção de que essas diferenças de tratamento existem pode gerar, em muitos casos, problemas de autoestima nos filhos e culpa excessiva:
— É terrível quando os pais pensam que esta identificação significa mais amor.
Índole ou criação?
Andréa faz questão de ressaltar que, antes de culpar mães e pais pelo desvio de personalidade de alguém, é necessário ter em mente que, muitas vezes, não há amor que cure a falta de caráter:
— Alguns indivíduos são pessoas egoístas, que não medem as consequências, não pensam no outro. E sãos vários os fatores que constroem essa personalidade.
Já para a psicóloga Denise, é difícil destacar apenas um fator determinante na formação do caráter de alguém:
— O que somos depende da educação familiar, do amor que recebemos, do grupo social que nos rodeia e do traço único que cada um tem de seu mundo interno.
Para ela, a ausência da figura paterna pode ter influência na formação da criança.
— Tem que haver limites instaurados por quem faz a função paterna. Muitas vezes, não é o pai biológico, pode ser o avô ou o namorado da mãe. A mãe faz a maternagem, o acolhimento, o pai instaura a lei — define Denise.
Fique alerta a 5 sinais que podem aparecer já na infância!
1) Ansiedade exagerada.
2) Enurese noturna (xixi na cama).
3) Dificuldade de lidar com os "nãos" e com as frustrações.
4) Explosões de raiva ou fúria.
5) Atitudes que demonstrem maldade com os animais ou com outras pessoas, de forma excessiva.