Segredos de Bastidor
Guerrinha relembra sua trajetória profissional e revela: "Me assustava fazer rádio"
Em papo descontraído, comunicador fala sobre carreira, família e filosofias de vida
— As coisas na minha vida sempre acontecem por acaso.
Com esta frase, Adroaldo Guerra Filho, o Guerrinha, resume a sua vida profissional e pessoal. Quem lê os comentários no jornal e ouve as opiniões consistentes na Rádio Gaúcha (93.7 FM e 600 AM) imagina que ele sempre soube que trabalharia na área. O que pouca gente sabe, no entanto, é que o início da carreira desse bem-humorado escorpiano de 63 anos foi bem distante das opiniões sobre impedimento e esquema tático da dupla Gre-Nal.
— Eu vim parar no Jornalismo por meio das corridas de cavalos. Eu ia ao jóquei desde os nove anos, o meu pai sempre me levou — conta a estrela da seção Segredos de Bastidor.
E o futebol, Guerrinha? Na época, era com a bola nos pés que ele mostrava as suas habilidades:
— Eu jogava, e jogava bem. Era fixo (equivalente ao zagueiro) no futebol de salão.
Voltando ao turfe, o convite para escrever sobre corridas de cavalo veio — reitera Guerrinha — por acaso. Na década de 1970, era uma área na qual poucos queriam trabalhar.
— Ninguém queria fazer, porque tinha que acordar de madrugada, quando os cavalos treinam — explica o comunicador.
Anos depois, quando o espaço para o turfe acabou, veio o convite para trabalhar com futebol. E bastou entrar em campo para Guerrinha se tornar um dos artilheiros da equipe esportiva do Grupo RBS, driblando dificuldades e se saindo bem em várias posições.
— Comecei como repórter, fazendo o setor do Inter, e fiz setor do Grêmio. Em 2000, quando o Diário Gaúcho foi lançado, me tornei editor de esportes. Depois, colunista — lembra.
De família
Quando o assunto é família, o jeito brincalhão dá lugar a um semblante mais sério. Com a voz embargada, ele lamenta não ter acompanhado mais de perto o crescimento das filhas, Michelle e Karine:
— Se eu tenho segredos? Tenho. Não fui um bom pai. Não tive tempo, trabalhei muito. Hoje, tenho uma filha que é jornalista na RBS TV, a Michelle Guerra. Tenho outra filha que eu quis botar no jornalismo, mas não tem veia para isso (é bancária). Eu precisei trabalhar muito. Não fui bom pai, mas sou um exímio avô.
De coração aberto, tenta ser o mais presente possível na vida dos netos.
— O Janjão (João Vitor) está seguindo o meu caminho, fazendo Jornalismo. Desde pequeno, andava por aqui (nos corredores do Grupo RBS) comigo — afirma Guerrinha.
A exemplo do vovô coruja, Janjão já demonstrava, desde cedo, o que mais gostava de assistir na TV.
— Ele trocava o canal do desenho para o do futebol — entrega o comunicador.
Esculhambou e agradou geral!
Filho de radialista, Guerrinha temia seguir os passos do pai.
— Me assustava fazer rádio. Porque no rádio, tu diz uma coisa, tá dito. No jornal, tu escreve e apaga. Mas, no rádio, falou, é instantâneo. A repercussão é imediata — comenta.
Entre tantas primeiras vezes suas que aconteceram assim, "no susto", Guerrinha recorda as primeiras aparições na televisão — veículo no qual também nunca imaginou trabalhar. O desafio ficou ainda maior quando soube que teria de se identificar como colorado — o que ainda não tinha ocorrido.
Como editor de esportes e setorista de Inter ou de Grêmio, se mostrava isento e nunca havia deixado transparecer a sua preferência clubística. Mas, com a primeira aparição diante das câmeras, no extinto Lance Final, na RBS TV, pelos anos 2000, era preciso se posicionar como colorado e estrear na telinha, duas coisas que Guerrinha hesitava em fazer. Na tentativa de que fosse sua primeira e última participação na TV, estabeleceu uma estratégia.
— Cheguei lá para gravar o piloto e fiz uma esculhambação: discuti por nada, rebati coisas que não dava pra rebater — confessa.
Achando que tinha feito gol contra, o tiro saiu pela culatra. E ele foi surpreendido por elogios dos chefes, exaltando que "era disso que estavam atrás".
Humor na veia
Ao contrário do que pensava, seu estilo irreverente foi o que cativou o público. Como admirador de turfe, Guerrinha sabe que cavalo encilhado não passa duas vezes. Por isso, aproveitou as oportunidades. E, espirituoso e autêntico, garante que o acaso sempre deu as caras em todos os setores da sua vida.
— Namoradas? Nunca fui de pesquisar, procurar. Aparece na frente. Aí, é como o trensurb: embarca. Se for ruim, desce na próxima estação, acabou. Se for bom, vai até o ponto final. E foi o que fiz em tudo na minha vida — filosofa sem nunca perder a esportiva.