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Anos para entender

Atriz Juliana Lohmann relata ter sido estuprada aos 18 anos por diretor

"Imobilizada, eu disse que ia gritar. Ele respondeu em um tom doce que, se eu gritasse, ninguém iria ouvir", conta ela em carta aberta

15/07/2020 - 09h57min


Juliana Lohmann Instagram / Reprodução
A atriz Juliana Lohmann relata detalhes de estupro que viveu há 12 anos em carta aberta

A atriz Juliana Lohmann, de 30 anos, relatou ter sido estuprada por um diretor quando tinha 18 anos em uma carta aberta publicada pela revista Cláudia na noite desta segunda-feira (13). No texto, Juliana, que morava no Rio de Janeiro, conta que foi chamada para um teste em São Paulo por um famoso que dirigia seu primeiro longa.

Na época, pediu para levar a sua mãe, mas ele disse que não havia orçamento para mais uma passagem. Então Juliana viajou sozinha pela primeira vez na vida. Ao chegar no hotel, a convite dele, foi ao seu quarto para conversarem sobre o roteiro e esperar um sinal dos produtores para a realização do teste. Com a premissa de que a personagem exigia "mais loucura", ele sugeriu que fumassem maconha.

"Fiquei reticente, mas acabei aceitando. Dizer não para um diretor não é algo que uma atriz de dezoito anos sabe exatamente fazer. Um trago foi o suficiente pra que eu ficasse completamente chapada", lembra.

Foi quando percebeu que o contato entre eles não parecia mais ser profissional. Ele tentou beijá-la, ela disse que não queria. Então ele insistiu.

"Peguei o texto e, muito nervosa, pedi que voltássemos à leitura. Ele tirou o roteiro da minha mão e me apertou com força contra o corpo dele. Eu pedi pra parar, mas ele me apertou mais forte.  Fiz força para sair e não consegui. Imobilizada, eu disse que ia gritar. Ele respondeu em um tom doce que, se eu gritasse, ninguém iria ouvir", relata ela. "Entendi que não tinha saída. Fiquei quieta. Fiz o que ele queria. Tive que insistir muito pra ele pelo menos colocar a camisinha, o que fez somente depois de algum tempo de penetração".

Sem saber o que fazer, a quilômetros de casa e imobilizada pela situação, Juliana chegou a ficar no quarto do diretor até o dia seguinte, quando foi estuprada novamente.

"Insistiu pra que eu dormisse com ele. No dia seguinte, de manhã, fui acordada por seu membro invadindo minha vagina. Lembro de ficar na mesma posição, deitada de lado, e apenas enfiar meu rosto no travesseiro pra que ele não percebesse as lágrimas que caíam sem controle", relata.

De manhã, ele informou que o teste não ia acontecer, porque os produtores estavam ocupados. Entregou um cheque para Juliana com o valor das passagens e foi embora, dizendo que "iria querer mais". Ele ligou para ela outras vezes depois deste episódio, mas ela nunca mais atendeu.

"Anos mais tarde, toda vez que sentia um pouco de agressividade numa relação sexual, engatava num choro compulsivo. Quando tive coragem de contar esse episódio à um namorado, ouvi que se eu realmente não quisesse ter transado, eu teria jogado um abajur na cara do sujeito", disse ela, que no texto ainda conta  do relacionamento abusivo que viveu com este namorado.

Foram anos até que ela entendesse, de fato, que havia sido vítima de estupro.

"Faz muito pouco tempo que tive a certeza de que de fato nunca houve teste nenhum a ser feito em São Paulo. Eu passei 12 anos, quase metade da minha vida até aqui, na dúvida. Eu me questionei se realmente não quis, me questionei se de fato não foi premeditado o interesse dele por mim, se realmente não havia o teste que, por um 'infortúnio', foi cancelado. Doze anos não ouvindo o que havia dentro de mim. Doze anos vivendo como se nada disso tivesse acontecido, ou como se tudo isso estivesse muito bem resolvido dentro dessa mulher tão bem resolvida que sou", reflete.

"Este diretor usou de sua posição de poder, não só por ser um homem branco muito mais velho, mas principalmente por ser o diretor do filme, responsável por decidir se eu trabalharia ali ou não. Eu, uma atriz de 18 anos recém-feitos e que ainda começava a entender como me posicionar profissionalmente sem minha mãe por perto. Ele me enganou, me drogou e me estuprou, violando minha dignidade sexual e deixando marcas que carregarei pro resto da vida", conclui.

Em seu perfil do Instagram, Juliana explica que falar sobre o estupro agora é resultado de um processo muito longo de elaboração, e que traz o assunto à tona para que outras mulheres "tenham mais clareza acerca das próprias experiências".



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