E agora?
Depois do tombo: qual é o impacto do "BBB 21" na carreira de Karol Conká
Cantora foi eliminada do reality show com índice histórico de rejeição, acumulando prejuízos fora da casa. Especialistas avaliam o que pode ser feito para conter danos
Eliminada do Big Brother Brasil 21 na terça-feira (23) com 99,17% dos votos do público, maior rejeição da história do programa, Karol Conká levou um tombo enorme com sua participação no reality show. Teoricamente, o que acontece no BBB deveria ficar por lá. Afinal, o reality show é um jogo. Porém, as atitudes da cantora repercutiram negativamente fora da casa, influenciando diretamente a sua carreira.
Antes de ela entrar na casa, alguns produtores relataram nas redes sociais episódios em que a cantora teria sido desrespeitosa. Até aí tudo bem, ainda havia o benefício da dúvida. Talvez fosse uma pessoa diferente no reality e mostrasse evolução. No entanto, ao longo de sua participação, Karol colecionou desafetos na casa e cancelamentos do lado de fora.
Durante sua participação, a cantora costumava contradizer suas falas e intenções a todo instante, conforme lhe fosse conveniente, sendo bastante persuasiva e fazendo os outros participantes duvidarem da realidade. Não faltam exemplos negativos: a cantora destratou e humilhou Lucas Penteado — inflou a casa contra o brother, o proibiu de sentar à mesa para almoçar, chamou-o de abusador. Muitos espectadores apontaram tortura psicológica nessas atitudes.
Ela também manipulou a casa contra Juliette, jogou outros participantes contra Arcrebiano, o que o levou ao paredão, e criou confusão com Carla Diaz — ela achava que a atriz tinha interesse em Bil e chegou a acordá-la aos berros para discutir. Também tentou brigar com Camilla de Lucas, mas a sister carioca teve mais desenvoltura na situação e saiu por cima.
Famosos de diferentes áreas, do futebol à classe artística, comemoraram nas redes sociais quando a cantora foi indicada à berlinda. Houve muita mobilização pela sua saída. Um exemplo foi Richarlison, atacante do Everton e da Seleção Brasileira, que prometeu sortear uma camiseta caso Karol recebesse mais de 99% dos votos. Com sua saída dada como certa, marcas e influenciadores realizaram promoções em que o vencedor seria aquele que adivinhasse a porcentagem com a qual a cantora deixaria o programa.
Perdas e danos
As atitudes de Karol no BBB acabaram trazendo prejuízos à cantora. O festival Rock The Mountain, marcado para novembro em Itaipava, no Rio de Janeiro, cancelou a participação da cantora. O festival Rec-Beat decidiu não exibir a apresentação da rapper, que já estava gravada para a edição deste ano do evento, que será virtual.
O canal GNT optou por suspender a exibição do programa Prazer, Feminino — que ela apresentaria com a ex-BBB Marcela Mc Gowan. Segundo o site Pure People, a agência Brunch avaliou que a cantora já teria perdido cerca de R$ 5 milhões somando shows cancelados, programas de TV e fim de posts patrocinados em seu perfil do Instagram.
Antes do BBB, Karol tinha 1,5 milhão de seguidores no Instagram. Ela cresceu para 1,6 milhão quando o programa começou. Agora ela tem 1,4 milhão.
Além dos prejuízos na carreira, a cantora também pode ir parar na Justiça. O Ministério Público do Rio de Janeiro (MPRJ) recebeu dezenas de comunicações contra a rapper por situações envolvendo, principalmente, Lucas Penteado.
Segundo reportagem da revista Piauí, o escritório de Karol demitiu um funcionário durante o programa como forma de conter despesas e prevê novas perdas financeiras, como possível contratação de escolta após a saída do reality. No dia 10 de fevereiro, mãe e filho da cantora registraram um boletim de ocorrência após receberem ameaças via rede social.
Depois do tombo
Após ser eliminada, Karol foi entrevistada pelo programa Rede BBB. Ela amenizou os seus atos na casa, não sendo convincente para o público. No final da entrevista, a cantora olhou para a câmera, ajeitou o cabelo e pediu desculpa:
— Gente, calma, me desculpe. Estou arrependida do que fiz, sim. Tenho a cara de pau de reconhecer meu erro , mas tenho também a disposição de arrumar. Então, me "descancelem", por favor. Me deem uma chance de melhorar porque o mundo não vai evoluir com a gente cancelando todo mundo e reduzindo as pessoas a um momento de vulnerabilidade.
Na manhã desta quarta-feira (24), Karol participou do programa Mais Você e justificou:
— A culpa foram atitudes péssimas, sabia que estava errada e fui invadida por amargura, sentindo ácida, amarga, eu não estava me sentindo bem. Todos têm um lado bom e ruim, mas o ruim se aflorou, me perdi de mim e me entreguei para o lado mais azedo.
No fim da conversa com a apresentadora Ana Maria Braga, a cantora lamentou ter entrado no BBB porque o "Brasil não merece esse tipo de entretenimento".
— O erro foi meu, meus parentes não tem nada a ver com isso, e eu perdi o controle. Eu não sou dessa forma aqui fora — reforçou a rapper. — Tenho traumas aqui dentro que não se mostram em entrevistas e em nenhum álbum meu. (...) Obrigada pela energia e logo vai passar essa fase difícil, peço perdão mais uma vez e aquela vilã que vocês viram ficou lá dentro — concluiu.
E agora?
Com a imagem arranhada e acumulando prejuízos fora da casa, em uma era de cancelamentos, o que resta para Karol? Qual o caminho a se tomar? Como se comunicar com o público novamente?
Rosangela Florczak , professora de Gestão e Reputação da ESPM Porto Alegre, aponta que Karol vive uma experiência similar a grandes marcas ou organizações que, por vezes, são atacadas e sofrem o fenômeno do cancelamento. Ela realça que esse boicote ganha uma potencialização por conta das mídias sociais.
Segundo Rosangela, nessa nova oportunidade que a cantora terá de trabalhar sua marca e visibilidade pública, as estratégias de comunicação têm de ser focadas na confiança daquele público que já a acompanhava desde antes do BBB.
— Essa confiança não volta naturalmente, precisa ser estimulada por estratégias de comunicação associadas às causas que ela defende, as quais sempre teve identificação. Ela tem de resgatar a reserva de boa vontade dessas pessoas que a admiravam e se identificavam com ela como artista e pessoa pública — explica a professora da ESPM.
Rosangela aponta que a rapper já está adotando essa estratégia desde que saiu da casa, nas entrevistas que concedeu, ao fazer o pedido de desculpa, reconhecer que errou, tentar dissociar o que viveu lá dentro do que é aqui fora. Essas atitudes já seriam estratégias de resgate de confiança.
Conforme Diego Wander da Silva, professor de Relações Públicas na PUCRS, a cantora precisa evidenciar o arrependimento sobre o que causou na casa, falar sobre esse aspecto da personalidade forte que ela tem.
— Ela também pode falar dessa diferença entre jogo e vida real. Algo super importante que ela fez logo na saída foi a menção à família, mostrando que há uma vida além do jogo — sugere Wander. — Trazer que a trajetória de vida não se resume a esse período na casa.
Rosangela enfatiza que pedir desculpas é o primeiro passo nessas situações. O segundo ponto seria afirmar que vai aprender com o que viveu:
— É fundamental que uma pessoa pública ou uma marca fortaleça essa visão da aprendizagem. Mostrar-se aberta ao conhecimento, fazer parceria com instituições que possam discutir as problemáticas em que ela se envolveu dentro da casa. Questões de saúde mental e discriminação de pessoas por algum tipo de vulnerabilidade. Na prática, ela vai ter de mostrar que ela não era a personagem da casa.
A professora da ESPM reforça que essas estratégias precisam ter coerência com as práticas da cantora. Consequentemente, Karol não poderá se envolver em nenhuma contradição nos próximos seis meses.
— Eu diria que a palavra de ordem para Karol nos próximos meses é cuidado. Ela vai estar sob forte vigilância. Alinhar as ações comunicacionais com o comportamento cotidiano é fundamental. Ela tem de provar que aprendeu, que o pedido de desculpa foi efetivo. Por fim, é preciso muita paciência para esperar esse ciclo de ódio passar — diz Rosangela.
Para Wander, é importante que Karol não se ausente do diálogo nas mídias sociais, que seria o espaço que culmina na contenção do cancelamento.
— A ausência tende a ser negativa. Importante que ela assuma o protagonismo, que fale com as pessoas que persistem como fãs dela e da mesma forma com aquelas que têm críticas ao seu comportamento. Não deixe a gestão de crise para espaços que ela não vai ter como interagir. Esse protagonismo dela nas redes sociais é essencial, tendo atenção aos erros que cometeu e apresentando uma postura bem diferente do que ela fez na casa — avalia Wander.
Segundo Polianne Merie Espindola, professora de Relações Públicas e coordenadora da Especialização em Cultura Digital e Redes Sociais da Unisinos, a equipe de Karol já acertou ao não lançar sua nova música nacionalmente neste mês de fevereiro, que estava previamente agendada antes de ela entrar na casa.
— Esperar a poeira baixar e se retirar um pouco das mídias, não como uma fuga, mas como um momento de reflexão e reposicionamento, também é uma ótima pedida. Sua imagem tem de ser recolocada e, como a Lumena gosta tanto de dizer, ressignificada. Assim, sua reputação pode, ao final disso tudo, ser positiva novamente — analisa Polianne.
Uma outra estratégia de comunicação interessante para Karol, de acordo com Polianne, seria não deixar cair no esquecimento sua trajetória profissional:
— Há grande valor em sua biografia. E que venham novos desafios e uma grande oportunidade de aprendizado. Acho que a eliminação da ex-BBB inicia o fim da cultura do cancelamento de maneira cruel e taxativa. Ninguém é 100% ruim e ninguém é 100% certo.