Só se Fala Noutra Coisa!
Guri de Uruguaiana e o gauchês: "Estou pensando em lançar um curso online sobre o nosso idioma"
Comediante ainda traz um de seus causos engraçados
Buenas, chê! Que tal? Esses dias, estava escutando música em uma rádio moderninha, mas me apavorei com a qualidade das canções. Um compadre estava no hospital e saiu do coma, justamente, por causa do funk! Acredita? É que a enfermeira deixou o rádio ligado e começou a tocar um pancadão. O bagual, então, foi obrigado a se levantar e desligar o som.
No meu tempo, as músicas tinham muito mais qualidade. As letras eram poesias. Hoje em dia, muita gente se diz gaúcha, mas nem sabe o significado de expressões que aparecem nas canções gaudérias.
O próprio Canto Alegretense, de Nico (1934 – 2015) e Bagre Fagundes, não é compreendido por muitos.
“Flor de tuna, camoatim de mel campeiro, pedra moura das quebradas do Inhanduí.”
A tuna é um tipo de cacto bem comum na região da campanha gaúcha. Essa planta dá origem a uma flor muito bonita. Camoatim é um inseto, um tipo de vespa, que produz um mel silvestre, do campo.
Já pedra moura é uma referência às pedras escuras que têm na beira do rio. O termo moura se refere à pelagem escura dos cavalos. Inhanduí é um rio da região do Alegrete, que é o local de origem da família Fagundes. Barbada! Pelo amor de Deus: se alguém não conhece isso, precisa frequentar um CTG!
Só melhora!
Alguns gaudérios também têm dificuldade para compreender a letra do nosso hit de verão: Do Fundo da Grota, do Baitaca! Para entender o sentido dessa, o bagual precisa ser fluente não só em gauchês, mas também tem que dominar conhecimentos sobre a fauna gaúcha.
“Quando rompe a estrela Dalva, aquento a chaleira já no quase clarear o dia, meu pingo de arreio relincha na estrevaria, enquanto a saracura vai cantando empoleirada.”
Meu pingo de arreio é o cavalo que o guasca monta diariamente, que está sempre pronto com o arreio (sela). Estrevaria, ou estrebaria, é o local onde ficam os cavalos à noite. Já saracura é um passarinho que canta de manhã cedo. E bem alto!
“Escuto o grito do sorro, lá do piquete relincha o potro tordilho, na boca da noite me aparece um zorrilho, vem mijar perto de casa para inticar com a cachorrada.”
Sorro é um animal conhecido como graxaim, que é uma espécie de raposa. O potro é o cavalo novo. Já tordilho se refere ao seu pelo acinzentado. Zorrilho é um tipo de gambá. Inticar significa provocar.
Bah! O gauchês parece uma barbada, mas não é. Estou até pensando em lançar um curso online sobre o nosso idioma. Vai ser um sucesso!
Causos da fronteira
Após um acidente de carro, uma senhora foi levada às pressas ao hospital. Inconsciente, ela sonhou com São Pedro.
— Nossa... Eu morri? — perguntou ela.
— Qual é o teu nome? — questionou o santo.
— Dorothéa de Jesus!
— Não, ainda não! — respondeu ele, em tom benevolente:
— De acordo com a tua ficha, vais morrer daqui a 12 anos, 10 meses e 20 dias.
Assim que ela se recuperou e já sabendo o tempo que lhe restava neste mundo, decidiu mudar de vida e internou-se em uma clínica para fazer uma plástica.
Desenrugou o rosto, colocou silicone, fez lipoaspiração, diminuiu o nariz. Ao sair do local, exalando felicidade por todos os poros, ela atravessou a rua e pimba: foi atropelada e morreu.
Após o fato, novamente diante de São Pedro, reclamou:
— Poxa, mas eu não tinha 12 anos, 10 meses e 20 dias de vida ainda?
— Qual é o teu nome mesmo? — indagou São Pedro.
— Dorothéa de Jesus! — respondeu a senhora.
— Desculpe, não te reconheci! — lamentou o santo.
Tirinha