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Reinvenção no setor cultural

13 meses de pandemia: as dificuldades dos músicos ligados às periferias e as alternativas que eles encontraram

Nomes como Samba Tri e MC Jean Paul apostam em iniciativas variadas para driblar a crise imposta pela falta de shows

23/04/2021 - 16h35min

Atualizada em: 23/04/2021 - 17h25min


José Augusto Barros
José Augusto Barros
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Jefferson Botega / Agencia RBS
Samba Tri: aposta na solidariedade

A pandemia de coronavírus assola o mundo todo há mais de um ano. Do dia para a noite, tudo mudou. Para tentar frear o contágio, restrições sanitárias, organizadas pelas autoridades, entraram em vigor.  No Brasil, o setor cultural foi atingido em cheio pelas medidas de distanciamento social e cancelamento de eventos, uma vez que evitar aglomerações é primordial para conter o avanço da covid-19. 

De inegável importância (só aqui no Estado, segundo dados da Secretaria Estadual da Cultura, a chamada indústria da economia criativa gerava, antes de 2020, mais empregos do que segmentos tradicionais, como o calçadista e o automotivo), a área da cultura sofreu um abalo sem precedentes, pois foi a primeira a parar e, certamente, será a última a retomar suas atividades.

Neste especial, o Diário Gaúcho traz cinco histórias de artistas ligados às periferias. Em relatos crus, eles explicam como estão passando por este momento complicado, há mais de um ano sem poder trabalhar como antes.  Batalhadores, eles também apresentam alternativas para tentar amenizar o caos e torcem por um futuro promissor, que começa a se desenhar com o avanço da vacinação pelo país.

Fase difícil, mas transformadora

Grupo que saiu da Restinga para fazer sucesso nos círculos mais abastados, algo que seus integrantes nunca imaginaram que poderia acontecer, o Samba Tri é um exemplo de banda gaúcha que sempre esteve com a agenda lotada, com mais de 30 shows mensais, e que se viu sem apresentações do dia para a noite. 

Félix Zucco / Agencia RBS
Paulista, em uma das entregas de alimentos e roupas em periferias

Em tempos tão complicados, os artistas, liderados por Guto Paulista, deixaram de lado a música e passaram a ter um único foco: ajudar quem estivesse precisando dos itens mais básicos para sobreviver. Eles começaram a fazer lives para arrecadar alimentos e tentar diminuir uma das mazelas que tomou conta das periferias durante a pandemia: a fome. Na primeira live beneficente realizada pelo grupo, no fim de abril de 2020, eles arrecadaram mais de 11 toneladas de alimentos, distribuídas para famílias das periferias em Porto Alegre e na Região Metropolitana. 

Um dia de cada vez

Porém, quem acompanha a turma de perto, nas redes sociais, sabe que aquele ato não foi isolado. Em vídeos nos perfis do Instagram de Guto e do grupo, é possível visualizar, semanalmente, as incursões, diurnas ou noturnas, nas periferias. Nestes locais, os músicos doam mantimentos, atenção e tocam cavaquinho. Fazem a diferença na vida de quem pouco tem.

- Estamos atravessando tempos difíceis, se torna frustrante pensar no futuro instável. A cada mês, vem uma cepa diferente (variação do coronavírus). Então, estamos focados no presente, praticando o servir com frequência e fazendo a diferença na vida dos mais necessitados, um dia de cada vez - conta Guto.  

Músico conhecido pela solidariedade, Guto Paulista acredita que a banda sairá diferente dessa pandemia. Inclusive, ele cogita até fazer menos shows, quando os presenciais voltarem, para dedicar mais tempo a ajudar quem mais precisa.

- A gente ressignificou o sentido de muita coisa nessa pandemia. De que vale fazer 35 shows no mês e saber que tem gente passando necessidade? Pretendemos tirar ainda mais tempo para percorrer periferias, ajudar os nossos - afirma.

Na Levada: mudança de rota

Gu Fernandes, vocalista do grupo Na Levada, de Viamão, comenta o atual período, em que a banda está há mais de um ano sem fazer shows:

Marco Favero / Agencia RBS
Grupo enxerga mudança de cenário daqui pra frente

- A maior dificuldade foi manter o grupo vivo e ativo financeiramente. Foi bem difícil, mas, ainda assim, conseguimos nos sustentar por meio de trabalhos paralelos que cada integrante do grupo teve que passar a exercer. Quem não tinha trabalho paralelo, passou a ter - explica Gu. 

Com os cancelamentos de shows e sem outras fontes de renda, a banda, uma das revelações do pagode gaúcho nos últimos anos, passou a  procurar parceiros para tocar projetos, como as lives. 

- No meio de tudo isso, nos preparamos para um novo momento. Criamos conteúdos que vamos começar a divulgar a partir de agora (nas redes sociais), como uma música inédita. Ela se chama A Gente Complica, gravada no Rio de Janeiro, com a produção do Bruno Cardoso, do Sorriso Maroto. Ele viu um potencial muito grande na banda - revela o vocalista.


Esperança


Agora, o grupo acompanha os movimentos que flexibilizam a reabertura de bares, por exemplo, e enxerga nisso um cenário promissor.

- Temos esperança de que está acabando, não o vírus, pois ele vai circular para sempre. Mas temos fé de que a pandemia está próxima do fim. E além da mensagem sanitária, de cuidados com higiene e limpeza, o recado que a pandemia nos deixou, bem claro, é que é muito importante que a gente, cada vez mais, respeite as pessoas e demonstre gratidão, afeto e carinho com quem amamos - afirma Gu. 

Mesmo com toda a vontade de retornar aos palcos, Gu sabe que a situação, daqui para a frente, será diferente.

- Tivemos muitos aprendizados na pandemia. Um deles, foi direcionar nossa atenção para as plataformas digitais, coisa que será permanente, mesmo depois que os eventos voltarem. Conseguimos focar na criação de conteúdos audiovisuais nas plataformas digitais, de onde vem uma receita mínima para que, ao menos, a gente consiga sustentar nosso trabalho e criar mais. Estamos dando bastante atenção a essa parte, porque sabemos que ainda vai demorar para que tudo volte ao normal - diz Gu, que finaliza:

- Então, estamos nos dedicando, muito mais do que antes, à área digital, que representa o futuro.



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