Reinvenção no setor cultural
"Temos que pensar fora da caixa", diz Fernando, do Alma Gaudéria
Músico aposta em formatos diferentes para o setor, pós-coronavírus
Quem conhece o meio nativista sabe que Fernando Espíndola, líder do Alma Gaudéria, não perde uma chance de inovar, pensar positivo e passar boas mensagens para as pessoas.
Uma das iniciativas do músico foi criar o Espaço AG, uma espécie de estúdio - na Vila Jardim, zona norte da Capital - na casa em que Fernando mora e onde o grupo ensaia, para que artistas possam gravar suas músicas e transmitir suas lives. Outra, no fim de 2020, foi a realização pequenos shows itinerantes, feitos de cima de um caminhão, que passaram por bairros de algumas cidades gaúchas. O principal intuito era a distribuição de alimentos.
Covid-19 na família
Porém, até mesmo esse cara tão querido da música gaúcha passou pela experiência de perder familiares para a pandemia de coronavírus, a exemplo de milhares de brasileiros.
- Faz 45 dias que venho lidando com a covid-19 na família. Levanto de um lado, caio de outro - relata.
Há cerca de 15 dias, sua sogra, Rosana, 65 anos, morreu após poucos dias internada por conta da doença. Logo em seguida, ele e a esposa, Janaína, contraíram o vírus e foram internados.
- Achei que ia morrer, precisei de oxigênio. Há cerca de 20 dias, minha irmã, Fernanda, que mora em Santa Maria, também pegou e está entubada - conta.
Postura firme
Mas Fernando retoma a postura pela qual sempre foi conhecido. É duro ao afirmar que o entretenimento não deve ser retomado neste momento.
- Claro que eu precisava e preciso que o entretenimento volte, mas não tem como voltar, não é seguro. As pessoas têm que entender que essa doença não é brincadeira. Quem viveu na pele sabe que não é seguro voltar - diz.
Na sequência, ele traça novos cenários para a área, convocando os colegas a pensarem "fora da caixa" e a entenderem que o setor nunca mais será o mesmo.
- Esse retorno tem que ser gradual. Vamos ter que pensar mais ainda fora da caixa, aliar cultura ao turismo, por exemplo. Que pontos turísticos das cidades tenham pequenos shows, sem a menor possibilidade de aglomeração. E as lives, por mais que os pequenos shows em bares voltem, seguirão presentes por um bom tempo. É um desafio. Não temos a perspectiva de esse formato (de shows presenciais) voltar. Temos que pensar diferente. Agora, é uma nova forma de fazer arte. Como monetizar esses novos trabalhos, as lives? Esse é o desafio - questiona Fernando, que completa:
- Se viabilizarmos as lives financeiramente, é possível que sigam fortes, junto com shows presenciais. E sempre é importante lembrar que os artistas terão demanda represada de shows, claro. Mas o povo terá dinheiro e se sentirá seguro para ir em um show com mil, duas mil pessoas?