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Efeito da pandemia

Guion Center anuncia fechamento em setembro

Cinema localizado na Cidade Baixa se consolidou com programação alternativa a blockbusters em Porto Alegre

23/08/2021 - 08h24min

Atualizada em: 23/08/2021 - 08h25min


Marcel Hartmann
Marcel Hartmann
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André Ávila / Agencia RBS
Um dos últimos cinemas de rua de Porto Alegre fica localizado na Cidade Baixa

Benquisto pelos apreciadores de filmes europeus, asiáticos e latino-americanos, o Guion Center encerrará as atividades em setembro, anunciou na noite deste domingo (22) o perfil oficial nas redes sociais de um dos mais célebres cinemas alternativos da capital gaúcha. O fechamento ocorrerá dentro de duas a três semanas. 

As obras de arte em exposição, livros, CDs e DVDs estarão com 20% de desconto à venda. Itens do próprio cinema também estarão disponíveis para compradores. 

"Agradecemos o interesse de todos que saíram de suas casas e vieram nos prestigiar não só nesse período nefasto como ao longo desses 26 anos de atividades", diz o Guion em uma rede social. 

Frequentadores lamentaram, em comentários, o anúncio de encerramento das atividades. "Que triste, vocês eram o oásis no meio do deserto. A cultura perde todos os dias quando essas salas se fecham", escreveu uma admiradora. "Porto Alegre fica mais triste", afirmou outro fã.

O fechamento do Guion Center, localizado no centro comercial Nova Olaria (Rua Lima e Silva, 776), no bairro Cidade Baixa, marca mais um importante estabelecimento afetado pela pandemia de covid-19 em Porto Alegre. A despeito da perda cultural para a cidade, o encerramento não é uma surpresa para quem frequenta o local. 

O Guion permanecera fechado de março a novembro do ano passado, devido à pandemia. Com a melhora de indicadores, as portas foram abertas em novembro, mas, em fevereiro, o Guion voltou a fechar - segundo o proprietário, Carlos Schmidt, a medida foi necessária pelo fato de as distribuidoras postergarem os lançamentos de filmes no Brasil. 

Marco Favero / Agencia RBS
Carlos Schmidt, proprietário do Guion Center

Ainda em fevereiro, o cinema foi colocado à venda por dificuldades em manter as atividades. Em maio, o Guion foi finalmente reaberto, mas as portas devem se fechar definitivamente em setembro. 

Ao longo dos últimos 26 anos, o Guion se consolidou como cinema de rua de Porto Alegre capaz de oferecer uma programação alternativa aos blockbusters exibidos em shoppings. A localização na Cidade Baixa consolidou a aura boêmia do local. 

Em texto intitulado "Não deixem o Guion acabar", o colunista de cinema de GZH, Ticiano Osório, clamava para que a população não deixasse o local fechar as portas. "Não apenas porque é sempre triste quando uma cidade perde um espaço cultural, mas particularmente porque o Guion, nesse quarto de século, se notabilizou como alternativa aos filmes hollywoodianos, às comédias besteirol e aos super-heróis que dominam o circuito comercial", escreveu o colunista.

O embrião do Guion surgiu em 1979, com Schmidt à frente de um circuito de exibições itinerantes. Ao longo dos anos 1980, projetou filmes em diferentes espaços: Assembleia Legislativa, Instituto Goethe, Senac, Instituto de Artes, entre outros. Em 1986, com o Ponto de Cinema, o empresário se estabeleceria no Sesc da Avenida Alberto Bins até 1992, quando um incêndio interrompeu as atividades. Três anos depois, o Guion foi inaugurado.

O cinema chegou a se expandir para outros pontos da cidade: Guion Sol (1997-2009), na Cavalhada, e Aero Guion (2004-2010), no Aeroporto Internacional Salgado Filho. Ambas as experiências são descritas como “infortúnios” por Schmidt.

Durante os 26 anos de atividade do Guion, Schmidt enfrentou alguns períodos de incertezas. Mais de uma vez anunciou a possibilidade de encerrar as atividades por diferentes motivos. Também prejudicou as finanças a necessidade de o Guion se adequar à lei 12.599, de 23 de março de 2012, e trocar, até o fim do ano, seus projetores por aparelhos digitais. Schmidt argumenta que não teria como arcar com os custos:

— Para comprar um aparelho como o DCP (Digital Cinema Package), teríamos de desembolsar mais de R$ 150 mil. Temos três salas e precisamos de um aparelho para cada. Em dois meses, quebraríamos — afirmou em entrevista a GZH em junho.

O movimento fraco durante a pandemia foi o último obstáculo para a manutenção do cinema. A reportagem tentou contato com Schmidt, mas não obteve retorno.


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