Novo homenageado
Fabrício Carpinejar é eleito patrono da 67ª Feira do Livro de Porto Alegre
Evento será realizado em formato híbrido, entre os dias 29 de outubro e 15 de novembro
A 67ª Feira do Livro de Porto Alegre elegeu o símbolo da edição deste ano. Na manhã desta segunda-feira (27), durante coletiva online, a Câmara Rio-Grandense do Livro anunciou o escritor Fabrício Carpinejar, 48 anos, como o novo patrono do evento.
— É uma alegria gigantesca. É um sonho da minha vida porque desde pequeno o patronato da Feira do Livro sempre foi um exemplo de dedicação, de afeto, de carinho. Eu ter sido antecedido pelo Jeferson (Tenório) me dá mais alegria ainda — comentou Carpinejar na coletiva virtual.
Durante seu discurso, o poeta explicou que a Feira do Livro é um grande aniversário: dos livreiros, dos escritores, dos leitores e dos livros. É como uma festa coletiva, conforme o patrono, em que são reunidos todos esses nascimentos. Ele também ressaltou que o evento proporciona lembranças afetivas.
— Quantos amores ou amizades não começaram na Feira? Quantas famílias não voltaram a se encontrar ali? A Feira é o coração da cidade. É quando você faz um passeio para ler e viver mais. É isso que vamos recuperar este ano: o gosto de viver — garantiu.
Sob o slogan "Para ler um novo mundo", o evento volta à Praça da Alfândega neste ano. Se em 2020, devido à pandemia, foi totalmente virtual, em sua 67ª edição será realizado em formato híbrido, entre os dias 29 de outubro e 15 de novembro.
Bancas de livreiros, estandes de patrocinadores, a Praça de Autógrafos e parte da programação poderão ser conferidos presencialmente. A Feira deve seguir protocolos de segurança, como uso de máscara obrigatório, controle de entrada e saída, distanciamento e disponibilização de totens de álcool gel.
Assim como no ano passado, o público poderá acessar as lojas virtuais dos 56 expositores confirmados para esta edição. Segundo informações da organização do evento, o sorteio de localização no novo mapa ocorre na quarta-feira (29) e todos terão também espaço no site da Feira, para a realização de vendas através de suas lojas virtuais ou via whatsapp.
A programação oficial da área geral deve mesclar nomes da literatura internacional, brasileira e local. O conteúdo online será produzido no prédio do Memorial do Rio Grande do Sul, que fica na Praça da Alfândega, e será transmitido por meio da plataforma digital da Feira do Livro. Serão 36 encontros em lives transmitidas, às 18h e às 19h30min, de um estúdio criado na instituição da Secretaria de Estado da Cultura (Sedac-RS), que apoia o evento.
Nesta 67ª edição, o Espaço Cultural dos Correios abrigará em seu prédio histórico as sessões de autógrafos coletivos, além da administração da Feira. Já o Pavilhão de Autógrafos individuais segue ao ar livre, em sessões reduzidas e espaçadas, que somam 360 ao longo do evento.
Sobre o retorno da Feira do Livro à praça, ainda que em formato híbrido, o novo patrono destacou que o evento deste ano é significativo emocionalmente para "colar as partes quebradas".
— Estamos num período difícil e dolorido, em que a esperança nos carregou. Vamos começar a reencontrar a alegria da convivência, a partir das sessões de autógrafos, os escritores voltarem a encontrar seus leitores. Depois de um longo período de isolamento, poderemos sorrir pelos olhos, ainda de máscaras. Poderemos entender o quanto estamos sedentos e famintos de cultura — frisou.
Carpinejar ainda chamou atenção para que os pequenos livreiros sejam apoiados, principalmente após terem enfrentado um período complicado na pandemia:
— Esses pequenos negócios que não morreram, que conseguiram passar por dois anos de penúria, estarão lá altivos para receber e acolher os leitores. Vocês não têm noção do que eles passaram! Do que fizeram para continuar de pé! Essas pequenas livrarias precisam de nós.
A Câmara Rio-Grandense do Livro divulgará mais detalhes da programação no mês de outubro. As novidades poderão ser conferidas no site oficial do evento.
O patrono
Natural de Caxias do Sul, Fabrício Carpi Nejar é poeta, jornalista e professor. Filho dos poetas Carlos Nejar e Maria Carpi, que foi patrona da Feira do Livro de 2018, ele passou a assinar unindo os sobrenomes dos pais desde a publicação de seu primeiro livro, As Solas do Sol (1998). Sobre sua mãe ter ocupado o posto, ele brincou:
— Pensar que minha mãe foi patrona e eu agora sou patrono... é quase uma máfia (risos).
Durante sua fala, Carpinejar lembrou da importância que sua mãe tem em sua vida. Foi ela quem o ensinou a ler e escrever, além de o ter alfabetizado com poesia. Também esteve ao seu lado em momentos delicados da infância.
— Ela não desistiu de mim. Não acreditou no diagnóstico de retardo mental que recebi aos sete anos. Fez com que eu pudesse me amar — destacou.
O escritor também destacou que o sonho de ser patrono da Feira do Livro de Porto Alegre era antigo. Desde criança ele acompanhava anúncio do homenageado. Sua mãe costumava incentivar: "Escreva, leia, porque um dia você pode ser patrono".
De lá para cá, Carpinejar acumula 47 livros publicados entre poesia, crônicas e publicações infantojuvenis. Segundo o escritor, suas publicações contabilizam mais de 750 mil exemplares vendidos.
Entre os prêmios que Carpinejar recebeu ao longo de sua trajetória está o Prêmio Nacional Olavo Bilac, concedido pela Academia Brasileira de Letras, em 2003, para o livro Biografia de uma Árvore. Ele recebeu o Prêmio Erico Verissimo, em 2006, concedido pela Câmara Municipal de Porto Alegre pelo seu conjunto da obra. Sua coletânea Canalha! venceu o Prêmio Jabuti, em 2009, na categoria Contos e Crônicas. Ele voltaria a ser premiado em 2012, com Votupira, o Vento Doido da Esquina, que ficou em terceiro lugar na categoria Infantil.
Em quatro ocasiões, recebeu o Açorianos de Literatura: em 2001, com Um Terno de Pássaros ao Sul, na categoria Poesia; no ano seguinte, ele voltaria a receber o mesmo prêmio por Terceira Sede; em 2010 e 2012, ele foi agraciado na categoria de Crônicas por Mulher Perdigueira e Borralheiro — Minha viagem Pela Casa, respectivamente.
Carpinejar, que já foi colunista de GZH e comentarista da Rádio Gaúcha, atualmente escreve para o jornal mineiro O Tempo e comenta no programa Encontro com Fátima Bernardes, da TV Globo. Ele também ministra o curso Jornada Escrever é Poder, em que trabalha com o conceito de Escrita Curativa. De acordo com ele, mais de 300 mil alunos já passaram por seus cursos e palestras.
Ao comunicar-se com diversas mídias, Carpinejar se estabeleceu como uma figura pop, que transcende a literatura. Com seu discurso bem-humorado — em alguns momentos, intimista e visceral —, ele se aproxima de milhões de leitores e espectadores. Sua obra, por vezes, usa referenciais autobiográficos para refletir sobre questões familiares, relacionamentos e afetos — alguns dos temas que costumam permear seu trabalho.