Noveleiros
Michele Vaz Pradella: Estreia de tirar o fôlego no horário nobre
"Um Lugar ao Sol" impressionou logo nos primeiros capítulos
Tem sangue novo no horário nobre da Globo. Lícia Manzo se une ao seleto grupo de autores das 21h e já chega dizendo a que veio. Nada é óbvio em Um Lugar ao Sol, novela que estreou na segunda-feira. Até o que parece um clichê ganha outro viés, provando que sempre é possível recontar a mesma história de formas diferentes.
A trama dos gêmeos separados na infância se repete, mas as semelhanças param por aí. Os primeiros capítulos tiveram duas narrativas paralelas, para apontar o quanto Christian e Renato, interpretados por Cauã Reymond, seguiram trajetórias diferentes. O primeiro, rejeitado pela família adotiva do irmão ainda bebê, cresceu em um abrigo e, aos 18 anos, precisou se virar para sobreviver. Sempre cabisbaixo, olhando o mundo por detrás dos óculos e parecendo pedir licença para tudo, até para viver.
Renato, criado no luxo, tinha outra postura. Acostumado a peitar todos que tentassem barrá-lo, ocultou suas frustrações nos vícios. Se Christian pedia licença, Renato metia o pé na porta.
E assim se delinearam as vidas dos gêmeos, até o esperado reencontro, já no terceiro capítulo. E aí, Cauã brilhou como nunca. Em dose dupla nas cenas, imprimiu as diferenças gritantes entre os dois personagens com talento e profundidade. Pena que a relação dos irmãos tenha durado tão pouco. Seria interessante ver mais sequências dessa dobradinha.
No limite
Nestes primeiros capítulos, o grande mérito da autora foi construir o arco narrativo de Christian de forma a nos convencer de que, no lugar dele, qualquer um seria capaz de tomar decisões nem um pouco éticas. Tudo deu errado na vida dele, culminando em uma situação que o obrigou a trocar de lugar com o irmão morto. É um anti-herói? Sim. Mas quem se atreve a julgá-lo ou condená-lo?