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70 anos dos folhetins

Tony Ramos relembra gravações de cenas marcantes de novelas, como a do tiroteio em "Mulheres Apaixonadas"

Residentes do Leblon tiveram de ser avisados da filmagem no local e, quando o trabalho foi finalizado, irromperam em aplausos

28/12/2021 - 09h06min

Atualizada em: 28/12/2021 - 09h07min


GZH
João Miguel Júnior / TV Globo

Há exatos 70 anos, às 20h, a TV Tupi exibia a primeira telenovela do Brasil. De lá para cá, personagens emblemáticos passaram pela telinha, atravessando décadas de lembranças do imaginário brasileiro. Um dos atores mais conhecidos nacionalmente, Tony Ramos — que completou 140 papéis ao gravar nova minissérie — teve alguma dificuldade em apontar, durante entrevista ao Gaúcha+, da Rádio Gaúcha, suas interpretações preferidas. Em vez disso, lembrou da gravação de uma cena de Mulheres Apaixonadas (2003) em pleno Leblon: a perseguição policial que deixou como vítimas de bala perdida Fernanda (Vanessa Gerbelli) e Téo (Tony Ramos).

— Um dos mais lindos, emocionantes e definitivos momentos da minha vida profissional —anunciou ele, antes de contar a história.

Na época, o primeiro cuidado que a TV Globo precisou ter foi de avisar, com 10 dias de antecedência, cada edifício e restaurante em um raio de cerca de 350 metros da Rua Dias Ferreira que haveria uma gravação no local com tiroteio falso. Às 5h, os atores iam para o local, faziam os ensaios e às 7h, gravavam.  Para que tudo desse certo, precisavam contar com o apoio dos residentes e das pessoas que passavam por ali.

— O diretor Rogério Gomes disse: "Olha, senhoras e senhores, muito obrigada pela atenção, vai ter diálogo agora antes do tiroteio, contamos com a colaboração de todos, desculpe mais uma vez o desconforto mas agradecemos antecipadamente". E a plateia em silêncio, nas janelas dos prédios, nos restaurantes, pessoas que iam chegando para o almoço. Fizemos a sequência em falas, o guarda gritando com o assaltante. "Agora vai começar o tiroteio, desculpe, gravando". Não se ouvia uma mosca — contou Tony.

Depois das gravações, o diretor agradeceu pela compreensão de todos e, uma última vez, pediu desculpas pelo incômodo. Ao todo, mais de 1,5 mil curiosos foram atraídos pelo acontecimento, segundo dados da Polícia Militar.

— O diretor disse: "Missão cumprida, muito obrigado pela compreensão de todos à volta e nos desculpem mais uma vez". Irrompeu um aplauso uníssono, absoluto. Todos os prédios, os restaurantes, batendo palmas. Era como se fosse um teatro grego, um teatro a céu aberto. Não dá para esquecer — relembrou Tony.

Ouça a entrevista na íntegra:

Além disso, Tony também destacou uma sequência de O Astro (1977), no qual o ator viveu Márcio Hayalla, seu primeiro grande papel. 

— Quarenta e quatro anos atrás eu fiz uma cena que foi para toda a vida. Fiquei nu, tirava a roupa da minha personagem, o Márcio, jogava nas mãos do pai e dizia: "Nem o dinheiro seu que compra esta roupa, nem esta roupa eu quero mais". Ele fazia um voto à la São Francisco de Assis e saía da casa. Você acha que eu vou esquecer isso? Nunca mais. Eu tinha 30 anos de idade — disse ele.

Durante a entrevista, o ator falou também um pouco sobre a febre das novelas, fenômeno que acontece em toda a América Latina desde o surgimento do gênero nas rádios. Sobre a relação de cumplicidade do brasileiro com as telenovelas, relembra Beto Rockfeller, exibida  pela TV Tupi de 4 de novembro de 1968 a 30 de novembro de 1969, e como o personagem mudou a maneira de se fazer folhetins.

— Surge o  Beto, que modifica palavras do próprio Daniel Filho, que trabalhava na TV Globo, e o Daniel dizendo: "Beto Rockfeller obrigou todos nós a repensar a novela a partir da identificação do cotidiano e do realismo que ela apresentava" — analisa Tony.

É por conta disso que o gênero conseguiu adentrar, definitivamente, os lares da população brasileira. O espectador, de repente, viu-se diante de personagens com as quais ele conseguia se relacionar pessoalmente.

— A telenovela é a maior manifestação de amplitude popular, não no sentido da popularidade meramente, às vezes tratada de forma jocosa, mas a popularidade de se tornar acessível e assistida por todas as categorias sociais — define o ator.

Sobre o futuro das telenovelas, Tony é categórico: o gênero não vai acabar. Mesmo em meio às plataformas de streaming, o ator ressalta que há serviços que querem, inclusive, comprar este tipo de conteúdo. A diferença é que talvez precisem ser feitos folhetins com menos episódios, mas não a ponto de tornar-se uma série de 20 capítulos — até porque, diz ele que mesmo séries são novelas.

— Existe uma grande mágica em telenovela que é: amor, paixão e suspense. E isso tudo você vai encontrar nas séries, qualquer série. Me dá o nome de qualquer série, eu te digo: telenovela — encerra.

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