Entretenimento



Autoestima em dia

Alinne Moraes: "Quero envelhecer sem cobrança de parecer jovem"

No ano em que completa 40, atriz revela ter deixado a pressão sobre aparência perfeita para trás

07/02/2022 - 11h31min

Atualizada em: 07/02/2022 - 11h33min


Loraine Luz
Vinícius Mochizuki / Divulgação

À noite, quando muitas de nós se acomodam para assistir a mais um capítulo de Um Lugar ao Sol, Alinne Moraes está fazendo o mesmo na sua casa, no Rio de Janeiro. De férias, tirando um tempo para “ficar consigo mesma”, como ela conta nesta entrevista, a atriz de 39 anos acompanha os desatinos e as oscilações emocionais de sua personagem, a Bárbara, como um dever profissional.

— Gosto de assistir (...) É um exercício — afirma. — Fico um pouco com o coração na mão, assistindo aos capítulos, porque sei que não posso mais mexer em nada — confessa, referindo-se ao fato de a novela estar no ar já totalmente gravada.

Com um currículo que soma duas décadas de carreira como atriz, Alinne já garantiu que Bárbara figure entre suas mais convincentes interpretações na teledramaturgia. Público e crítica especializada aprovaram: é impossível ficar indiferente a ela. 

Bárbara não é uma vilã clássica, mas vem cometendo uma série de equívocos. É mimada, preconceituosa, bipolar, depressiva, carente, sem rumo e também uma vítima, porque vem sendo enganada por aquele que ela acredita ser seu marido, Renato/Christian (vivido pelo ator Cauã Reymond), e não é. Tudo isso está no rosto de Alinne e é entregue a cada cena dramática do folhetim das 21h, escrito por Lícia Manzo. A atriz conta que estudou muito para compor a personagem, que vê como um grande presente justamente pela riqueza emocional que ela carrega. 

Natural de Sorocaba (interior de São Paulo), Alinne começou na carreira de modelo aos 12 anos, com grande incentivo da mãe, a professora de educação artística Ana Cecília. Em 2002, as passarelas e os flashes do universo da moda ficaram para trás. Ela começava o trabalho como atriz com a personagem Rosana, de Coração de Estudante.

De lá para cá, Alinne vem escrevendo uma trajetória que passa ao largo de expectativas puramente em torno de sua beleza na tela, entregando interpretações competentes em contextos dramáticos diferentes, como a adolescente lésbica Clara, em Mulheres Apaixonadas (2003), a insana e inesquecível Silvia, em Duas Caras (2007), e a modelo cadeirante Luciana, em Viver a Vida (2009).

Embora sem projetos a curto prazo, no teatro, no cinema ou na TV – “preciso me esvaziar pra me encher de coisas novas”, diz –, a atriz já deixou claro em outras oportunidades que, se depender dela, há muito por vir ainda: ela deseja dar vida a mães, avós e bisavós, expondo sua maturidade sem receios. 

— Acho bonito o natural da idade e a beleza que vem com ela — explica, dando detalhes a seguir neste bate-papo de qual é o seu único cuidado estético.

Foco na carreira não vai faltar para essa longa vida nas telas. Casada com o cineasta Mauro Lima, 54 anos, com quem tem um filho, Pedro, sete anos, a atriz revela que o casal não tem planos de aumentar família por enquanto.

— Gostamos que seja só nós três — sintetiza.

A seguir, confira os melhores momentos da entrevista:

Fabio Rocha,TV Globo / Divulgação
Como Bárbara, na novela "Um Lugar ao Sol"

Você costuma assistir a seus trabalhos? Com que olhar?

Sempre me assisto e sempre peguei leve nas críticas. São construtivas, mas acredito na técnica e estou sempre afinando minhas notas internas ou, ao contrário, “desafinando” para determinadas cenas. Gosto de assistir para poder ver se consegui contar bem a história proposta, se aquela emoção tocou ou se o silêncio pelo qual optei funcionou. Minha intuição também me ajuda, mas a técnica vem do distanciamento. É um exercício poder me assistir. 

A Bárbara tem uma índole dúbia, para dizer o mínimo… Mas não é uma vilã clássica. Então, o público até pode se sentir envolvido e torcer por ela. Nesse sentido, você diria que, pelo que vem por aí, ela será mais odiada ou que pode ganhar mais torcida?

A Bárbara já sofreu bastante desde o começo da trama e acabou sendo vítima do Christian, que finge ser o seu marido, Renato. Ela está perdida. É bipolar como a mãe, tentou suicídio… É uma personagem complexa. Já se apresentou classista, preconceituosa, elitista, entre outras falhas. Ao mesmo tempo, não é uma “vilã” clássica, que gosta do mal, de fazer maldades. Ela quer ser uma pessoa boa e achar um caminho para a felicidade, mas vai se perder bastante ainda. Antes de mais nada, ela precisa da verdade, porque a vida dela é uma mentira. Ela ainda só não sabe o quanto.

Fabio Rocha / TV Globo/Divulgação
Na novela das nove, “Um Lugar ao Sol”, Alinne contracena com Cauã Reymond, com quem namorou entre 2002 e 2005

O fato de você e Cauã viverem um casal na trama, depois de já terem sido um casal na vida real, gerou bastante curiosidade. A naturalidade e a tranquilidade com que vocês lidaram com isso parece surpreender um pouco as pessoas... Era uma repercussão esperada?

Era. Existe um interesse natural sobre os casais das novelas, mas, entre nós, por sermos ex-namorados, é ainda maior. Nosso único pacto era fazer o melhor possível com essa parceria. E fizemos isso! As pessoas estão gostando muito do casal. Quando tínhamos tempo, entre uma cena e outra, batíamos o texto antes de entrar e também sugeríamos coisas um para o outro. A nossa intimidade nos permitiu ser uma dupla de verdade em cena. O Cauã foi um grande parceiro!

Li que você pretende viver sua maturidade plenamente nas telas, no sentido de não fazer intervenções estéticas e poder, sim, dar vida a mulheres mais velhas… Essa foi uma vontade de atriz desde sempre ou foi sendo elaborada com o tempo?

Desde sempre. Nunca curti grandes intervenções. Acho bonito o natural da idade e a beleza que vem com ela. De três em três meses, consulto com minha dermatologista e cuido da minha pele com tratamentos não invasivos e só. Quero envelhecer sem a cobrança de parecer jovem. 

Questões estéticas, se supõe, já tomaram muito de seu cotidiano como modelo, certo? E agora, como você lida com essa pressão que existe sobre as mulheres se manterem jovens, bonitas?

Quando eu era modelo, adolescente, era magra e comia bastante. Já hoje, não como qualquer coisa, não como fritura e não tomo refrigerante. Opto sempre por um prato colorido e leve, mas não por pressão. É uma escolha, pela minha saúde. Me exercito, no mínimo, duas vezes por semana. Corro na esteira, faço balé, ioga ou um alongamento. Gosto de me cuidar e de me sentir bem, mas essa pressão por um padrão não me faz bem.

Instagram @alinnemoraes / Divulgação
Em família: ao lado do filho, Pedro

Você parece uma mãe muito apaixonada por seu filho, Pedro. O que a maternidade trouxe para a sua vida?

Amo ser mãe, criar, estar junto e brincar junto, mas também tem os momentos sérios em que conversamos sobre as questões que vão aparecendo com cada idade. Adoro ter momentos especiais com o Pedro. E temos muitos! A maternidade me deu e me dá isso de presente todos os dias. Nos sentimos completos com o Pedro, por isso, por enquanto, o Mauro e eu não temos planos de ter mais filhos. Gostamos que seja só nós três.

A pandemia e suas consequências, como a reclusão, levaram muita gente a reflexões profundas. Aconteceu com você? Como esse difícil período marcou você e sua família?

A ansiedade cresceu com a pandemia. No começo, o que me ajudou bastante foi ter a oportunidade e o privilégio de estar trabalhando com todo o cuidado e com todos os protocolos de segurança. Foram momentos em que esquecia o pesadelo “pandemia” para embarcar na vida da personagem. Hoje, passo a maior parte de tempo em casa. A vida social mudou bastante. Os trabalhos e as reuniões passaram a ser online. É tudo muito novo. Mesmo depois de dois anos, ainda tenho a sensação de uma certa impotência. Ficamos só nós três em casa, eu cuidando da limpeza da casa e o Mauro cuidando da cozinha e das roupas. Ficamos assim até o momento de voltarmos para o trabalho.

E sua mãe, como vai? Li que ela tinha o sonho de ser modelo (e você acabou se tornando). Vocês se falam seguidamente?

Minha mãe está bem! Ela mora e dá aulas de educação artística em Sorocaba (no interior de São Paulo). Ela sonhava em ser modelo quando era menina, mas engravidou muito jovem e foi mãe solo com o apoio da minha avó. Ela estudava e trabalhava ao mesmo tempo. Eu, assim como ela, cresci com o sonho de modelar, de viajar e poder fazer meu o “pé de meia”. E ela me incentivou e parou tudo para me acompanhar na busca do meu sonho. Hoje, por conta do trabalho, ela vem mais pro Rio do que eu vou para Sorocaba. Minha mãe é coruja, ama cinema, teatro… Já televisão, ela não vê muito. Só assiste para me acompanhar em uma novela ou outra, mas já confessou que prefere me ver em filmes e no teatro.

Quais são seus próximos projetos envolvendo dramaturgia? Que planos tem para a sua carreira nos próximos anos?

Meu projeto atual está sendo poder ficar comigo mesma. Preciso me esvaziar para me encher de coisas novas. Estou em casa, de férias e acompanhando a novela das 21h que está maravilhosa!


MAIS SOBRE

Últimas Notícias