Folia na Capital
Como foram os desfiles das escolas do Grupo Ouro
Após dois anos, Complexo Cultural do Porto Seco foi palco de desfiles de alto nível
Os jurados terão trabalho para decidir quem venceu o Grupo Ouro, composto pelas escolas de samba da elite do Carnaval 2022 de Porto Alegre. O alto nível do que foi exibido desde o início da noite deste sábado (7) não permite cravar qual agremiação vai erguer o troféu.
Antes da primeira escola, o bloco da Sustentabilidade, formado por servidores do Departamento Municipal de Limpeza Urbana (DMLU) levou ao público uma mensagem de conscientização ambiental. Junto com o grupo, de cerca de 50 pessoas, estava o prefeito Sebastião Melo, acompanhado da primeira-dama, Valéria Leopoldino. Ao atender a reportagem de GZH, ele declarou que estuda uma forma de viabilizar a entrada gratuita para o Carnaval de 2023.
O público animado para prestigiar os desfiles não se intimidou com o frio no Complexo Cultural do Porto Seco e preencheu os espaços nos camarotes e arquibancadas. A principal mudança física do sambódromo foram os camarotes (mais numerosos, em ambos os lados) e os dois segmentos de arquibancadas (na concentração e na dispersão), ambos totalmente cobertos.
Na sexta-feira (6), ocorreu a apresentação da tribo Os Comanches e os desfiles das agremiações do Grupo Prata.
Fidalgos e Aristocratas
A escola de samba Fidalgos e Aristocratas abriu a competição logo depois das 21h. Se alguém subestimou a escola, que conquistou o Grupo Prata no desfile anterior e conquistou o acesso, foi surpreendido com um desfile à altura do Grupo Ouro. Com o tema-enredo "Fidalgos no Mundo da Lua", a agremiação trouxe uma ampla visão lunar sobre vários aspectos, inclusive como morada de São Jorge Guerreiro, devidamente representado com uma escultura gigantesca.
— Foi feito um trabalho muito legal, com certeza alcançamos em torno de 80% do que se queria. A Fidalgos tinha vários quesitos bons, a gente conseguiu traze-los, foi muito sacrificante, mas a volta do Carnaval em Porto Alegre merecia uma abertura do Grupo Ouro a estilo Fidalgos e Aristocratas — disse o diretor de Carnaval, Braulio Pontes Neto.
Acadêmicos de Gravataí
A onça negra rugiu e anunciou Acadêmicos de Gravataí. Os rituais de cura e libertação, além dos processos de purificação do espírito, a ponto de formar uma nova humanidade, eram visíveis durante a apresentação. Como título: "Kambô, vem da floresta o ritual de cura da humanidade".
Quem esteve presente na comissão de frente foi o ator e bailarino Demerson D'Alvaro, que interpretou Exu, com a Acadêmicos do Grande Rio na Sapucaí. Ele foi um dos destaques da escola campeã do Rio de Janeiro e esteve a auxiliando a escola da Região Metropolitana gaúcha. Assim como no Carnaval do Rio, Demerson também desfilou por uma agremiação que não é da Capital. A Grande Rio é de Duque de Caxias.
—A escola veio bonita e evoluída, agora temos que esperar pela apuração. Nós de Gravataí sofremos o ano todo devido aos recursos, mas além de tudo, provamos que temos a comunidade que nos abraça e vai até o fim onde a gente estiver — afirma o presidente da agremiação, Anderson Nascimento.
União da Vila do IAPI
Com um refrão marcante e cantado a plenos pulmões, a União da Vila do IAPI encheu os olhos do público com batuque e axé. Enquanto todos repetiam "bará, bará, bará, vem trabalhar!", integrantes davam banho de pipoca no público. Também não faltaram mel, pimenta e outras oferendas. Como fio condutor, a figura do príncipe negro Custódio Joaquim de Almeida.
Conforme o carnavalesco Sergio Guerra, o trabalho da escola envolveu muita dedicação e o resultado é positivo:
— Enaltecemos também toda a parte da religiosidade, um príncipe negro, que lutou e chegou onde chegou. E nesses 250 anos de Porto Alegre, enaltecemos a parte do Mercado Público, onde está o bará do mercado.
Império do Sol
Com Império do Sol, de São Leopoldo, houve uma importante reflexão sobre racismo. O negro escravo no Rio Grande do Sul ditou o enredo. Como tema: "A Império pergunta: a carne mais barata no Brasil será sempre negra?", alusão a uma das músicas mais marcantes de Elza Soares.
Segundo Tainara Caceres, autora do enredo e também madrinha de bateria, independente do resultado, o mais importante no desfile era passar a mensagem do tema em relação ao racismo.
Bambas da Orgia
O foguetório teve início e o público levantou de vez com a chegada de Bambas da Orgia. A expectativa para assistir à atual campeã foi devidamente correspondida. A alegria dos componentes ao final do desfile combinou a euforia da torcida. O enredo mesclava o sagrado e o profano sob as bênçãos de Maria e de Iemanjá. A fantasia da bateria, por exemplo, trazia referência ao tema do desfile de 1976: a consagração a Nossa Senhora dos Navegantes. Se a comissão de frente citava as romarias, a primeira alegoria fazia menção à proteção de Oxum. Bambas conseguiu: mais um desfile histórico e o recado dado de que a fé e o amor podem, sim, ter nomes diferentes.
Estado Maior da Restinga
A Estado Maior da Restinga foi a sexta escola a iniciar seu desfile. Os tinguerreiros, como são conhecidos, entraram com o enredo "A Restinga de alma e coração, canta redenção na Porto Alegre da minha paixão", com referência ao Parque.
Na dispersão, integrantes ainda entoavam o trecho "eu sou tinga e daí", entre lágrimas e abraços.
— O sentimento é de emoção pura e felicidade. Há dois anos estamos sem Carnaval, não só a Estado Maior da restinga, mas todas as escolas. E estamos querendo colocar essa alegria para fora. E nossa escola para mim é a campeã, a comunidade veio com muita garra, força e amor — disse a madrinha da bateria da escola Viviane Rodrigues, logo após a passagem pela avenida.
Imperadores do Samba
A Imperadores do Samba usou seus carros alegóricos, adereços e fantasias para homenagear Porto Alegre passando por palcos da cidade, como o Theatro São Pedro, Teatro Renascença, o Anfiteatro Pôr-do-Sol, a Casa de Cultura Mário Quintana e, até mesmo, os palcos da bola, estádios Beira-Rio e Arena. Um dos últimos carros representou a Redenção, celebrando a diversidade.
— A gente deu nosso melhor e acho que o resultado será positivo. Estou muito feliz e satisfeita com o que eu vi na avenida, a escola veio compacta e cumprindo os requisitos. Estou na expectativa pelo título — disse a presidente Luana Costa.
Imperatriz Dona Leopoldina
"Me respeita!" fazia parte do canto da Imperatriz Dona Leopoldina. A escola de samba deu voz a mulheres de diferentes realidades, profissões, culturas e raças. A apresentação em cada ala trazia mensagens de defesa ao voto feminino, a luta contra a violência doméstica e a libertação da mulher. A agremiação se tornou espaço de acolhimento e refúgio para mulheres.
— Fui destaque na ala "Lugar de Mulher é Onde Ela Quiser" e para mim é muito significativo porque sou advogada e, acima disso, musa do Carnaval. A minha emoção também é de tudo que tem por trás, o trabalho de conscientização e combate contra a violência doméstica e contra o assédio. O nosso samba vai muito além da passarela, ele ajudou e resgatou muitas mulheres — explica a advogada Fabiane Xavier, 33 anos.
A fantasia dos componentes da bateria, por exemplo, fez alusão as vestimentas religiosas usadas por freiras e chamou a atenção do público que comentava sobre.
Império da Zona Norte
A Império da Zona Norte adentrou a passarela sob forte neblina e já clareando o dia. Com carros alegóricos que contavam o crescimento da região, os sambistas cantaram o tema-enredo "Memórias da Zona Norte, ressoam tambores Imperianos". A composição ainda contou com um pouco de bairrismo, com a frase "deu pra ti baixo astral" e homenageou os 250 anos da Capital.
— Temos a convicção que estamos no páreo. Foi um grande desfile para ser campeã. Foi válido o esforço de todas as coirmãs e de todos que fizeram o evento acontecer porque era necessário e era urgente. Estamos felizes com o retorno e isso só pode ser positivo — comenta o diretor de Carnaval, Júlio César Lemos, o Julião.
Atrás da escola, após finalizar a passagens de todos os integrantes e carros, um bloco de foliões entrou na pista e comandou um arrastão animado.