Gauchesco e brasileiro
Neto Fagundes celebra 40 anos de carreira em show no Theatro São Pedro
Compositor, músico e comunicador se apresentará com banda neste sábado
Com a voz e o violão que entoam a música regional gauchesca, mas também o cancioneiro latino-americano, sem deixar de se adaptar aos mais diversos ritmos brasileiros. Sem perder as origens, lema que carrega por acertado conselho do pai, Neto Fagundes completa 40 anos de carreira e, se pudesse definir tal trajetória em apenas uma música, essa seria o Canto Alegretense.
— Quando cantei pela primeira vez, sabia que era uma música localizada e que seria famosa na cidade, mas acabou tomando uma proporção gigantesca, sendo cantada e regravada por muitos artistas, inclusive de fora do país. O Canto Alegretense se tornou um escudo para mim e também uma tradução da minha trajetória.
Os primeiros passos do intérprete, comunicador e apresentador do Galpão Crioulo da RBS TV começaram em Alegrete, na Fronteira Oeste. Convivendo em uma família de artistas, desde pequeno já cantava. Avô (Euclides Fagundes) e pai (Bagre Fagundes) o incentivavam a seguir a carreira artística enquanto ele ainda alimentava a ideia de ser jogador de futebol ou advogado, tendo cursado parte da faculdade de Direito em Porto Alegre. O salto para se decidir pela música foi ter cantado Presídio Prezado, do primo e compositor Aldo Justo, no Festival Alegretense da Canção, no começo dos anos 1980.
— Não ganhamos o festival, ficamos em segundo lugar, mas aquilo foi muito importante, foi o empurrão que faltava para buscar a carreira de artista. Isso foi no início dos anos 1980 e não era muito glamouroso ser artista na época. Lembro ainda de ter ido a um baile com o artista Pablo Sebastián em Alegrete, e ele convidou meu pai para tocar junto. Fiquei impressionado com aquilo e tive mais uma vez a certeza de que seria cantor.
Dali foi um pulo para participar da Califórnia da Canção com músicas paradigmáticas para a cultura do Rio Grande do Sul, como o Canto Alegretense e Origens, composições de Nico e Bagre Fagundes. Também foi o período do Grupo Inhanduy, em que cantava com o pai e o irmão Ernesto, uma espécie de prévia de Os Fagundes. Não foi o vencedor da 11ª Califórnia da Canção de Uruguaiana, mas já emocionava o público em 1981 com a música Escravo de Saladeiro. Essas músicas clássicas ainda fazem parte do repertório do guri de 18 anos que desceu de um ônibus na rodoviária de Porto Alegre em 1981 para ficar, trazendo somente uma mochila e um violão.
Entre bares da cena noturna porto-alegrense da época — o Pulperia e o Macanudo, lugares de encontro da juventude universitária — e festivais onde se apresentou, Neto foi cultivando amigos e parcerias. No Planeta Atlântida, abriu o evento 12 vezes, com artistas como Fresno e Armandinho. Fez parceiros no Carnaval de Porto Alegre e com os roqueiros do Rock de Galpão. Parcerias que também se consolidaram no rádio, caso do personagem Nego Véio do Pretinho Básico, da Rádio Atlântida, e na TV, com o Galpão Crioulo. Já são 22 anos de apresentação do programa televisivo, onde, ao lado da cantora Shana Müller, convida artistas novos e consagrados para se apresentarem:
— O Galpão Crioulo é um espaço de oportunidades. Durante toda a pandemia ele não parou, dando visibilidade aos artistas que enviavam seus clipes para a produção do programa e queriam mostrar seu talento. Em geral, na TV e no rádio, temos poucos espaços para os artistas regionais porque a cultura vem muito de cima para baixo, do centro do país, e muitas vezes os artistas novos preferem gravar um sertanejo porque vai bombar mais rápido.
Origens
A gênese e a consolidação do artista e comunicador estará presente no show de comemoração aos seus 40 anos de carreira neste sábado (7), às 21h, no Theatro São Pedro (Praça Marechal Deodoro, s/n°) – ingressos a partir de R$ 40, à venda em sympla.com.br –, com um repertório que representa cada etapa da carreira. O espetáculo percorrerá desde Presídio Prezado, passando por Tum Tum Tum (Bebeto Alves), A Hora do Mate (Neto Fagundes) e Beirando o Rio (Giba Giba e Celso Ferreira), além de parcerias que firmou ao longo das quatro décadas.
Já do cancioneiro regional brasileiro Neto vai interpretar Lamento Sertanejo, de Gilberto Gil e Dominguinhos. Origens, tema do Galpão Crioulo, ganha uma nova roupagem. O Canto Alegretense será executado da forma original em um resgate da história e das memórias do artista e da família:
— Eu, o pai e o Ernesto, como o antigo Grupo Inhanduy, vamos cantar como foi da primeira vez. Vai ser um momento emocionante para nós e o público.
Acompanhado de uma banda poderosa composta por Paulinho Fagundes (violão e guitarra), Miguel Tejera (baixo acústico e elétrico), Rafa Marques (bateria), Luiz Mauro Filho (piano), Matheus Kleber (acordeom) e Tuti Rodrigues (percussão), Neto destaca que escolheu pessoas talentosas, mas também envolvidas com a música gauchesca. Conta que está entre amigos e quer que o público assim se sinta.