Em podcast
Giovanna Ewbank e Taís Araújo se emocionam ao falar sobre racismo e maternidade
"Para ser mãe de crianças pretas, é necessário construir uma aldeia", escreveu a apresentadora nas redes sociais sobre a conversa
A apresentadora Giovanna Ewbank, que recentemente discutiu com uma mulher em um restaurante de Portugal após ela proferir ofensas racistas a seus filhos Titi e Bless, relatou que teve a ajuda da atriz Taís Araújo para escolher a escola da filha mais velha. No episódio desta terça-feira (2) do podcast Quem Pode, Pod, comandado por Giovanna e por Fernanda Paes Leme, as três conversaram, entre outros assuntos, sobre maternidade e racismo.
"A maternidade nos aproximou. E para ser mãe de crianças pretas é necessário construir uma aldeia, então nossa troca é e sempre foi fundamental. Nos emocionamos muito nesse bate-papo ao falar dos nossos filhos. Tudo isso sem saber que, uma semana depois, o racismo nos atingiria de frente. Nós. Porque quando uma criança sofre uma violência dessa, todas nós mães sofremos juntas. Que esse bate-papo que seja um serviço pra toda a sociedade. E que siga nos fortalecendo", escreveu Giovanna nas redes sociais ao anunciar o novo episódio do podcast, que foi gravado antes do que aconteceu em Portugal.
— A nossa relação começou através de um telefonema seu quando a Titi chegou no Brasil. Você me falou que estudou em uma escola particular e que sempre viu, na escola, mulheres pretas em posição de servir. E me falou: "Eu só te peço para que você tenha essa visão na hora de escolher a escola da tua filha. E eu estou aqui para te ajudar, estou aqui para o que você precisar". E isso, pra mim, foi de uma importância... Porque você me deu um parâmetro que eu não tinha — afirmou Giovanna em trecho da conversa, enquanto Taís escutava emocionada.
— Você foi muito incrível. Essa frase me pegou muito! De fato, os filhos nos transformam, dão propósito e o propósito da minha vida hoje é mudar esse mundo para que o mundo para eles seja melhor. Quero te agradecer. Você é um put* exemplo para mim e para os meus filhos — declarou ainda a apresentadora.
Taís explicou por que decidiu entrar em contato:
— Eu fiquei muito pensando assim: o que vai ser da vida de uma menina negra, africana, criada por dois brancos de olhos azuis e que o mundo só está a serviço deles? — revelou Taís sobre a adoção de Titi. — Eu entendo você, Giovanna, principalmente. Você não passou nada do que seus filhos passaram, vão passar e estão passando. Eu entendo total a sua revolta: "tem que ir para a porrada!". Só que a gente toma porrada desde sempre. Você dando porrada em outra pessoa branca é encarado de outra maneira de eu dando porrada em uma pessoa branca. É o famoso: "vocês que são brancos que se entendam!"
E prosseguiu:
— A infância de uma criança negra é muito dura nesse país, e de uma criança negra com uma situação financeira como a deles, sobretudo, porque ela vai ter muitos privilégios, muitos acessos, mas, ao mesmo tempo, é de uma solidão imensa — completou Taís.
Comentário racista de ator
Em outro momento da conversa, Giovanna questionou Taís sobre os rótulos de "mulher metida" e "raivosa" atribuídos a mulheres negras em posições de poder. A atriz então contou que sempre foi vista dessa maneira.
— Escuto isso, sei lá, desde que saí da maternidade. As pessoas olharam e falaram "Nossa, que garota metida" (risos). Desde sempre! E eu confesso que na minha infância e adolescência, fatalmente, eu tive que levantar meu nariz, porque senão eu seria atropelada. Eu fui criada sempre num lugar muito branco e muito de elite. Então, se eu não me impusesse, eu ia ser atropelada por todo mundo e eu não tava a fim de ser atropelada por ninguém — pontuou.
Sem citar nomes, a artista contou a situação que viveu com um ator durante a gravação de uma novela.
— Uma vez, um ator na Globo virou pra mim e falou assim: "Engraçado, eu não conheço nenhum negro bem-sucedido que não seja prepotente e arrogante"— relatou ela. — Aí eu virei e falei pra ele: "Será que é você que não está acostumado a ver negros em lugares de poder e só entende negro em lugar de subserviência? Se não estiver em lugar de subserviência, se não estiver subserviente a você, você acha que é prepotência? Será que não é o seu olhar que tá acostumado?" — relatou.
De acordo com o relato de Taís, o ator "não teve resposta".
— Eu lembro muito bem, eu estava dentro do carro, trancada com ele, gravando uma cena — completou.