Noveleiros
Michele Vaz Pradella: entre o ódio e os aplausos
É quase um desafio odiar vilões interpretados por atores talentosos
Admirar os atores que interpretam personagens do bem é fácil. Difícil mesmo é ovacionar artistas que, em cena, cometem as piores atrocidades. É preciso muita racionalidade para desvincular um grande ator de um tipo desprezível que interpreta na telinha.
Antonio Calloni que o diga. Na pele do juiz Matias Tapajós, em Além da Ilusão, ele tirou a vida da filha logo na primeira semana da trama. O pai da moça queria acertar o mágico Davi (Rafael Vitti), mas seu joelho falhou, levando-o a atingir Elisa (Larissa Manoela).
O mais perverso foi que Matias forjou provas, comprou testemunhas e colocou o jovem inocente na cadeia por 10 anos! Não é à toa que o ex-juiz foi perdendo a sanidade com o passar do tempo, tamanha culpa que carrega. É aí que reside a humanidade de um personagem que tinha tudo para ser odiado, mas que no fundo causa até uma certa empatia. Mérito do talento surreal de Calloni.
Vilão “mardito”
Em Pantanal, não tem como defender Tenório (Murilo Benício). Desde a juventude, ele deixou um rastro de sangue pelas terras por onde passou, só está interessado em esconder suas maracutaias e tem opiniões bastante controversas sobre família e sociedade.
Porém, há rachaduras na dura casca do vilão, que já se mostrou frágil em alguns momentos, a ponto de chorar como um bebê ao lembrar de sua infância sofrida. Murilo tem um personagem complexo nas mãos e, até agora, não decepcionou. Pelo contrário. É quase um desafio odiar um tipo repleto de nuanças.