"Ara, larga mão!"
Casamentos, reencontros e uma triste despedida: "Pantanal" chega ao fim e vai deixar saudade
Personagens e cenas emblemáticas conquistaram os telespectadores
Quando o vozeirão de Maria Bethania entoar pela última vez Filhos do Pantanal, hoje à noite, os corações de milhões de brasileiros estarão apertados e cheios de saudade. Chegou o momento de nos despedirmos de Juma (Alanis Guillen), José Leôncio (Marcos Palmeira), Filó (Dira Paes) e tantos outros personagens que acompanhamos nos últimos meses em Pantanal (RBS TV, 21h50min).
Novelão de verdade não acaba, permanece para sempre nas nossas memórias afetivas. E, a julgar pelo sucesso, pelas expressões que caíram na boca do povo, pela repercussão enorme nas redes sociais, não é exagero afirmar: Pantanal é eterna. Enquanto a chalana não cruza o rio pela última vez, confira os tiros certeiros e o que não agradou tanto assim aos fãs da trama.
“BÃO BISURDO”
/// Como não amar Juma e Joventino (Jesuíta Barbosa)? Se o casalzinho parecia incapaz de se entender no início da trama, aos poucos, o sentimento que os unia foi mais forte do que as diferenças que os separavam. Jove deixou de ser o garoto mimado e tornou-se um empresário de mão cheia, responsável e visionário, com ideias que abriram a cabeça do turrão José Leôncio. Já a menina-onça, aos poucos, abriu a guarda, viu que não precisava viver isolada em uma tapera e encontrou o acolhimento de uma grande e carinhosa família. De quebra, o casal trouxe ao mundo a “oncinha” Maria Leôncio Marruá, uma fofura pantaneira.
/// Que Dira Paes tem talento de sobra, isso não é novidade. Mas o certo é que Filó já está entre as melhores personagens – talvez a mais querida – na carreira da atriz. Entre tantos conflitos na fazenda dos Leôncio, Filó era a cola capaz de manter todos unidos, independentemente de laços de sangue. O que importava era o afeto, e isso todos os que passaram pelo local tiveram de sobra, além de uma boa comida, conselhos e prosas inesquecíveis. Do lado de cá da telinha, todos ficaram com vontade de experimentar o tempero de Filomena Aparecida, e quem sabe, fincar pouso no lugar mais aconchegante do Pantanal.
/// Pantanal foi um deleite para os sentidos. Das paisagens belíssimas às cenas marcantes, passando pelas rodas de viola, foi uma novela para ver, ouvir e sentir. E se emocionar, afinal, quando Tibério (Guito), Trindade (Gabriel Sater) e Eugênio (Almir Sater) ponteavam suas violas, era quase impossível conter as lágrimas. O cancioneiro popular do coração do Brasil atingiu em cheio a cada um dos telespectadores desse imenso país. Vai dizer que você não decorou a já clássica Cavalo Preto, moda preferida de Zé Leôncio?
/// Era impossível seguir à risca algumas cenas e situações da primeira versão de Pantanal. O mundo mudou, e com isso, importantes adaptações foram feitas, sem desrespeitar a essência da novela. A “tecnologia” de 1990 ficava restrita à chegada da televisão ao lar de José Leôncio. Desta vez, Jove instalou internet, trouxe celulares, usou drones e modificou muito o modo de trabalho do pai. Outro enfoque essencial foi a homofobia sofrida por Zaquieu (Silvero Pereira). Mariana (Selma Egrei) foi porta-voz dos dramas enfrentados pelo amigo, alertou para as questões LGBTQIA+ e deu verdadeiras aulas a José Leôncio e seus peões.
/// É impossível destacar apenas um ou dois talentos de um elenco impecável. Mas precisamos bater palmas para Isabel Teixeira, irretocável como Maria Bruaca. A evolução da personagem, de mulher submissa a dona de si, foi um exemplo para muitas mulheres da vida real. E não dá pra falar em Bruaca sem citar Murilo Benício, um monstro da atuação como o desprezível Tenório. Em cenas de arrepiar, o ator deu um show, no que já podemos chamar de melhor trabalho de sua carreira.
“LARGA MÃO!”
/// Empoderada e feminista, Guta (Julia Dalavia) chegou ao Pantanal botando banca, enfrentando o pai e tentando abrir os olhos da mãe. Porém, quando a situação se complicou para Maria Bruaca, a jovem acabou ficando ao lado do pai, e chegou a julgar as escolhas da mãe. Foi estranho alguém tão cheia de si apoiar um homem machista, violento e criminoso em detrimento da mãe, mesmo sabendo do sofrimento dela.
/// Até mesmo as melhores novelas sofrem com a famosa “barriga” – aquela fase em que quase nada de relevante acontece. Em Pantanal, não foi diferente. Foram muitos capítulos de Juma com “réiva”, dizendo a cada minuto “quérimbora”, quando foi viver na fazenda dos Leôncio. O flerte da “onça” com José Lucas (Irandhir Santos) também nada acrescentou à trama.
/// A maioria dos personagens passou por mudanças perceptíveis e mostram-se mais maduros nessa reta final. Menos Tadeu (José Loreto). Choramingando por não ter a mesma atenção que os irmãos, fugindo de um compromisso sério com Zefa (Paula Barbosa) ou soltando piadinhas preconceituosas, o peão mostrou-se um menino no corpo de homem: imaturo e carente.
/// A história original de Pantanal, que foi ao ar pela extinta TV Manchete em 1990, foi revisitada por Bruno Luperi, neto do autor Benedito Ruy Barbosa. Apesar de algumas atualizações, a maioria das tramas foi mantida, o que nem sempre agradou aos telespectadores. Um exemplo é a partida de Trindade, apesar da torcida do público nas redes sociais para que ele fosse feliz ao lado de Irma (Camila Morgado) e do “cramulhãozinho”.