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Eterna Rainha da Sofrência

Como o legado de Marília Mendonça continua presente um ano após a sua morte

Sertaneja faleceu em 5 de novembro de 2021, mas segue viva na música e no coração dos fãs

06/11/2022 - 12h22min

Atualizada em: 06/11/2022 - 12h24min


Camila Bengo
Camila Bengo
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Reprodução / Twitter @MariliMReal
Marília Mendonça, a Rainha da Sofrência, segue viva na música brasileira um ano após a morte

Há um ano, a voz de Marília Mendonça cessou. A cantora morreu precocemente, aos 26 anos, em 5 de novembro de 2021, vítima de um acidente aéreo, e o Brasil inteiro chorou. Mesmo quem não era fã da cantora sentiu o baque de ver alguém tão jovem, tão cheio de vida e com tantos sonhos a realizar, partir assim de repente, sem aviso prévio, de forma dolorosa. Era um consenso: Marília ainda tinha muita coisa a dizer por meio de seu trabalho.

Uma voz potente, única, capaz de transmitir as mais diferentes emoções através da música. Marília cantava com a mesma entrega a mulher que foi traída, a que foi amante e a que traiu. Representava em suas músicas a mulher que fazia de tudo para não perder a pessoa amada e a que decidia dar um basta na relação, priorizando a si mesma. Era, em suas canções, aquela que trocou o amor pelo copo de cerveja e só queria saber de farra, mas também a que sonhava com um final feliz dos contos de fada. Marília cantava tão bem a mulher brasileira que, para os fãs — a maioria mulheres —, mais parecia uma amiga, uma confidente. 

Sua morte foi sentida assim: como se quem estivesse partindo fosse alguém muito próximo, talvez até da família. Conforme Hans Ancina, DJ e comunicador da Rádio 92, essa sensação de proximidade que os fãs tinham em relação à cantora ainda permanece. É visível nas mensagens que o público da rádio envia algumas centenas de vezes ao dia, pedindo para ouvir "aquela" da Marília Mendonça, a amiga que se foi.

— Esse movimento de a Marília colocar nas músicas sentimentos do cotidiano, aquela dor de amor que todo mundo teve mais de uma vez, ou vai ter, faz parecer que ela é uma amiga. A forma como ela tratava os fãs também dava margem para as pessoas terem ela como muito mais do que uma artista. Até hoje as pessoas falam "a nossa Marília". Ou seja, ela não era de posse exclusiva dela, ela era de todo mundo — diz o radialista.

— Geralmente, vemos o cara que canta muito bem, o que trata a galera muito bem, outro que tem bons posicionamentos, outro que tem letras que fazem muita gente se identificar... Mas a Marília tinha tudo isso ao mesmo tempo. Ela sabia colocar os sentimentos das pessoas em música de uma forma chiclete, cantando muito bem e, acima de tudo, sendo uma pessoa incrível — completa Hans.

O resultado dessa soma de fatores faz com que, na 92, Marília seja disparado a cantora mais pedida. E não é de hoje. A sertaneja já era a preferida da audiência havia algum tempo, diz Hans, mas passou a ser ainda mais procurada postumamente. A diferença é que, depois da partida de Marília, o público se aprofundou ainda mais na obra dela, passando a solicitar não somente os grandes hits, mas também as canções "lado B". 

Um exemplo disso é a música Estrelinha, de Di Paullo e Paulino, com participação de Marília Mendonça, que virou uma espécie de hino em homenagem à cantora. A canção, na qual um narrador que morreu fala com o ente querido "lá do céu", não figurava na lista de grandes sucessos de Marília, mas hoje é pedida cerca de cem vezes ao dia pelos ouvintes da 92, conforme Hans. Fora os grandes sucessos — Infiel, Todo Mundo Vai Sofrer, De Quem é a Culpa? e Eu Sei de Cor, por exemplo —, que nunca perderam a importância junto aos fãs. 

— O impressionante é que não é nem só uma questão de a Marília ser a mais pedida, mas é com absurda diferença para o segundo e terceiro colocados. Vou chutar um número: a cada cinco pedidos de música, três são Marília Mendonça — diz o comunicador da 92. — A gente tem muitos pedidos de Gusttavo Lima, de Henrique & Juliano, essa nova geração, e também os clássicos do sertanejo, mas a Marília está alguns patamares acima disso. É sem dúvida a artista mais pedida da rádio. 

Neste domingo (6), a artista será homenageada pela 92 em uma edição especial do programa Domingão das Patroas, apresentado a partir das 16h por Amanda Souza e Mari Araújo. E vai seguir figurando na programação da rádio, porque, como artista, Marília Mendonça nunca morreu. 

GZH lista a seguir as formas como a Rainha da Sofrência continuou presente mesmo após sua partida. 

Disco

Marília Mendonça deixou uma série de trabalhos a serem lançados quando faleceu. Em 21 de julho de 2022, data em que ela completaria 27 anos, a família da cantora lançou nas plataformas digitais o EP póstumo Decretos Reais Vol. 1. 

O disco conta com quatro faixas que foram extraídas da live Serenata, feita por Marília em maio de 2021, ainda durante a pandemia de covid-19. São músicas de outros artistas, mas que faziam parte da vida da goiana: Te Amo Demais, hit de Leonardo; Te Amo Mais que Posso Dizer, conhecida na voz de Ovelha; Não Era pra Ser Assim, de Zezé di Camargo e Luciano; e um pout-pourri das canções Sendo Assim, de Genival Santos, e Muito Estranho, de Dalto. 

Era um dos lançamentos mais aguardados do ano na música brasileira. Não à toa, a chegada do EP ao Spotify causou instabilidade no serviço da plataforma, a mais utilizada pelos brasileiros para ouvir música. Em mais uma demonstração da força que tem Marília Mendonça, o álbum póstumo "quebrou o Spotify", e ninguém se surpreendeu com isso. 

Parcerias

Além do disco, a voz de Marília também seguiu ecoando em músicas com outros artistas, gravadas antes de sua morte. Mais de cinco canções foram lançadas desde então.

O pagode Insônia, parceria com Ludmilla, que figura entre as mais ouvidas das duas cantoras no Spotify; Amigos com Derechos, gravada com Dulce Maria, ex-RBD; Amava Nada, na qual Marília divide os vocais com Lucas Lucco; Mal Feito, com Hugo e Guilherme, cujo refrão virou inclusive trend nas redes sociais; 50%, com Naiara Azevedo; e Calculista, ao lado da dupla formada por Dom Vittor e Gustavo, irmão de Marília.

Músicas gravadas

E por falar em canções, Marília deixou 331 registradas em seu nome, de acordo com informações do Escritório Central de Arrecadação e Distribuição (Ecad).

Há 98 músicas registradas pela cantora que nunca foram lançadas. A missão de fazer com que as canções cheguem até os fãs ficou, então, com a família de Marília, que já adiantou que outras gravações dela ainda serão lançadas. O próprio projeto Decretos Reais deve ganhar novos volumes, para a alegria de todos.

Composições

Marília também segue viva através das canções que escreveu para outros artistas. Foi como compositora que ela começou na música — aliás, no início da carreira, travou muitas batalhas para que também a deixassem cantar — e, segundo o Ecad, há 152 composições dela que foram gravadas por colegas.

São canções como Cuida Bem Dela e Até Você Voltar, sucessos da dupla Henrique & Juliano; É com Ela que Eu Estou, eternizada na voz de Cristiano Araújo; Saudade Idiota, cantada por Lucas Lucco; e Minha Herança, gravada por João Neto e Frederico quando Marília tinha apenas 17 anos, mas já dava sinais de que seria uma das maiores artistas do Brasil.

Recordes

Mesmo após a morte, a Rainha da Sofrência não parou de bater recordes. Na semana do seu aniversário, por exemplo, tornou-se a primeira brasileira a atingir 8 bilhões de execuções no Spotify. Com isso, superou a marca anterior que, sem surpresa, também era dela.

No YouTube, Marília se tornou, em março deste ano, a artista com o maior número de vídeos com mais de 100 milhões de visualizações. O canal da sertaneja atingiu a marca pela 68ª vez com o clipe da música Não Casa Não. Hits como Infiel, Bem Pior que Eu e Eu Sei de Cor têm mais de 500 milhões de acessos cada um, ajudando Marília a tornar-se também a primeira brasileira a bater 16 bilhões de visualizações na plataforma de vídeos.

Inspiração

É por essas e outras que Marília é inspiração para a nova geração do sertanejo — um ritmo ainda dominado pelos homens, mas que ela foi capaz de conquistar como ninguém. Graças à trajetória construída pela Rainha da Sofrência, outras expoentes do chamado feminejo têm portas abertas para também construírem suas trajetórias.

O legado da goiana é reconhecido pelas novas cantoras da cena. Yasmin Santos, por exemplo, que recentemente integrou a trilha sonora da novela Pantanal com Ciclo Vicioso, exaltou a contribuição de Marília em participação no Caldeirão com Huck.

— Faço parte dessa nova geração de mulheres que puderam desfrutar de muitas coisas boas por portas que Marília Mendonça nos abriu nessa trajetória da música sertaneja — disse. 

Série

Marília inspirou até mesmo um seriado: RensgaHits, do Globoplay, que conta a história de uma menina do interior de Goiás que viaja para Goiânia em busca do sonho de se tornar uma cantora sertaneja de sucesso. Lembra alguém, né? 

Apesar de a série não ser sobre Marília Mendonça, a história da Rainha da Sofrência foi referência para a roteirista Renata Côrrea. Foi o que ela contou em entrevista coletiva com a imprensa, à época do lançamento.

— A Marília foi uma inspiração geral, não só para uma personagem. Eu já era muito fã dela. A trajetória da Marília de garota do Interior com um talento gigantesco e que estourou em todo o Brasil é um conto de fadas encantador, magnético — disse.

Projeto de lei

É nítido o quanto Marília Mendonça foi importante para a cultura brasileira. Contudo, a cantora também contribuiu em outra área: a segurança. Após o acidente aéreo que a vitimou, um Projeto de Lei (PL 4.009/21) foi proposto pelo senador Telmário Mota (PROS-RR), a fim de definir critérios para a sinalização das linhas de transmissão de energia elétrica e evitar acidentes aéreos como o que tirou a vida de Marília.

Se aprovada, a Lei Marília Mendonça vai introduzir e padronizar medidas de segurança sobre as linhas de transmissão de energia. O texto prevê, entre outras coisas, que as torres sejam pintadas com cores que possibilitem ao piloto identificá-las como sinal de advertência. A proposta já foi apreciada e aprovada no Senado e segue em análise na Câmara dos Deputados.


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