Estrelas da Periferia
O rap como ferramenta de transformação: Aliado RC rima contra os preconceitos
Artista usa seu som para abordar o dia a dia na periferia e lutar contra a desigualdade social e o racismo
Foi ouvindo Naldinho, Racionais MC’s e Thaíde, grandes nomes no rap e hip hop do Brasil, que Régis Cassiano de Oliveira, 39 anos, conhecido como Aliado RC, descobriu a paixão pelos gêneros musicais. Nas ruas da Vila dos Sargentos, no bairro Serraria, zona sul de Porto Alegre, onde mora até hoje, ele começou a produzir suas primeiras letras.
Em fevereiro de 2000, aos 17 anos, Aliado RC realizou sua primeira apresentação de hip hop. Ao lado de mais quatro amigos, o grupo Consciência Pesada levou música para os estudantes da Escola de Ensino Fundamental Custódio de Melo, no bairro onde mora.
– Éramos cinco. Ficamos dois anos com a mesma formação. Depois disso, o grupo terminou – conta. O incentivo para seguir investindo na música veio por meio de vozes conhecidas na Capital:
– Era 2007, me inspirei em alguns grupos aqui do meu bairro, como Artigo 12 e Tribo da Periferia, guris que se criaram comigo.
Identificado com a realidade dos grupos independentes, após notar que também poderia tentar a vida na música, Aliado RC começou a escrever suas primeiras letras autorais.
– Na época, eu pensei o seguinte: os caras são como eu, da favela, e estão fazendo o som. Eu também posso tentar, as realidades são parecidas – relata.
Em 2008, após um ano de gravações, lançou o CD Deus Tarda, Mas Não Falha, com seu novo grupo musical, o Atitude Consciente. Essa foi a primeira produção profissional do artista.
Pausa na carreira
Em meados de 2015, Aliado RC decidiu pausar a carreira. A decisão veio logo após integrantes do Atitude Consciente também optarem por isso.
– Eu acabei ficando sozinho, então senti um baque, estava acostumado a tocar em grupo. Decidi parar também – relembra.
Recomeço
Aliado RC retornou à música em 2020. Sem convites para gravações e colaborações, decidiu criar o seu próprio projeto para produções em conjunto com outros artistas. Aí, nasceu Cypher – Sobreviventes da Quebrada, que consiste em uma colaboração entre diversos nomes independentes do hip hop e do rap para lançar uma faixa, com videoclipe, por ano. Conectados por Aliado RC, que está presente em todas as músicas, o coletivo tem um objetivo bem específico.
–A ideia central é contar o nosso cotidiano através da música, com a visão de cada um ali. São pessoas de grupos diferentes debatendo sobre assuntos através do rap – explica.
Entre 2021 e 2022, Sobreviventes da Quebrada 1 e 2 reuniram mais de 10 artistas de Porto Alegre e da Região Metropolitana.
Em suas letras, além de relatar o cotidiano na Vila dos Sargentos, Aliado RC busca combater alguns males da sociedade:
– Vejo o rap como válvula de escape, um modo de lutar por coisas importantes. Busco contar o cotidiano na periferia, lutar contra esse preconceito racial cada vez maior e, principalmente, a desigualdade social.
Entre rimas e produções, Cassiano concilia a música com a venda de salgados para conseguir seu sustento:
– Hoje, infelizmente, a música ainda é um hobby. Eu não consigo sobreviver dela, então trabalho por fora, faço meus corres para sustentar minha família.
Sem shows marcados para o fim deste ano, o músico planeja começar 2023 com lançamentos e um novo grupo musical.
– Quero começar o próximo ano com Sobreviventes da Quebrada 3. Também estou formando um grupo, estamos batendo as letras e, logo, vamos para o estúdio – projeta.
Inspirado em Dexter, Racionais MC’s, Ataque Frontal e Rantaro, o artista almeja um futuro promissor na carreira artística:
– Além de ganhar a vida com a música, outro sonho, com certeza, é tocar no Planeta Atlântida. Da nossa cena, só o Da Guedes conseguiu até hoje. Também quero conseguir espaço em uma rádio comercial e gravar um programa de TV.
Pitaco de Quem Entende
Amanda Souza, comunicadora da rádio 92 (92.1 FM) e editora de Variedades do DG, fala sobre o trabalho do músico:
– Vozes de artistas que vêm da periferia, como as de Aliado RC e seus parceiros musicais, são fundamentais para a representatividade das comunidades. Vida longa ao projeto Cypher – Sobreviventes da Quebrada. Destaque para a letra contundente de O Fruto da Favela, forte e necessária.
AQUI, O ESPAÇO É TODO SEU
/// Para participar da seção, mande um pequeno histórico da sua banda, dupla ou do seu trabalho solo, músicas, vídeos e um telefone para contato para lucas.oliveira@diariogaucho.com.br.
/// Para falar com o artista, ligue para (51) 99642-0798
*Produção: Lucas de Oliveira