Estrelas da Periferia
Pioneiro do trap no Sul: Malcolm344 sonha em levar o ritmo do Estado para todo o Brasil
Artista se inspira em sua vivência para compor suas músicas
Foi esperando o ônibus da linha 344, que liga o bairro São José ao centro de Porto Alegre, que Wesley Malcolm Pedrozo de Oliveira, aos 12 anos, começou a se aventurar no mundo da música, rimando com os amigos. Aos 23, conhecido como Malcolm344, ele cresceu na zona leste da Capital e foi um dos primeiros artistas gaúchos a produzir trap por aqui.
– O 344 (referência em seu nome artístico) é uma forma de representatividade, por conta do ônibus aqui do Morro da Cruz. Eu ficava rimando nas paradas com meus amigos, bem na vibe do funk na época – conta.
Porém, a conexão com a música começou ao comprar um DVD. Malcolm e sua mãe esperavam ver os três filmes da franquia Jogos Mortais, mas o registro audiovisual tinha apenas clipes musicais.
– Era pirata mesmo, sabe? Não tinha nada de filme, mas tinha uns 30 clipes, de todos os tipos de música. A partir dali, comecei a acompanhar, passava o dia todo assistindo – relembra.
Após gravar alguns vídeos no estilo freestyle, rimando em cima de uma batida conhecida, Malcolm viralizou nas redes sociais e foi para um estúdio musical pela primeira vez.
– Entrei em um estúdio em 2017, mas eu era leigo em questão de produção, só pedia para o cara alterar aqui e ali. Minha primeira música teve qualidade, mas não saiu como eu queria – conta.
Malcolm foi pioneiro no trap no Rio Grande do Sul, sendo um dos primeiros artistas a lançar uma música do gênero com clipe aqui no Estado. Apesar disso, ele ocultou a produção de seu canal no YouTube, por achar que poderia ter feito algo melhor, como atualmente.
– Fui um dos primeiros a, de fato, fazer trap no Sul, com clipe e tudo. Com a ajuda de amigos, gastamos R$ 2 mil para gravar. A música é boa, mas ficou muito amadora, eu era muito leigo – pontua.
Ele acredita que o ritmo é o seu principal diferencial, com letras, muitas vezes, construídas na hora, em freestyle. Malcolm deixou de passar suas rimas para o papel e começou a improvisar, como se sente mais à vontade.
– Meu ponto mais forte é o flow, eu crio umas melodias. Eu não sei explicar, na verdade. Mas eu gravo freestyle, verso a verso, então crio um flow diferente – explica.
Futuro
Detalhista com suas produções, Malcolm se inspira no cotidiano para criar sua arte. Insatisfeito com o primeiro lançamento, sozinho, ele começou a aprender técnicas de produção musical, como lançar suas músicas nas principais plataformas e montar o som como ele, de fato, quer.
– Hoje, eu não sou um produtor, mas eu sei me gravar e tirar uma música batendo. Eu considero um trabalho bom, está acima da média do que escuto por aí, nas ruas – revela.
Inspirado em Chris Brown, Wiz Khalifa e Young Boys, Malcolm quer levar o trap do Rio Grande do Sul para todo o Brasil. O artista ainda afirma que pretende lançar uma música por mês, até o fim do ano, mesclando trap e rap, com letras de resistência e empoderamento.
– Eu gravo toda semana, tenho músicas prontas já. Aos poucos, vou lançando para chegar ao máximo de pessoas possíveis. Quero estourar aqui, a cena está crescendo, mas ninguém do Sul explodiu no Brasil ainda – projeta.
Atualmente, o artista ainda não vive só da música e concilia o sonho com o trabalho em uma loja na zona sul da Capital. Mas os ganhos lhe permitem investir na carreira.
– Minha principal dificuldade sempre foi a grana, sabe? Para gravar, é dinheiro. Para alugar estúdio, é dinheiro. Montar um home-estúdio? Mais dinheiro ainda. Hoje, eu tenho um nome já, então consigo parcerias e descontos – afirma.
Clipe novo
No dia 2, o clipe de A Vida É a Mesma chegou ao YouTube. A música foi a primeira de um projeto com a Usina do Beat, selo independente que produz diversos artistas do trap e do rap no Estado.
– Foi um lançamento bem importante. A Usina do Beat, através do Rafael Riffel, está com o projeto de lançar um clipe por semana, com intenção de promover artistas daqui. E tudo é autoral, desde o beat – explica.
Pitaco De Quem Entende
Hans Ancina, DJ e comunicador da rádio 92 (92.1 FM), comenta sobre o trabalho do artista:
– O som tem muitas referências do tradicional trap norte-americano e das músicas nesse estilo que são produzidas no Brasil, mas a pegada local dá um tempero a mais. Muito sucesso para o Malcolm!
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*Produção: Lucas de Oliveira