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Marcou um X

Xuxa reflete sobre o passado e destaca amadurecimento: "Quantas vezes me intitulei loira burra?"

Prestes a completar 60 anos, apresentadora fala à Revista Donna sobre o foco na carreira e a coragem de assumir o controle de sua própria história

24/03/2023 - 14h49min

Atualizada em: 24/03/2023 - 14h50min


Cassiano Cavalheiro
Cassiano Cavalheiro
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Blad Meneghel / Divulgação
Xuxa completa 60 anos no dia 27 de março

Uma estrela que começou a brilhar na moda, estampou centenas de capas de revista e que se tornou um ícone da comunicação e da cultura pop. Ela marcou um X na televisão, no cinema, na música e, de diferentes formas, impactou a sociedade brasileira nas últimas décadas. 

Em constante atualização, Xuxa Meneghel, que celebra 60 anos na próxima segunda-feira (27), está prestes a lançar produções no streaming. Entre elas, um documentário sobre sua vida, dirigido por Pedro Bial, no Globoplay; a série Tarã, sobre conscientização ambiental, no Disney+; e o reality Caravana das Drags, no Amazon Prime Video. Todos com estreia prevista para este ano. 

Enquanto isso, o projeto do cruzeiro de navio que leva o seu nome está em alto-mar neste fim de semana, com direito a “xou” com a saudosa nave espacial e o Parabéns da Xuxa. A festa vai virar um especial que será transmitido na noite de seu aniversário pelo canal Multishow, que vai se transformar em “MultiXou”. 

Em entrevista à Donna, Xuxa revela-se uma mulher animada com a nova fase e os projetos profissionais, além de disposta a ouvir, reconhecer erros, aprender e, especialmente, a mudar de opinião quantas vezes achar necessário. 

Entre tantos projetos, o que você ainda quer realizar? E qual está mais animada em ver concluído este ano?

É óbvio que quero ver todos lançados. De preferência, se pudesse ser, tudo junto, para poder ter essa alegria, que deve ser uma endorfina maluca. Mas tudo bem, vou ter tudo separado e também vai ser muito bom. Espero que eles sejam recebidos com muito carinho, da mesma maneira que fiz. Tenho certeza de que vou aprender muito mais, que vão surgir outras coisas. É um privilégio chegar aos 60 com a certeza de ter muito a aprender.  

Teremos alguma turnê nos próximos meses?

Há uma grande possibilidade de termos uma turnê. Depois do meu aniversário no Navio da Xuxa, a gente vai sentar para conversar. Se a resposta do público for bacana a esse ponto, a ideia seria passar por 10 cidades do Brasil e encerrar com um show em Buenos Aires, na Argentina. Se chamaria O Último Voo da Nave, porque gostaria de aposentar a nave. Cada vez que as pessoas a veem, elas querem me ver de xuquinha e, depois dos 60 anos, não dá. 

O Rio Grande do Sul está inserido, de alguma forma, na agenda de 2023?

Com certeza. Se rolar a turnê, terá Porto Alegre. A produção até sugeriu começar por aí, mas sempre acho que devemos iniciar pelo Rio de Janeiro ou São Paulo, em função dos ensaios, da possibilidade de mudar, se algo não der certo. Como você sabe a respeito de Porto Alegre? Isso foi falado entre quatro paredes, hein! 

Em 2019, antes do show na capital gaúcha, você me respondeu em entrevista que nunca havia feito terapia. Por outro lado, transparece segurança, empoderamento, sensatez.

Poxa, obrigada! Mas para te responder isso, teria que sentir isso tudo o que você falou. Não me acho com toda essa sensatez, segurança e empoderamento. Estou aprendendo a lidar, a falar termos com os quais você deve se dirigir às pessoas que sofreram tanta discriminação, tanto preconceito. O mundo está mudando e tenho muito claro que temos que ter a cabeça aberta para mudar diariamente. Tenho muito a aprender, mas, claro, se puder passar as minhas experiências para as pessoas, vou fazer.  

Recentemente, você declarou: “Me olho e falo: nunca mais terei aquele corpo, aquela cinturinha”. Como lida com isso?

O que quis dizer é que as pessoas querem muito isso, que eu tenha aquela cinturinha, as medidas, o cabelo que nunca mais vou ter. Querem que tenha a idade, a vivacidade que nunca mais vou ter, que cante igual. Não gostam que a minha voz ficou mais rouca, sabe? Então, na realidade, as pessoas cobram muito isso de mim. 

Eu até me cobro, pois trabalho sempre com a minha imagem. Mas não é uma dor, não. Infelizmente, parte do meu público não aceita que eu envelheça, que as pessoas envelheçam. As pessoas deveriam se preocupar mais com seus corpos, com suas vidas, e deixar a vida, a cara das outras pessoas com a gente. Ninguém tem que se meter com o que faço com meu corpo. Se quiser mudar ou não, o problema é meu. 

Você também afirmou ser uma pessoa que muda quase diariamente. 

Nossa, mudo muito. Toda hora. Se pegar programas antigos, a maneira que falava, pensava. Primeiro, o Pelé falava muito na terceira pessoa e, em uma época, também comecei a falar: “A Xuxa isso, a Xuxa aquilo”, e acho isso horrível. Foi a primeira mudança, lá nos anos 1980. Depois tinham situações em que achava normal, comum, as pessoas falarem para mim: “Nossa, você está bonitinha, está gostosinha…”. E eu ria. Quantas vezes me intitulei loira burra? Repetia que não sabia falar. Quantas vezes deixei as pessoas falarem, pensarem no meu lugar. Mudei, mudo e vou mudar muito na minha vida. 

Antes, era muito difícil pedir desculpa para as pessoas. Hoje, além de desculpas, peço perdão. Por amar os animais, falei uma idiotice há pouco tempo, a respeito de pessoas presas, sugerindo que fossem feitos testes nelas e não nos bichos. Foi a maior idiotice do mundo. São pessoas, seres humanos. Aquilo atingiu, sim, muitas pessoas. Então, para elas, seus familiares e para qualquer pessoa que se sentiu atingida por essa fala, sempre peço perdão.  

Nos últimos anos, você enfrentou a morte de alguns familiares. Como você tem lidado com isso?

Dia 21 de janeiro perdi minha irmã, Mara, cheia de vida. Não estava doente nem nada, cheia de planos. Foi minha perda mais recente (nos últimos 10 anos, perdeu o pai e a mãe, além de Maria, que ela chamava de segunda mãe, um irmão, e o pet Dudu). Não é que a gente se acostume ou aceite, mas tem que entender. Basta estar vivo para morrer, não existe vida sem morte, e não existe morte sem vida. Acho que o sentimento de abandono, de perda, vai se transformando em outros tipos de sentimentos que não te fortalecem, mas te acalmam. 

Você participou de muitas campanhas sociais, mas também foi criticada por diferentes motivos. Qual o impacto disso na sua vida?

Sempre me dispus a fazer campanhas de vacinação, contra violência e abuso. Qualquer tipo que pudesse ajudar uma, duas, três crianças, apesar das críticas ao longo dos anos. Elas não me calaram. O que mais deu força para a minha voz foi a credibilidade que as pessoas têm na minha imagem e no meu nome e a minha vontade de fazer alguma coisa.

Já que elas me deram tanto, queria retribuir. O resto que as pessoas falavam de ruim não tinha peso para mim, pois se colocar em uma balança, não soma nem 1% comparado ao amor, respeito e carinho que recebo das pessoas. 

Que dica de saúde você daria ao seu público?

Se informe bastante sobre o que você come. As maiores doenças que estão surgindo na vida são em cima do que existe de comidas consumidas atualmente. 

Nos planos futuros, além de ser avó, que já sabemos que você quer, pensa em parar a carreira e só curtir a vida? 

Não! Não penso. Já falei essa bobeira também e mudei, graças a Deus. Agora, chego aos 60 anos com tanta coisa para fazer. Não sei quais são as portas que vão se abrir, mas tenho certeza de que, se forem boas oportunidades, vou encarar. Penso, sim, em aproveitar a vida. O que é uma coisa diferente. 

Ser avó é algo que penso e falo quase diariamente, mas isso gera uma pressão muito grande na minha filha. Então, sempre que falo, digo que é sem pressão. Mas mando vídeos lindos de crianças e digo: “Parece com você”, “Olha essa bochecha, parece do João”. Brincadeiras à parte, é uma grande verdade, a tia Xuxa está doida para ser chamada de vovó Xuxa.

O que a mantém ativa aos 60?

Acho que é o meu modo de vida. Minha alimentação, nunca bebi, nunca fumei, não me drogo. Acredito que meu trabalho me energiza. A natureza é energizante. E, claro, ter um homem ao meu lado que me ama do jeito que o Ju (o namorado, Junno, músico e ator) me ama. Meus hormônios agradecem e minha pele também.


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