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Cartão-postal da cidade

Fundação Iberê celebra os 15 anos de seu prédio icônico com o projeto de aproximá-lo ainda mais da comunidade

Data será comemorada com programação especial que começa nesta quinta-feira, em Porto Alegre

11/05/2023 - 12h25min

Atualizada em: 11/05/2023 - 12h26min


Camila Bengo
Camila Bengo
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Jonathan Heckler / Agencia RBS
Prédio da Fundação Iberê foi projetado pelo arquiteto português Álvaro Siza

A alvura das paredes e rampas que dão forma ao prédio da Fundação Iberê, em Porto Alegre, contrasta com o colorido gritante da sua vivacidade, sentida de perto por quem passa pela Av. Padre Cacique. É difícil decidir para onde olhar: de um lado, a exuberância do Guaíba; de outro, a imponência geométrica da construção, que desperta curiosidade tanto em visitantes de primeira viagem quanto em quem já cruzou a porta dela dezenas de vezes. Compreensível, pois uma visita à Fundação Iberê nunca é igual a outra: sempre há algo novo para ver no prédio que faz questão de ser visto. E que, neste mês, completa 15 anos de vida querendo não somente ser visto mas também vivido.

As comemorações alusivas ao aniversário do prédio iniciam-se nesta quinta-feira (11). Haverá uma série de atividades gratuitas (leia ao final do texto) até 30 de maio, com opções que vão de visita guiada a trilha ecológica, além da grande exposição O Estranho Desaparecimento de Vera Chaves Barcellos, em cartaz até 30 de junho em três andares da instituição. O quarto andar está ocupado com obras do patrono Iberê Camargo curadas pela artista.

A programação funciona como uma espécie de convocatória à população, conforme o diretor-superintendente da fundação, Emilio Kalil. O presente de aniversário que a instituição mais deseja receber é o abraço dos porto-alegrenses, concretizado na visita e no cuidado com o espaço que, apesar de levar o nome de Iberê, é de todos.

— Hoje, o que mais nos interessa é trazer a comunidade de Porto Alegre para dentro desse prédio — afirma Kalil. — Não estamos tão preocupados se o cara do Rio de Janeiro veio aqui e teceu elogios imensos à Fundação. Lógico que ele é importante, mas a nossa preocupação é que o visitante daqui considere o Iberê como seu — explica.

Kalil, que foi secretário de Cultura do Rio e passou por instituições como o Teatro Municipal de São Paulo e a Cidade das Artes, no Rio, concorda que construções imponentes como a da Fundação Iberê podem acabar afastando parte da população. É fácil não se sentir pertencente a espaços desse tipo, sobretudo para quem não tem familiaridade com o mundo da arte, mas é preciso quebrar a barreira.

Por isso, o prédio celebra seus 15 anos convocando as pessoas não só para admirá-lo pelo lado de fora, mas também para entrar. E vale a pena.

— Garanto que nenhum adulto entrará aqui sem se encantar pelas rampas, pelos corredores, pela madeira, pelas salas de exposições impecavelmente iluminadas. E, é claro, quem sai daqui depara com a paisagem do Guaíba, um cartão-postal. Ninguém esquece a sua primeira vez aqui — diz Kalil.

A Fundação

Quem nunca se esqueceu da sua primeira vez na Fundação Iberê foi o empresário Jorge Gerdau. Ele, ao lado da esposa de Iberê, Maria Coussirat Camargo — a Dona Maria —, foi peça fundamental para a criação da instituição, em outubro de 1995, e a posterior construção do edifício que hoje a abriga, inaugurado em 30 de maio de 2008.

Os dois, apoiados por outros amigos do artista, arregaçaram as mangas para que o projeto saísse do papel após a morte dele, em agosto de 1994. Era um desejo de Iberê Camargo, manifestado a familiares e amigos próximos em seus últimos anos de vida, conforme lembra Gerdau.

— Quando já estava adoentado, Iberê várias vezes demonstrou uma preocupação com o que aconteceria com o seu acervo — conta o empresário, que ocupa hoje a presidência da Fundação Iberê. — Nasce um Iberê Camargo a cada cem ou 200 anos. Nós, amigos dele, tínhamos consciência do trabalho extraordinário que ele deixaria e da preocupação que ele tinha com isso. Daí veio a ideia de construir um museu que servisse, fundamentalmente, para guardar o acervo dele. Por isso digo que o nosso viés é, em primeiro lugar, o de valorizar o trabalho dele; em segundo, o de trazer exposições importantes para a comunidade de Porto Alegre — explica.

Durante os primeiros anos, a instituição funcionou na casa onde viviam Iberê e Dona Maria, no bairro Nonoai. O desejo, porém, sempre foi construir um prédio próprio para a Fundação. A concretização contou com o apoio da prefeitura de Porto Alegre, que comprou a ideia de criar um museu para Iberê Camargo e cedeu, em 1998, o terreno no número 2.000 da Av. Padre Cacique, em frente ao Guaíba e aos pés de uma pedreira, cercado pela natureza.

A verba para levantar a construção veio de investimentos conquistados via leis de incentivo fiscal e de recursos captados junto a mecenas e simpatizantes da causa. Faltava decidir quem seria o arquiteto responsável pela obra — uma missão mais difícil do que pode parecer, devido à característica de guardiã do acervo de Iberê que a instituição assumiu.

Quem tomou a frente da empreitada foi Gerdau. Ele lembra que o projeto quase foi assinado por Oscar Niemeyer — era um desejo de Dona Maria —, mas a experiência do português Álvaro Siza na construção de instituições de arte foi decisiva para a escolha.

— À época, cheguei a visitar o projeto do Niemeyer em Niterói. É uma maravilha, mas não tinha tecnologia de gestão de acervo. Como nós iríamos guardar o trabalho do Iberê, precisávamos de um arquiteto que tivesse conhecimento em preservação de obras, que pensasse em aspectos como umidade, temperatura, essas coisas todas — recorda Gerdau.

A decisão de entregar o projeto a Álvaro Siza não poderia ter sido mais acertada, frisa o presidente da Fundação:

— Tivemos a sorte de encontrar o Siza. Digo que foi sorte porque o Iberê foi um artista que sempre procurou a excelência nos seus trabalhos, e o arquiteto que escolhemos também foi um paranoico da excelência. Ele veio a Porto Alegre quase mensalmente durante a construção. Ficava aqui uns 10 dias, acompanhava cada detalhe da obra; voltava para Portugal, para seus compromissos, mas em seguida já vinha novamente.

O prédio

A obra foi iniciada em 2003 e concluída em 2008. Levou tempo, mas o resultado está no prédio de fachada branca e rampas internas e externas que já foi apontado como um dos mais sofisticados projetos arquitetônicos do mundo. É, ainda, um dos mais avançados em tecnologia para manutenção, preservação e apresentação de obras de arte — justamente o que a Fundação almejava alcançar através do trabalho de Siza. 

O arquiteto também se preocupou com as belezas naturais da região, preservando a mata que cerca o terreno, respeitando a altura da pedreira que lhe faz fundos e calculando milimetricamente as poucas aberturas da construção, projetadas para enquadrar a paisagem sem tirar a atenção do que está exposto. Quem olha para as paredes da Fundação Iberê vê obras de arte; quem olha pelas janelas vê quase a mesma coisa, mas com a assinatura da natureza.

  

Além da área que pode ser visitada pelo público, a Fundação guarda quase um outro mundo em seu subsolo, construído abaixo do nível do Guaíba. A começar pela garagem, localizada exatamente embaixo da Av. Padre Cacique, por onde passam carros o dia todo. Também é lá que funciona a parte administrativa do prédio, toda guarnecida de móveis assinados por Siza e onde fica o acervo de Iberê Camargo, preservado tal qual tesouro em uma espécie de sala-cofre.

Do nível do rio para cima estão os quatro andares expositivos da Fundação Iberê — a proposta do projeto de Siza é que o público sempre comece a visita pelo quarto andar para, então, seguir descendo pelas rampas. O espaço já abrigou exposições que marcaram a cena cultural da cidade. Algumas das mais marcantes, na visão de Emilio Kalil, foram Iole de Freitas, em 2009; William Kentridge: Fortuna, em 2013; A Pintura É Que É Isto, de Paulo Pasta, em 2013; Nuno Ramos: Ensaio sobre a Dádiva, em 2018; Pardo É Papel, de Maxwell Alexandre, em 2021; Lucas Arruda: Lugar Sem Lugar, em 2021; e Antes que se Apague: Territórios Flutuantes, de Xadalu Tupã Jekupé, apresentada em 2022.

O prédio chega aos seus 15 anos comprometido em seguir abrigando grandes exposições, garante o diretor-superintendente. Já a Fundação segue comprometida em formar novos entusiastas das artes visuais, investindo em projetos educativos e abrindo espaço para artistas da nova geração, que acabam por atrair um público mais jovem à instituição.

— Se não fizermos isso, o futuro será de instituições vazias — opina Kalil.

Contudo, ao menos para a Fundação Iberê, o futuro tem tudo para ser promissor. A instituição celebra os 15 anos de seu prédio principal em vias de inaugurar um novo espaço: a casa de Iberê Camargo, que está passando por reformas e, a partir do segundo semestre, servirá de residência-ateliê para artistas que poderão se hospedar e produzir lá, revivendo o que um dia fez Iberê.

— Estamos comemorando esses 15 anos já com outra atividade. Isso é ser uma instituição viva, que está permanentemente se recriando — avalia Emilio Kalil.

Programação de 15 anos da Fundação Iberê

11, 18 e 25 de maio | Quinta-feira
15h – Mediação arquitetônica para público espontâneo
Descrição: Mediação com foco na arquitetura do prédio, seus aspectos estruturais, compositivos e históricos e a relação do mesmo com a arte.

12 de maio | Sexta-feira
15h – Mediação com Experimentação em Gravura
Descrição: Experimentação em diálogo com a exposição O Estranho Desaparecimento de Vera Chaves Barcellos. No ateliê, o público analisará a obra Permutáveis e as diferentes matrizes utilizadas na produção em gravura.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 12 anos
Inscrições gratuitas: https://forms.office.com/r/PRPBgj6TMz

13 de maio | Sábado
15h – Oficina Iberê Camargo e a Cidade, com Bárbara Rodrigues (arquiteta e arte-educadora)
Descrição: Relação entre imagens impressas de diversos lugares da cidade com algumas obras que Iberê Camargo pintou de Porto Alegre.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 8 anos
Inscrições gratuitas: https://forms.office.com/r/kvd1QZsPc9

15h – Oficina Experimentação fotográfica na Trilha, com Tuane Eggers e Beto Mohr (dupla artística)
Descrição: A oficina propõe refletir sobre o papel da arte como ferramenta de tradução, propagação e resgate afetivo das relações com outros seres vivos no planeta, diante da crise ecológica que atravessamos e do diálogo próximo que a arte vem estabelecendo com essas questões. Em caso de chuva, a atividade será remarcada
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 8 anos
Inscrições gratuitas: https://forms.office.com/r/MDwNXY3Cyq

14 de maio | Domingo
15h – Oficina Bonecas Feias e Idiotas de Iberê, com Cláu Paranhos (artista)
Descrição: Durante uma mediação, os participantes observarão como a série Idiotas e os desenhos presentes na exposição Iberê Camargo: Desenhos podem nos inspirar a soltar a manualidade para, no ateliê do Educativo, explorar o universo das Bonecas Feias
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 10 anos
Inscrições gratuitas: https://forms.office.com/r/jfLakb9wGS

17h – Iberê Musicalizado com Paola Kirst e Grupo Kiai
Descrição: Interpretação musical de textos e frases de Iberê Camargo. Em caso de chuva, o show será remarcado

20 de maio | Sábado
15h – Oficina Fundação Iberê e a Cidade, com Bárbara Rodrigues (arquiteta e arte-educadora)
Descrição: Os participantes serão convidados a evocar memórias, escrever lembranças, construir e imaginar paisagens, sejam elas do passado, presente ou futuro
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 14 anos
Inscrições gratuitas: https://forms.office.com/r/f43BZJT6p9

21 de maio | Domingo
15h – Mediação arquitetônica para crianças com produção de instalação, com Ana Paula Bertoldi (artista multidisciplinar)
Descrição: A partir de um passeio pela arquitetura da Fundação, de forma investigativa e lúdica, os participantes serão estimulados à observação para as diferentes formas e ângulos do prédio. Em seguida, serão convidados a construir uma instalação. Tecidos, fita crepe, papéis, fios diversos e materiais para desenho serão alguns dos materiais explorados
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 8 anos
Inscrições gratuitas: https://forms.office.com/r/zvpuWn9FdS

26 de maio | Sexta-feira
15h – Mediação com experimentação em fotografia arquitetônica
Descrição: Experimentação em diálogo com a exposição O Estranho Desaparecimento de Vera Chaves Barcellos. No ateliê, o público analisará a obra Permutáveis e as diferentes matrizes utilizadas na produção em gravura.
Número de participantes: 20
Faixa etária: a partir de 12 anos
Formulário: https://forms.office.com/r/P0PvFmkcZe

27 de maio | Sábado
15h – Mediação arquitetônica Fundação e Trilha Ecológica com tradução em Libras
Descrição: Mediação com foco na arquitetura do prédio, seus aspectos estruturais, compositivos e históricos e a sua relação com a arte. O público será também apresentado à trilha ecológica.
Número de participantes: 20
Inscrições gratuitas: https://forms.office.com/r/MAYEHJBvCX

18h – A Fundação e parceria com a Grupo WOC/Visual apresentam um recorte expositivo em vídeo mapping na fachada do prédio. Serão projetadas obras de Iberê Camargo e de artistas que expuseram na instituição, como Magliani, Eduardo Haesbaert, Xadalu, Arnaldo de Melo, Daniel Melim, Santídio Pereira, André Ricardo, bem como da exposição Trama: Arte Têxtil no Rio Grande do Sul.

28 maio | Domingo
17h – Iberê Musicalizado com Paola Kirst e a pianista Mel Souza
Descrição: Interpretação musical de textos e frases de Iberê Camargo
Local: Auditório da Fundação Iberê

30 de maio | Terça-feira
Lançamento do edital de residência artística Iberê/CMPC
A Fundação Iberê e a CMPC retomam a parceria, oferecendo duas bolsas de R$ 10 mil, além de verba de produção, para residência no Ateliê de Gravura para artistas que vivem no Rio Grande do Sul. Mais informações sobre o edital e inscrições no site iberecamargo.org.br.


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