Foi da união de três artistas do bairro Bom Jesus, zona leste de Porto Alegre, que nasceu o grupo Questão de Visão. Buscando conscientizar os jovens de regiões periféricas da Capital, Jonas Hacker, 35 anos, conhecido como Dyou HP, Lennon Cunha, 33, vulgo Leno, e Paulo Ricardo Oliveira, 39, chamado de Barilu, fazem um rap de protesto.

– O nosso rap é total de cunho social. A intenção é alertar os nossos irmãos sobre as armadilhas do mundão – conta Dyou Hp.

Em suas rimas, o grupo luta contra a violência policial nas comunidades, o racismo e a falta de acesso à educação de qualidade. Algumas estrofes também relatam o cotidiano da vida na Bonja, apelido carinhoso do bairro onde o trio mora.

– Infelizmente, hoje vivemos em uma sociedade onde os filhos das periferias, dentro das escolas públicas, com precariedade e falta de professores, são doutrinados a serem empregados. Enquanto os filhos da burguesia, nas grandes instituições, são doutrinados a serem patrões – expressa Dyou.

Os artistas já tinham carreiras independentes antes de se unirem no Questão de Visão, mas estavam afastados da música. A conexão de ideias foi o principal incentivo para a volta deles ao rap.

– Nós ingressamos no movimento Vidas Negras Importam. Através disso, vimos que tínhamos as mesmas ideias, então decidimos botar as letras no papel e dar voz a quem não tem – conta Lenon.

Ações sociais

Além das letras fortes, o Questão de Visão integra diversas ações sociais e organiza eventos para levar arte à comunidade. No dia 14 de maio, o grupo lançou um curta-metragem, em seu canal no YouTube, retratando a realidade de muitas famílias que não têm oportunidades e acabam destruídas pelo consumo de álcool e drogas.

Com atores da própria Bom Jesus, o curta deve ser exibido na segunda edição da Parada Cultural Vidas Negras Importam, que o grupo organiza para o dia 26 deste mês. A primeira edição ocorreu no início do ano, na Cidade Baixa.

– Vamos integrar a segunda edição com uma festa junina para as crianças e exibir o curta em um telão para a comunidade. Além do trabalho beneficente, convocamos diversos artistas aqui da comunidade, para valorizar a cultura de periferia – explica Lennon.

Mas o Questão de Visão sonha além dos eventos beneficentes. O grupo luta para abrir a Casa de Cultura do Hip-Hop da Bom Jesus, para resgatar os jovens.

– Através dessa casa, queremos dar a oportunidade para a gurizada se inserir nessa cultura que nos resgatou um dia. A ideia é servir como um instrumento de motivação e transformação – revela Dyou.

Os artistas ainda buscam parceiros para concretizar o projeto.

Futuro

Recentemente, o grupo lançou o EP Faixa de Gaza, composto por seis músicas.

– Buscamos sempre nos atualizar com as batidas e beats, mas a nossa letra é bem característica do rap dos anos 1990 – diz Dyou HP.

A ideia é gravar videoclipes para todas as músicas do EP até dezembro.

– Nós não vendemos o nosso rap no sentido de querer fazer algo que agrade pelo momento, nós queremos tocar no coração e fazer a pessoa se conscientizar. O rap é nossa causa, a consequência que vier, vem bem – orgulham-se os integrantes.

Pitaco de Quem Entende

 O produtor Rafadélico, da Usina do Beat, fala sobre o grupo:

– Eles mantêm acesa a chama do rap que expressa as ruas e problemas sociais. Ótimas rimas, mostrando que linhas que salvam continuam impactando vidas e a cultura. Escute Sai dessa Loucura.

AQUI, O ESPAÇO É TODO SEU!

 /// Para participar da seção, mande um histórico da sua banda, dupla ou do seu trabalho solo, músicas, vídeos e um telefone de contato para lucas.oliveira@diariogaucho.com.br.

/// Para falar com o grupo, ligue para (51) 98546-4357.

*Produção: Lucas de Oliveira