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Apego e adaptação

Animais resgatados da enchente esperam rever os antigos tutores? Veterinária explica por quanto tempo isso ocorre

Profissional ressalta que, diferentemente dos humanos, os pets são bem mais simplistas e que, neste caso, o grau de estresse se mostra bastante variado. Há diversos fatores que podem influenciar no comportamento do mascote, mas o que prevalece é o bem-estar

24/07/2024 - 14h33min


Daisy Vivian
Daisy Vivian
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Camila Hermes / Agencia RBS
Há diversos fatores que contribuem para o comportamento dos animais. A idade é um deles.

Uma pergunta bastante comum que temos ouvido daqueles que adotaram animais resgatados da enchente é se eles continuam esperando rever os antigos tutores. Por quanto tempo isso acontece?

Primeiramente, é importante pensar que, diferentemente dos humanos, os mascotes são bem mais simplistas. Sabemos que foi extremamente traumático para os bichinhos perderem os seus ambientes e, da noite para o dia, acordar em um abrigo cheio de outros animais. Mas o grau de estresse se mostra bastante variado.

Enquanto alguns tentavam fugir das guias que os prendiam aos abrigos – um acessório até então desconhecido – outros simplesmente deitavam sobre as cobertas e dormiam esperando a próxima refeição.

A idade é fator relevante

Para os animais mais jovens, em especial os filhotes com menos de quatro meses, os antigos tutores já podem ser uma memória distante. Inseridos em novas famílias e com muitos atrativos para se distrair, eles não costumam se apegar aos primeiros tutores quando são separados, ainda que fossem zelosos. Um animal com poucos meses de vida possui muita energia e consegue se adaptar a novos indivíduos sem grandes dificuldades.

Os mascotes adultos, por outro lado, podem enfrentar situações mais complexas. Para eles, o fato de viver livre no pátio de uma residência com o mesmo grupo de pessoas e, de repente, precisar se adaptar à rotina de um apartamento com novos tutores pode ser bem difícil.

Em um primeiro momento, pode-se dizer que o animal está agitado ou entristecido porque sente falta do antigo tutor, o que pode ser verdade. Mas ele também pode estar estressado por perder o único ambiente que conhecia e que cresceu desde filhote, não necessariamente em funções das pessoas.

Quem cuida agora?

A resiliência também se aplica aos animais. Não é pequeno o grupo que se adaptou em curtíssimo espaço de tempo aos seus novos tutores e lares. Tudo tem a ver com o bem-estar e garantias. O desespero de um animal pelo tutor pode ser reflexo de desamparo, de não saber onde dormir e buscar alimentos. 

Com a garantia de abrigo e alimento, os animais relaxam e se adaptam. Vivendo com menos ansiedade, eles conseguem estabelecer vínculos de afeto no novo lar.

Pode acontecer de ele nunca esquecer o antigo tutor?

Sabemos de casos de animais e tutores que ficaram separados por um longo tempo – para estudos no Exterior, por exemplo – e que o cão ou gato reconheceu o seu dono tão logo o viu, mesmo após muitos anos.

Os animais, especialmente os cães, podem ter lembranças de bem-estar ativadas por odores ou vocalização. Isso explica a alegria e o reconhecimento pelo antigo tutor, mesmo depois de tanto tempo.

Contudo, isso não quer dizer que o mascote possa ficar dividido e querer voltar ao novo lar. Animais não pensam como humanos. Enquanto as pessoas sofrem pela separação, eles estão felizes no novo lar.

Cachorros e gatos não possuem necessariamente a sensação de pertencimento e podem gostar de várias pessoas sem a dúvida de "com quem eu vou morar agora?".

E aqueles que eram muito apegados?

Sim, existe esse extremo. Animais criados no colo desde sempre, mascotes que elegem pessoas para gravitar em torno dela. Alguns são até brabos, verdadeiras feras em miniatura, porque foram acostumados a viver com uma pessoa e, de repente, a vida deles virou de ponta cabeça.

Essa pode ser uma legítima fonte de estresse. O perfil de uma única pessoa tratar do mascote por muitos anos pode estar por trás de uivos, latidos e até mordidas. Esses realmente levarão mais tempo para se adaptar ao novo tutor. Mas acredite: até eles têm nos surpreendido. Há casos muito bem-sucedidos, embora leve um pouco mais de tempo e exija mais paciência dos envolvidos.

A regra é bem-estar animal

Para quem colaborou e levou um resgatado da enchente para casa, a dica é: não ficar pensando muito no que o pet está sentindo. A regra é o bem-estar animal. Ficar imaginando como era e se ele espera o antigo tutor é perda de tempo, já que a realidade agora é outra.

O que realmente importa é que um mascote desembarcou em uma casa. Pode haver necessidades por parte da família para ele compreender que está seguro e que aquele espaço agora é o seu novo lar. Duas refeições ao dia, local seco e protegido da chuva e momentos de cumplicidade são a chave para o pet entender que a vida segue com afeto e segurança.


Daisy Vivian é diplomada pela UFRGS em Medicina Veterinária e Jornalismo. É autora dos livros "Cães e Gatos Sabem Ajudar Seus Donos" e "Olhe-me nos Olhos e Saiba Quem Você É", histórias reais sobre pessoas e seus animais de estimação.


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