Estrelas da Periferia
Artista Wesley Sales transforma vidas com o hip hop no Vale dos Sinos
Por meio de projetos sociais que unem educação e arte, Wesley consegue mudar a perspectiva de futuro de muitos jovens
Wesley Sales, 29 anos, natural de Cruz Alta, no noroeste do Estado, é um artista e socioeducador dedicado a transformar realidades por meio do hip hop. Com mais de uma década de atuação no Vale do Sinos, onde mora hoje, o artista é responsável por diversas iniciativas que unem a arte e a educação para transgredir.
Ele conta que, mesmo antes de entender, o hip hop já estava presente em seu cotidiano:
— Aos poucos, percebi que o hip hop fazia parte do meu cotidiano: desde o lugar de onde eu vinha, a escola, os projetos sociais, e até mesmo a escola de samba Unidos de São José, que eu frequentava e participava da bateria. Tudo aquilo era o hip hop se manifestando na minha vida.
O despertar aconteceu após entrar em contato com uma dupla de grafiteiros que fazia uma arte na escola estadual em que o jovem estudava. Na época, Wesley conta que a educação que recebia era bem restritiva e que era comum ouvir de adultos que o hip hop era relacionado ao crime e às drogas. Porém, tudo mudou no dia em que viu os artistas pintando um muro da escola.
— Eles grafitaram as palavras “paz”, “Jesus” e “cultura de rua”. Aquilo marcou profundamente a minha visão sobre o hip hop — diz Wesley, sobre como surgiu o sonho de virar artista.
Devido à resistência gerada pelo preconceito que encontrou ao contar suas ambições, o artista definiu um dos seus dois grandes objetivos: mudar a visão da comunidade sobre a cultura.
Para isso, o artista criou o Rap in Concert, um espetáculo que conta a história do hip hop, com a participação de jovens artistas que entraram na música a partir das oficinas feitas por ele mesmo.
Transformação
Aos 13 anos, devido à criminalidade que existia no lugar onde morava, sua família se mudou para a cidade de Campo Bom, no Vale do Sinos. Lá, iniciou sua trajetória no funk, cantando em bailes por toda a região. Aos 16, conheceu a Nação Hip Hop Brasil.
— A Nação me deu um norte e me ensinou sobre a importância de utilizar o hip hop como uma ferramenta de transformação social — conta Wesley.
Surge, assim, o seu segundo objetivo: mudar a vida de jovens a partir da arte. Com isso em mente, criou o projeto Além dos Muros, em 2012, que existe até hoje e transforma a vida de centenas de jovens.
O projeto consiste em oficinas que levam o hip hop para dentro das escolas, com o objetivo de mostrar às crianças e adolescentes que qualquer um que desejar tem a capacidade de criar e de se expressar artisticamente. Segundo Wesley, mais de 40 músicas surgiram com o projeto.
O artista conta que, quando criança, teve a experiência de não se sentir bem-vindo em todos os espaços devido a sua condição social:
— O hip hop me permite entrar em uma sala de aula e dizer para as crianças da periferia que elas têm o direito de ocupar o local que quiserem. Que podem ser artistas, podem ir para a universidade, podem mudar de vida.
Outro projeto do artista que impactou a vida de jovens foi O Grito de Quem Nunca Teve Voz, que também consiste em oficinas de hip hop, mas dessa vez desenvolvido na sede da Fundação de Atendimento Sócio-Educativo (Fase) de Novo Hamburgo.
— Quando chegamos lá, eles não acreditavam neles mesmos, achavam que não eram capazes e não tinham ambições para o futuro. Queríamos mostrar que eles poderiam ser poetas. No final, produzimos um livro com poesias escritas por eles — conta Wesley, que cita com orgulho a história de dois meninos que se destacaram nas oficinas e, após o período na Fase, começaram a trabalhar com música.
A arte ensina
O projeto mais recente de Wesley é o RAPensando a Educação, o qual introduz o hip hop nas escolas de uma maneira diferente: ao invés de serem oficinas à parte, a ação introduz a cultura em sala de aula, usando-a como instrumento de ensino para disciplinas como história, filosofia, literatura, artes, português e geografia. A primeira edição do projeto, em 2019, contemplou uma escola, e a segunda, em 2023, ocorreu em mais quatro, todas em Campo Bom.
No total foram feitas 30 músicas e um documentário. Ambos podem ser vistos no YouTube do projeto. Com o sucesso, artistas e educadores de Estância Velha levaram o projeto para suas escolas.
Dedicado a todos estes projetos transformadores, o artista divide o tempo que dedicaria para sua própria carreira. Ele conta que, no início, tinha como prioridade suas músicas:
— Eu só era um guri que queria cantar minhas músicas, mas não existe dinheiro que pague tu ajudar a mudar a vida de alguém.
AQUI, O ESPAÇO É TODO SEU!
Para participar da seção, mande um histórico da sua banda, dupla ou do seu trabalho solo, músicas, vídeos e telefone de contato para camila.mendes@diariogaucho.com.br.
Para falar com o artista, ligue para (51) 99451-3729
* Produção: Camila Mendes