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Reprise de "Tieta" chama atenção nas redes sociais pela trama ousada e chance de abertura ser modificada
Folhetim de Aguinaldo Silva voltou a ser exibido no "Vale a Pena Ver de Novo" na segunda-feira (2)
Uma mulher fogosa, alegre e de comportamento liberal choca uma cidadezinha fictícia chamada Santana do Agreste, no nordeste do Brasil. Tieta, criada por Aguinaldo Silva e baseada no livro Tieta do Agreste (1977), de Jorge Amado, foi exibida na Globo em 1989, logo após o fim da censura, que se deu em 1988, graças à promulgação da Constituição.
Protagonizada por Betty Faria, a novela voltou à emissora na segunda-feira (2), no Vale a Pena Ver de Novo, trinta e cinco anos após a primeira exibição. Alguns fatos e curiosidades que marcam a trama, uma das mais celebradas da teledramaturgia brasileira, a segunda de maior audiência, atrás apenas de Roque Santeiro (1985), movimentaram as redes sociais. Confira:
Abertura
Desde que começou a ser reprisada, a abertura sensual, que mostra a silhueta da atriz Isadora Ribeiro, ainda não foi exibida. Segundo o jornal O Globo, deve-se ao fato de Tieta e Alma Gêmea (2005) estarem dividindo a mesma faixa no Vale a Pena Ver de Novo, e, por conta do tempo mais curto, as duas aberturas não são veiculadas. A previsão é que isso termine na semana que vem, já que Alma Gêmea chega ao fim nesta sexta-feira (6).
Mas há um detalhe: quando voltar a ser exibida, a abertura da novela deve surgir modificada pela Globo, já que contém cenas de nudez, o que não cabe para o horário em que é exibida, próximo das cinco da tarde.
Isadora Ribeiro comentou a possibilidade de a abertura ser modificada, e escreveu no Instagram a seguinte declaração: "Na época, a abertura foi considerada uma obra de arte, com o meu corpo coberto apenas de luz, mas agora gerou uma polêmica com a emissora assinalando que haverá corte da abertura ou a exibição com tarja preta. E você, o que acha disso?", questionou ela, no dia 17 de novembro.
Cabrita
Tieta é uma mulher liberal, que tem relacionamentos casuais com homens, sempre na mira dos moradores da cidade, que julgam a rapariga. Em sua fase jovem, ela é interpretada pela atriz Claudia Ohanna. Chama atenção o fato de a moça, que é uma pastora de cabras, balir para os alvos quando quer seduzi-los.
Ao ser pega no flagra pelo pai fazendo amor com um homem, ela é expulsa da cidadezinha. Quem a delatou foi a irmã, a beata Perpétua, uma conservadora.
Joana Fomm
O oposto de Tieta é sua irmã, Perpétua, uma mulher frustrada, que, por ser religiosa, vive vestida de preto. Contudo, contrariando os preceitos cristãos, ela não tem nada de generosa. E uma nova provocação de Aguinaldo Silva: ela casa com um militar.
A personagem é interpretada por Joana Fomm. Hoje com 85 anos, a atriz voltou a ser notícia porque deu declarações falando sobre sentir saudades de atuar na TV e necessidade de ganhar dinheiro, já que não montou um patrimônio. Ela está afastada da Globo desde 2019.
Outra declaração de Joana Fomm foi sobre os remakes de novelas importantes que a emissora vem fazendo. A atriz disse não gostar da ideia.
Ousadia da trama
Como o Brasil voltava a respirar com o fim da ditadura, em 1985, Aguinaldo Silva admite que caprichou na ousadia da trama de Tieta. Em entrevista ao portal Memória Globo, o autor disse que fez uma metáfora sobre a volta da liberdade de expressão na televisão depois de 21 anos de regime militar. Ele chega a criar uma cena cujo simbolismo remete à data em que foi promulgado o Ato Institucional nº 5, o AI-5, que deu início ao período mais violento dos governos militares.
— No dia em que a Tieta é expulsa da cidadezinha de Santana do Agreste, a cidade inteira rejeita a pobre coitada e ela tem que ir embora. O pai dela, quando volta e entra em casa, arranca uma folhinha do calendário. E ele diz: "Faz de conta que esse dia nunca existiu para mim". E a data da folhinha é 13 de dezembro de 1968, o dia em que no Brasil foi promulgado o AI-5.
Mas o mais latente em Tieta é a ousadia sexual. A protagonista se enamora do sobrinho, Ricardo, filho de Perpétua, justamente para irritar a irmã mesquinha. E para agravar: o rapaz, interpretado por Cássio Gabus Mendes, é padre.
E o mais curioso: os conservadores que criticam Tieta, como Perpétua, são retratados como pessoas perversas ou mesquinhas.