Suposta apologia ao crime
Quem é Oruam, filho de Marcinho VP e alvo de projeto de lei
Um dos principais rappers do cenário nacional, o cantor coleciona críticas da ala mais conservadora da Câmera de Vereadores de São Paulo
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O rapper Oruam, dono da música mais ouvida no Brasil pelo Spotify e responsável por hits como Oh Garota Eu Quero Você Só Pra Mim e Diz Aí Qual é o Plano, agora é alvo de um Projeto de Lei (PL) na Câmara Municipal de São Paulo.
A "Lei Anti-Oruam", proposta pela vereadora Amanda Vettorazzo (União), visa proibir a contratação, por parte da prefeitura, de artistas que "envolvam, no decorrer da apresentação, expressão de apologia ao crime organizado ou ao uso de drogas". O texto se refere a shows e eventos abertos ao público infantojuvenil, conforme o g1.
Apesar de não incluir o nome do rapper no texto enviado à Câmara, Amanda criou um site chamado "leiantioruam". A vereadora também fala abertamente nas redes sociais sobre querer proibir apresentações de Oruam, que é filho do traficante Marcinho VP, em São Paulo.
O PL já inspirou outras propostas parecidas no Congresso Nacional e em outras 12 capitais, segundo o Uol. Os projetos de lei buscam vetar o uso de dinheiro público em apresentações com artistas que supostamente fariam apologia ao uso de drogas e ao crime organizado.
Quem é Oruam
Mauro Davi dos Santos, 25 anos, já é considerado um dos principais nomes no cenário do funk e trap nacional. Somente no Spotify, o carioca soma mais de 13 milhões de ouvintes. Nas músicas, Oruam costuma falar sobre ostentação, sexo, a vida em comunidades e o pai, o traficante Marcinho VP.
O cantor já colaborou com nomes como Chefin, MC Ryan SP, MC Daniel, Xamã e Ludmilla, além de ter integrado, em 2022, o Poesia Acústica 13, um dos principais projetos do rap nacional. Oruam assinou contrato com a Mainstreet Records, gravadora criada pelo rapper Orochi.
Apesar de nunca ter convivido com o pai, Oruam já declarou publicamente sua admiração por ele. Marcinho VP, apontado como possível líder do Comando Vermelho, está preso desde 1996. No ano passado, o rapper subiu no palco do festival Lollapalooza usando uma camiseta com o rosto do familiar e a palavra "liberdade".
Ele também possui tatuagens do rosto de Marcinho e de Elias Maluco, traficante condenado pelo assassinato do jornalista Tim Lopes, em 2002. Em entrevistas, Oruam defende que a prisão do traficante já durou demais.
O estilo ostentador do rapper também ultrapassa as letras das músicas. Ele já foi visto em um carro avaliado em R$ 2,6 milhões; comprou um gato da raça Savannah F1, que pode custar até R$ 120 mil; e costuma dividir, nas redes sociais, a convivência com cantores, jogadores de futebol e outras personalidades famosas. Oruam já publicou diversas fotos com Neymar, que recentemente voltou ao Santos.
O que diz a "Lei Anti-Oruam"?
Para a vereadora Amanda Vettorazzo, o rapper "abriu a porteira" para que outros cantores produzissem músicas, incluindo relatos sobre traficantes, facções e "gírias e expressões para normalizar o mundo do crime".
Em um vídeo disponível no site do PL, a parlamentar usa prints de hits de outros artistas, como Mc Poze do Rodo, Mc Daleste e Boladinho Dj.
No texto, Amanda afirma que a lei serviria para proteger crianças e adolescentes. O foco é proibir o gasto público com apresentações desse tipo, especialmente shows de Oruam em São Paulo.
Apenas em 2024, três projetos de lei da mesma natureza foram enviados à Câmara de SP, com o objetivo de proibir o funk de rua na capital paulista. Dois deles, de fevereiro e maio, já foram arquivados.
Críticas da oposição e resposta de Ricardo Nunes
O projeto da vereadora do União também recebeu críticas da oposição. A deputada estadual Ediane Maria (PSOL), coordenadora da Frente Parlamentar do Funk na Assembleia Legislativa de São Paulo, acredita que propostas como essa servem para criminalizar gêneros musicais, especialmente os provenientes de comunidades e favelas.
Ediane considera o texto como uma forma velada de criminalização.
— Eles não são bobos — opina a deputada — Ao mesmo tempo em que criminalizam o funk, sabem o quanto o movimento, além de causar identificação com os jovens, gera dinheiro na quebrada e influencia politicamente a quebrada.
Na última segunda-feira (10), o prefeito Ricardo Nunes (MDB) participava de um evento sobre investimentos no setor cultural quando foi questionado sobre o projeto de lei. Ele afirmou não conhecer Oruam, segundo g1.
— Pra você ver que eu tenho um bom gosto pra música, nunca ouvi a música desse cara (Oruam). Pelo que vi, ela questionou sobre uma pessoa, não sobre a questão cultural — disse Nunes aos jornalistas — evidentemente, se essa pessoa faz qualquer tipo de apologia ao crime, aqui nos palcos de São Paulo, com recurso público, ela não vai ter espaço.
A prefeitura de SP anunciou cerca de R$ 319 milhões de recursos para a cultura, valor que integra o projeto São Paulo + Cultura.