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Diálogo para evoluir

"Vivemos um momento de dificuldade de se sensibilizar", diz Lázaro Ramos, que lança novo livro

"Na Nossa Pele – Continuando a Conversa" é a sequência do best-seller lançado pelo ator em 2017. A nova publicação aprofunda discussões e traz histórias sobre a mãe do escritor

18/03/2025 - 10h27min

Atualizada em: 18/03/2025 - 10h27min


Carlos Redel
Carlos Redel
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Rafael Reis/Divulgação
Novo livro de Lázaro Ramos aprofunda outras histórias da vida do artista.

Lázaro Ramos sabe que o diálogo é essencial para a evolução da sociedade como um todo. Por isso, o artista lança nesta terça-feira (18) seu novo livro, Na Nossa Pele – Continuando a Conversa (Editora Objetiva), sequência do best-seller Na Minha Pele, de 2017.

Em ambas as obras, ele escreve como se estivesse conversando com um amigo, tornando quase automático ouvir sua voz mentalmente durante a leitura. A proposta funciona.

De acordo com o escritor – uma das tantas atribuições deste artista multifacetado –, a publicação é uma "convocação" para que as pessoas sejam parte de soluções dos problemas, principalmente no que diz respeito às pautas raciais.

Ele se aprofunda nessa linguagem mais direta, leve e séria ao mesmo tempo, em sua própria história e também na de sua mãe, dona Célia Maria, que morreu quando o ator tinha 18 anos.

— Acredito que escrever neste formato ajuda as pessoas a se sentirem acolhidas, estimuladas a caminhar para algum lugar em cima dos assuntos que estão no livro. Por viver neste tempo em que o diálogo está mais difícil, reforcei a linguagem nesta segunda parte. São temas delicados. Tem diagnóstico de dores vividas por mim e por minha mãe. Tem assuntos que parecem intransponíveis de se conversar hoje em dia. E conversar ajuda na mediação para se criar um projeto positivo — avalia o escritor.

O livro já começa fisgando o leitor com uma história potente e dilacerante de Lázaro, relembrando uma agressão sofrida pela mãe quando ele ainda era criança. A violência foi praticada por uma ex-empregadora de dona Célia Maria e presenciada pelo artista. O assunto nunca foi debatido entre eles.

Durante muito tempo, as memórias que eu tinha de minha mãe eram só memórias sofridas. Não é justo com ela

LÁZARO RAMOS

Autor de "Na Nossa Pele - Continuando a Conversa"

Décadas após a perda da mãe, o ator e autor, aos 46 anos, mais maduro em relação ao primeiro livro, decidiu que era preciso revisitar a história de ambos para homenagear o legado de sua progenitora, sem estacionar na dor.

— Durante muito tempo, as memórias que eu tinha de minha mãe eram só memórias sofridas. Não é justo com ela. Isso não pode ser a única coisa que define essa mulher. Então, investigar quem ela foi por completo era importante para mim. Aprendi que dava para compartilhar essas histórias, mas não ser somente um diagnóstico, ser também um lugar libertador para o leitor. A narrativa vai caminhando muito para essa emancipação — explica Lázaro.

Pauta racial

Enquanto Lázaro observa muitos avanços em relação às pautas raciais, como a visibilidade para pessoas negras dentro do audiovisual, por exemplo, o mundo ainda enfrenta uma série de episódios lamentáveis envolvendo o racismo.

O mais recente de grande destaque foi a violência sofrida pelo jogador Luighi, do sub-20 do Palmeiras. Isto mostra que a luta contra este tipo de crime não pode esmorecer.

— Desde criança, não tive muita escolha, tive que pensar sobre a vida. Esse assunto me sequestrou há muito tempo e está presente em vários projetos e trabalhos que faço. Não é prazeroso em momento nenhum falar sobre isso, mas a vida me trouxe essa missão — enfatiza o ator.

Lázaro explica que utiliza todas as suas plataformas possíveis para falar sobre o tema, seja atuando, dirigindo, escrevendo ou produzindo. O escritor acredita que a conscientização já está posta, mas é preciso dar um passo além, em uma questão que está cada vez mais difícil de alcançar:

Vivemos um momento de dificuldade de se sensibilizar. A sensibilização não tem a ver somente com a informação. Sensibilização está em um campo misterioso de como é que você consegue tocar as pessoas. Talvez o meu livro seja escrito nessa linguagem imprecisa, disforme, com imperfeições, justamente para não trazer uma resposta fácil, para fazer com que as pessoas se envolvam. Esse envolvimento talvez seja o maior desafio que a gente tem hoje em dia.

Editora Objetiva/Divulgação
Capa do livro "Na Nossa Pele - Continuando a Conversa", de Lázaro Ramos.

Saúde mental

Se a história de dona Célia Maria com Lázaro é um dos principais temas do livro, a qual o autor utiliza para passar as suas mensagens esclarecidas acima, ele também tem outras ambições, como abordar a saúde mental.

Na obra, o escritor recorda a sua internação ocorrida em 2024, após sofrer um burnout — uma espécie de esgotamento mental. Na obra, o ator associa o episódio não somente ao excesso de trabalho, mas à repressão de sentimentos.

A sensibilização não tem a ver somente com a informação. Sensibilização está em um campo misterioso de como é que você consegue tocar as pessoas

LÁZARO RAMOS

Autor de "Na Nossa Pele - Continuando a Conversa"

Ao mesmo tempo, Lázaro explica que, neste cenário em que o seu livro chega ao mercado, tão dominado por telas e pela ansiedade das pessoas de estarem ligadas ao celular o tempo todo, a experiência tem que ser o diferencial para engajar o público. Seja no cinema, na televisão ou na literatura – em um momento em que os brasileiros estão lendo menos.

— Quero acreditar que é a nossa capacidade de provocar uma experiência que faça diferença no dia a dia das pessoas. Porque todo o resto está dizendo que a vida é passada em um arrastar de dedos. As pessoas estão se relacionando assim: na ansiedade do tracinho azul, se não tiver resposta logo; ao não consumir um vídeo inteiro sequer, porque não se tem nem um minuto de paciência — reflete o escritor.

E o exemplo é dado em casa. Lázaro revela, por exemplo, que ele e sua esposa, Taís Araujo, reduziram o tempo de consumo de tela de seus filhos, após entenderem que não era saudável para as crianças. Assim, incentivam outras atividades, como a da leitura, além de priorizarem a convivência real, não digital.

O meu celular não dorme mais do lado da cama. Estava deitando e, do nada, acordava e olhava para ver se alguém estava querendo alguma coisa. Essas práticas terão que vir para auxiliar no bem-estar mental. Só que não vai ser naturalmente. As plataformas não querem isso da gente, querem que a gente fique adicto. E se cada um não tiver a consciência individual, a gente vai só adoecer mais e mais. É preciso um esforço individual — acredita.


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