Entrevista
Guilherme Weber comenta virada de seu personagem em "Volta por Cima": "Tem sido uma comemoração diária"
Ator vive o contraventor Marco Barros na trama das sete


O núcleo da contravenção está em guerra na novela Volta por Cima. O temido Gerson Barros (Enrique Diaz) reinava absoluto até a descoberta de dois irmãos, Gigi (Rodrigo Fagundes) e Marco (Guilherme Weber). Criado como sobrinho de Rodolfo (José de Abreu), Marco se revoltou ao descobrir sua verdadeira origem e, desde então, entrou em uma disputa de territórios com Gerson. Ao mesmo tempo, o personagem de Guilherme Weber vira uma pessoa doce e amorosa quando está perto da mãe recém-descoberta, Ruth (Lucinha Lins). Em bate-papo, o ator conta como tem sido dar vida a um tipo tão cheio de nuances e celebra a parceria com os colegas de elenco.
Seu personagem em Volta por Cima chegou de mansinho, parecendo mais uma sombra de Gerson Barros. Aos poucos, Marco ganhou dramas e histórias próprias. Você já sabia desse crescimento quando foi convidado para a novela?
Não, nem do crescimento nem de qualquer rumo do personagem. A autora Claudia Souto também não sabia; o ponto de partida é que ela queria uma configuração para dramas familiares no clã dos Barros, dramas criados e vividos pela moral da contravenção. Como o Gerson era o grande vilão e sua história estava focada nos relacionamentos doentios com as mulheres, Yuki (Jacqueline Sato) e Roxelle (Isadora Cruz), o Marco foi seguindo alguns dos dramas familiares de uma novela: pai ausente, disputa entre irmãos, mãe desaparecida, luta pelo poder, afã por mais dinheiro... tudo com a originalidade do núcleo que a Claudia tão habilmente criou. Fui descobrindo os caminhos do personagem com pouca diferença de tempo para o espectador, e isso foi uma aventura (risos).
Marco flerta com a vilania, mas tem um lado doce e frágil, demonstrado principalmente ao lado da mãe. Como tem sido pra você retratar todas essas nuances?
Tem sido uma comemoração diária a alegria de fazer um personagem com subjetividade. Em um mesmo dia de gravação, por exemplo, brigar com o pai, Rodolfo, paquerar a mulher desejada, Violeta (Isabel Teixeira), se enternecer com a mãe, Ruth, ameaçar o irmão, Gerson... Isso exige muito do meu repertório e também cria uma atenção, um “ouvido” para passear por estes diferentes estados sem sair da lógica base do personagem. Há muitas maneiras de se enternecer com uma mãe, por exemplo, mas a do Marco tem as suas especificidades, claro. Ele é obcecado pela figura materna que não conheceu durante sua formação, então tende a se infantilizar, mas como é embrutecido emocionalmente, acostumado a resolver as coisas na bala e no susto, tende a achar que precisa proteger essa mulher do mundo. Ele ao mesmo tempo a abraça com os braços do controle e a olha com o olhar da insegurança de quem ama sem freio.

A parceria com Lucinha Lins tem sido um dos pontos altos da novela. Como você recebeu a notícia de que a atriz seria sua mãe na trama? Como é a parceria de vocês em cena e nos bastidores?
Quando se falou na entrada de uma mãe para Marco sugeri aos autores que fosse um grande ícone da televisão e do cinema. Para fazer uma “dupla” com a Betty Faria (Belisa), mãe do Gigi. Quando se anunciou Lucinha Lins foi fulminante na minha memória, ela, a Gata, no meu filme favorito dos Trapalhões, Os Saltimbancos Trapalhões (1981), a Mocinha Abelha de Roque Santeiro (1985), uma das minhas novelas favoritas. Então, está sendo muito memorialista para mim este encontro. No nosso primeiro dia de gravação, estávamos passando o texto da cena e meu cérebro ficava cantando “ói nóis aqui... tchum, tchum, ói nóis aqui”, música do filme dos Trapalhões (risos).
Também fiquei impressionado com a nossa semelhança física, nosso tamanho, nossos olhos, nosso colorido. Foi uma escalação de mestre, realmente!
Lucinha é uma grande atriz, é um prazer vê-la trabalhar, seus tempos, sua dramaticidade, sua atenção com a veracidade da personagem. Me impressiona como ela parece pisar no freio da velocidade do mundo quando começa a atuar, ela conjura todo o tempo em volta para o seu trabalho, uma atriz de muita classe. E pessoalmente é um doce, colega atenta e generosa e cheia de dicas sobre muitos assuntos, uma delícia!
Marco ganhou ainda mais força nos últimos capítulos na guerra contra Gerson. Acha que seu personagem tem chance de desbancar o irmão nos negócios da família?
Acho que sim! Ambos foram formados pelo mesmo homem, o bicheiro icônico e todo poderoso Rodolfo Barros, vivido pelo maravilhoso José de Abreu, sabem todas as nuances dos negócios, têm a mesma ambição pelo poder, mas o Marco luta também inspirado pela dor e pelo desejo de vingança, isso se torna um exército no coração quebrado dele. E, alô Freud, a musa da vingança é sua mãe, então acho que ninguém será capaz de vencê-lo.
Como foi sua preparação para viver Marco Barros? Estudou sobre esse universo da contravenção?
Por coincidência eu havia lido bastante sobre o assunto e visto várias séries relacionadas antes de saber da novela, então tinha o repertório vivo na memória. Depois foi colocar o filtro da fábula e do pop que fazem parte da criação para uma novela das sete, buscar um pouco de filmes de gângsteres no meu coração cinéfilo, uma pitada de Rei Lear e Macbeth, de Shakespeare e um tanto de Édipo Rei de Sófocles e ir cozinhando em fogo baixo...
Confesso, shippo Marco e Violeta. E você, torce por esse casal?
Acho que eles são puro fogo juntos, têm o mesmo tipo de libido que nasce do poder, do controle e fazer cenas com a Isabel Teixeira é um deleite, desde as peças de teatro que fizemos juntos ela sempre foi uma das melhores atrizes com quem trabalhei. Mas eu torço por Violeta e Osmar (Milhem Cortaz), acho um casal que movimenta uma loucura maravilhosa, são personagens que já se tornaram um clássico juntos, já são parte do melhor da história das novelas brasileiras. Eu torço por eles juntos no final!