Entretenimento



Viralizou nas redes

Xuxa alimenta morcegos em casa: especialista explica se prática é segura e quais cuidados tomar

Apresentadora instalou bebedouros com água e açúcar no jardim; biólogo tira dúvidas sobre o comportamento dos animais

01/06/2025 - 15h57min


Zero Hora
Enviar E-mail
Instagram / @junnoandrade/Reprodução
Vídeo de Xuxa alimentando morcegos viralizou nas redes.

Um vídeo em que a apresentadora Xuxa Meneghel, 62 anos, aparece cercada por morcegos, enquanto instala bebedouros com água e açúcar no jardim de casa, causou surpresa — e dúvidas — nas redes sociais. Especialista nessa ordem de mamíferos explica que, embora não tenha o hábito de atacar humanos, a prática de alimentá-los deve ser feita com cautela.

Compartilhado pelo marido, o cantor Junno Andrade, a cena mostra os animais sobrevoando a apresentadora e se aproximando da varanda da casa, ao anoitecer.

— Olha os amigos da minha mulher! De noite é essa festa aqui. Xu Batgirl. Eles já conhecem o cheiro da Xu — comenta Junno, em tom de brincadeira.

A espécie que aparece no vídeo é a Glossophaga soricina, conhecida como morcego-beija-flor. Enquanto alguns elogiaram o gesto e o contato com os bichos, outros levantaram preocupações sobre a segurança de alimentar os mamíferos. Veja o vídeo abaixo.

Morcegos não atacam humanos e evitam o contato

Apesar do imaginário popular, os morcegos que habitam centros urbanos, em sua maioria, não representam risco à população

Segundo o biólogo e quiropterólogo Izidoro do Amaral, doutor especializado em morcegos, o medo generalizado é fruto de desinformação:

— Existem no mundo mais de 1,4 mil espécies de morcegos. Destas, apenas três se alimentam de sangue, e só uma busca sangue de mamíferos. Essa exceção faz com que todas as outras tenham uma fama injusta. A grande maioria das espécies se alimenta de insetos, néctar, pólen ou frutos, como o morcego beija-flor — explica.

O biólogo destaca que esses animais possuem um sistema de orientação por eco (semelhante a um radar), que os permite desviar com precisão de obstáculos e evitar qualquer colisão com humanos:

— Eles não atacam. Um morcego só morde uma pessoa se for manipulado com a mão. Os acidentes, em mais de 90% dos casos, envolvem pessoas que tentaram pegar o animal — afirma.

É seguro alimentar morcegos com água e açúcar?

A prática de oferecer água adoçada, como fez Xuxa, é comum e pode até auxiliar algumas espécies em ambientes urbanos, mas exige cuidados específicos para não provocar problemas.

— Essa água pode fermentar com o calor, com a saliva dos animais ou a ação de insetos. Isso pode causar mal tanto para os beija-flores quanto para os morcegos — alerta Izidoro. 

O ideal é usar açúcar cristal, que é menos processado, e higienizar o bebedouro com sabão neutro a cada dois ou três dias, especialmente no verão. Segundo ele, existem até lavouras que usam bebedouros como estratégia ecológica.

— Muitos produtores de pitaia fazem isso: deixam bebedouros com água adoçada próximos à plantação para manter os morcegos por perto, porque são eles que fazem a polinização noturna das flores — conta. Mesmo assim, ele ressalta que a "prática doméstica" deve ser sempre cautelosa.

Como agir ao encontrar morcegos em casa ou no quintal

Michael B. Kowalski/stock.adobe.com
A espécie que aparece no vídeo é a "Glossophaga soricina", conhecida como morcego-beija-flor.

Ao contrário do que muitos imaginam, a presença de morcegos no perímetro urbano é comum e, geralmente, benéfica.

Espécies que vivem em telhados e forros de casas, por exemplo, se alimentam de insetos, ajudando a controlar pragas urbanas como mosquitos — inclusive o Aedes aegypti, transmissor da dengue e outras doenças.

Porém, em caso de encontro com o animal, a recomendação é observar e não intervir:

— Se o morcego estiver voando dentro de casa, apague as luzes, feche as portas internas e abra as janelas. Ele vai sair sozinho. Se estiver pendurado num muro ou numa árvore, não se deve mexer. Deixe que ele saia por conta própria ao anoitecer — orienta.

E se o morcego estiver caído ou apresentar comportamento estranho?

— Aí, sim, é um sinal de alerta. Nesses casos, o ideal é acionar a Vigilância Sanitária do município (veja abaixo as principais recomendações). Nunca toque diretamente. Se for absolutamente necessário remover o animal, apenas com luvas grossas, como luvas de ferreiro — afirma o especialista.

Todo morcego transmite raiva?

Nem todo morcego está contaminado com o vírus da raiva — e, geralmente, o animal evita o contato com humanos. A transmissão só ocorre quando há mordida, arranhão ou contato direto da saliva de um morcego infectado com mucosas, ou feridas abertas. 

— A mordida só acontece se o animal se sentir ameaçado — explica o biólogo.

Em caso de acidente, a orientação é procurar uma unidade de saúde para avaliação médica imediata. Quando indicado, o atendimento pode incluir aplicação da vacina antirrábica e, em casos específicos, o soro.

O mesmo cuidado se aplica aos animais de estimação. Cães e gatos podem ser contaminados ao morder ou brincar com morcegos caídos, especialmente se o animal estiver doente.

Por isso, manter a vacinação antirrábica dos pets em dia é uma medida fundamental de prevenção.

— O problema acontece quando morcegos caem no chão, e cães e gatos brincam ou mordem esses animais. É assim que podem contrair a raiva. Mas isso também vale para ratos, gambás e qualquer mamífero silvestre — alerta Amaral.

Como diferenciar as espécies de morcegos?

Nem todos os morcegos são iguais — e saber identificar as diferenças pode ajudar a lidar com situações de forma mais segura. 

No Rio Grande do Sul, existem ao menos cinco famílias de espécies. Dentro delas, é possível encontrar morcegos com os mais variados hábitos de alimentação: insetívoros, frugívoros, nectarívoros, onívoros, piscívoros e hematófagos.

— Os morcegos que vivem em forros de casas e telhados geralmente são insetívoros, pequenos, com cerca de 10 a 12 cm e um rabinho fino, como o de rato. Eles são importantes no controle de pragas — explica.

Outras espécies possuem uma membrana parecida com uma folha na ponta do nariz. São os chamados filostomídeos, como é o caso do morcego beija-flor.

— Entre eles, estão também os hematófagos, os que se alimentam de sangue, são maiores, sem cauda e com focinho achatado, parecido com o de um porco. Mas mesmo eles evitam ao máximo o contato com pessoas. Preferem animais de grande porte, como bois e cavalos, em áreas rurais — complementa o biólogo.

Animal tem papel vital na natureza

Além de alguns serem polinizadores, morcegos urbanos também ajudam no controle de pragas agrícolas e urbanas. Isso por que eles se alimentam de insetos nocivos e auxiliam na dispersão de sementes. 

A espécie mostrada no vídeo de Xuxa, por exemplo, tem papel na polinização de frutos como banana, mamão e pitaia.

A natureza depende desses bichos. E eles são protegidos por lei. É crime matar, perseguir ou perturbar morcegos, assim como acontece com capivaras e outras espécies silvestres — diz Izidoro.

Vale ressaltar ainda que morcegos são espécies nativas e não podem ser mortos ou feridos, conforme determina a Lei de Crimes Ambientais (Lei 9.605/1998).

Por fim, o biólogo também alerta para o viés sensacionalista que costuma envolver o tema:

— O medo das pessoas vem da infância, de filmes, de lendas. A verdade é que os morcegos prestam serviços ambientais valiosos, tanto na agricultura quanto na saúde pública. Por isso, precisamos aprender a conviver com eles — conclui.

Como identificar os cinco grupos principais de morcegos no RS

Molossídeos

  • Pequenos (até 12 cm), pelagem acinzentada;
  • Cauda fina semelhante à de rato;
  • Vivem em forros e telhados;
  • Alimentam-se de insetos urbanos (ex: mosquitos).

Filostomídeos

  • Têm uma "folha" ou membrana no nariz;
  • Alimentam-se de néctar, pólen, frutas e pequenos animais;
  • Importantes polinizadores de plantas como pitaia, mamão e banana.

Vespertilionídeos

  • Pequenos, com asas largas;
  • Cauda envolvida por membrana;
  • Voo lembra o de borboleta;
  • Também se alimentam de insetos.

Hematófagos

  • Tamanho maior, focinho achatado semelhante ao de porco;
  • Sem cauda visível;
  • Alimentam-se de sangue;
  • Preferem animais grandes (bois, cavalos) em áreas rurais;
  • Raramente vistos em ambientes urbanos.

Piscívoros (morcegos-pescadores)

  •     Grandes, com pelagem ruiva;
  •     Têm garras alongadas nos pés traseiros;
  •     Caçam peixes ao sobrevoar rios e lagos;
  •     Encontrados em áreas tropicais

O que fazer em caso de morcegos em casa ou na rua em Porto Alegre

  • A presença de morcegos na cidade é comum nos meses mais quentes, já que eles buscam alimentos como insetos e mariposas na zona urbana;
  • A transmissão ocorre somente em caso de mordida, arranhão ou lambedura por animal infectado;
  • Ao encontrar morcegos em casa, a orientação é aguardar que os animais saiam por conta própria. Depois disso, recomenda-se fazer a limpeza do local com aspirador de pó ou água sanitária para remover as fezes;
  • Após a limpeza, vedar frestas e possíveis acessos é essencial. Se necessário, um biólogo especializado pode orientar o manejo correto, respeitando a legislação ambiental;
  • Em casos anormais — como morcego vivo ou morto caído no chão, pendurado em janelas ou cortinas — não se deve tocar no animal. A recomendação é ligar para o 156 ou para o setor de Antroponooses da Vigilância em Saúde, no telefone (51) 3289-2450 (também com WhatsApp);
  • Quem sofrer acidentes com morcegos deve procurar uma das 134 unidades de saúde de Porto Alegre para avaliação médica. Se indicado, o atendimento pode incluir aplicação de vacina e/ou soro antirrábico.

*Produção: Murilo Rodrigues


MAIS SOBRE

Últimas Notícias