Estrelas da Periferia
Há quase uma década de trajetória, a Síganus deseja construir caminhos possíveis para a cultura periférica
Coletivo de rap foi criado em 2016, na Vila Invasão, em homenagem a Gabriel Carvalho, o Ará Bin, amigo e inspiração dos integrantes Felipe Deds, Ericão e DaNova

Criado em 2016 na Vila Invasão, em Porto Alegre, o grupo Síganus é um coletivo que vem se consolidando cada vez mais na cena do rap. Formada por Felipe Deds, Ericão e DaNova, a Síganus surgiu como uma homenagem a Gabriel Carvalho, o Ará Bin, amigo e inspiração dos integrantes, que faleceu no mesmo ano vítima da depressão.
– Ele foi essencial para despertar o amor pela arte e pelo rap em cada um de nós. O nome Síganus vem dessa ideia de “seguir”, seguir na luz, na consciência, no cuidado com a saúde mental – conta Danova.
Com raízes firmes na cultura do SLAM, evento que não apenas moldou a rima, mas foi um dos responsáveis por ajudar a construir o pensamento crítico e intelectual dos integrantes, a Síganus já venceu o Torneio dos Slams 2020, organizado pelo Slam da Guilhermina.
– Através das batalhas de poesia falada, tivemos acesso a informações e reflexões que muitas vezes não chegavam dentro da vila, especialmente sobre desigualdade social, racismo e outros temas que atravessam a nossa realidade – afirma Deads.
Vida, arte e potência também
Após o primeiro single, intitulado Luz na Escuridão, lançado em 2018, a Síganus ganhou destaque ao subverter expectativas no gênero Drill, normalmente associado a letras mais violentas e focadas em vivências de dor de dentro das quebradas. Segundo Deds, o intuito de Samba Drill, que contou com a participação de Fábio Ananias e Lu Gomes, é mostrar que a periferia também é alegria, celebração e cultura, e não só sangue e sofrimento.
– Gravar na Vila Invasão foi essencial para manter essa verdade. E ter Fábio Ananias e Lu Gomes elevou ainda mais a experiência. Eles trouxeram a mistura entre os becos da quebrada e o calor cultural do nosso povo. A presença deles ajudou a traduzir em cena o que queríamos dizer com a música: que a nossa quebrada também pulsa vida, arte e potência – relembra Deds.
Inclusive, de acordo com o grupo, a Vila Invasão é o centro criativo do seu trabalho.
– A Invasão é o coração do nosso trampo. É onde realidade e arte se encontram de forma crua e verdadeira – afirma Ericão.
Desafios
Entre as conquistas e os aprendizados, alguns desafios também fizeram parte da trajetória do grupo, como justamente espalhar o rap dentro da comunidade e levar essa narrativa para o centro da cidade.
Além disso, se manter autêntico em um mercado dominado por outros estilos também foi uma dificuldade, mas nunca deixou de ser um compromisso real do grupo com a rua e a arte independente.
Em Time do Underground, por exemplo, o grupo resgata essa preocupação.
– É um som pra quem cria com a alma, mesmo sem grana. É resistência pura. Desde o início, optamos por uma abordagem mais “leve”, que fugia da expectativa do que normalmente se espera do Drill ou do RAP. Isso já mostrava que a gente vinha com uma proposta diferente.
Para o grupo, o single também serve como um desabafo.
– É aquele som pra mostrar que a gente segue firme no corre, fazendo arte na rua, com o que tem, mas sempre com verdade. A ideia foi resgatar o boombap raiz, aquele que fala direto com quem vive a parada de verdade – completa Ericão.
Também foi com essa vivência que nasceu o primeiro álbum, Drill Popular Brasileiro, lançado em 2024, que une gêneros como mpb, funk melody, bossa nova, pagode baiano e elementos de Umbanda, percussões de Carnaval e, claro, o rap nacional, em 10 faixas.
– Misturamos uma estética moderna com referências da nossa cultura. É uma nova linguagem, mas com raiz e identidade – afirma Deds.
O futuro como coletivo
Para o futuro, mais do que visibilidade, a Síganus deseja construir caminhos possíveis para a cultura periférica.
– Queremos que artistas da nossa geração, e das próximas, tenham espaço pra realizar sonhos dentro do seu próprio território. A Síganus é um coletivo que parte dos princípios do Hip Hop, então um dos nossos maiores valores é a coletividade – explica Danova.
*Produção: Rayne Sá
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