DELAS
Número de mulheres na presidência de empresas praticamente estagnou, aponta estudo
Colunista Giordana Cunha escreve sobre o universo feminino todas as sextas-feiras

Os números mostram: a liderança feminina parou de crescer no topo das empresas brasileiras. Com 17,4% de mulheres na presidência e queda na vice-presidência, o Panorama Mulheres 2025, lançado por Insper e Instituto Talenses Group, revela um cenário de estagnação. O dado, praticamente o mesmo de 2024 (que apontou 17%), interrompe uma curva de crescimento registrada nos anos anteriores.
Mesmo com avanço na presença feminina em diretorias (de 26%, em 2024, para 30%, em 2025), a estagnação no topo da hierarquia e a queda na vice-presidência (de 34%, em 2024, para 20%, em 2025) expõem o que o relatório chama de “funil da liderança”: quanto mais alto o cargo, menor a participação das mulheres.
Especialistas que atuam diretamente no desenvolvimento de lideranças femininas, como Juliana Saboia, cofundadora da Palco Inteligência de Negócios, Miriã Antunes, CEO do Minas de Propósito, e Aline Busch e Marceli Brandenburg, cofundadoras do Instituto Ladies in Tech, avaliam que é preciso criar estruturas, redes e estratégias que sustentem o crescimento real.
– Cada percentual de avanço representa histórias reais de mulheres que têm ocupado espaços de liderança com competência, visão e coragem. Mas sabemos que não basta apenas chegar: é preciso garantir que cada mulher que conquista um espaço de decisão também encontre um ambiente que favoreça o desenvolvimento, a permanência e o reconhecimento de seu trabalho – destaca Juliana.
Empreendedorismo
O estudo mostra que mulheres chegam mais à presidência por meio do empreendedorismo do que pela carreira executiva tradicional. Entre as líderes, 36% comandam empresas com até 200 funcionários, enquanto 40% dos presidentes homens estão à frente de grandes companhias com mais de mil colaboradores.
Segundo o relatório, as causas incluem o acesso restrito a redes de poder, menor promoção interna e discriminação estrutural. Além disso, o empreendedorismo aparece como “resposta concreta ao cenário de exclusão” enfrentado no mundo corporativo.
Essa análise é reforçada por Miriã, que defende que a maioria das mulheres empreende por necessidade e não por opção, e que a falta de incentivos a cargos estratégicos na corporação, além da falta de apoio com questões relacionadas à maternidade, são algumas das causas para que elas ainda não sejam maioria nos maiores níveis hierárquicos.
Equidade
Empresas lideradas por mulheres têm, em média, maior presença feminina em conselhos (departamentos que ajudam na tomada de decisões) e diretorias. No entanto, a adoção de práticas estruturadas de equidade – como planos de ação, compromissos públicos e políticas de promoção – ainda é baixa. Apenas 24,5% das empresas entrevistadas no relatório afirmaram adotar os três pilares em conjunto.
Segundo o levantamento, 58,9% das empresas não têm nenhuma mulher na vice-presidência. Em conselhos, o número é ainda mais crítico: 57,4%.
Para Juliana, isso demonstra que diversidade depende de estratégia e ação:
– O avanço já não é mais apenas uma agenda das mulheres, é uma agenda de futuro, de inovação e de sustentabilidade para as organizações e para a sociedade.
Iniciativa
O Instituto Ladies in Tech, criado por mulheres líderes em tecnologia, atua justamente para fortalecer a presença feminina em cargos altos. Com mais de 300 integrantes ativas em todo o Brasil, o coletivo organiza workshops, eventos e programas de visibilidade voltados para a formação de novas referências.
– Criamos esse espaço porque queremos mais mulheres nos palcos, nos painéis, nos holofotes. Muitas vezes o que falta não é capacidade, é oportunidade – afirma Aline.
– Percebi que todas nós passávamos por situações semelhantes, desde ser a única mulher na sala até ouvir comentários misóginos. Era preciso reagir, e reagimos com união – disse Marceli.