Entretenimento



Estrelas da Periferia

O grito de liberdade do rapper Delaninoss

Cria da zona sul da Capital, artista de 23 anos começou a compor durante a pandemia e aborda as próprias vivências nas músicas. 

23/07/2025 - 14h52min

Atualizada em: 23/07/2025 - 14h55min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
João Garcia/Divulgação
Próximo single será “Gre-Nal”

“O hip hop, para mim, é um grito de liberdade. É onde posso externalizar e tornar visível o que guardo dentro de mim”, diz Delaninoss, rapper gaúcho, nascido e criado na Vila Orfanotrófio, na zona sul de Porto Alegre.

Em meio à pandemia da covid-19, o artista de 23 anos foi um dos muitos da área que buscaram canalizar a atenção na própria criação durante o período de isolamento. Em 2021, inspirado por rappers brasileiros que estavam começando a despontar no cenário nacional, o jovem passou a compor músicas sobre as suas vivências enquanto pessoa LGBT+ periférica.

Desde então, vem trabalhando de maneira independente em produções musicais, shows e videoclipes. Além disso, Delaninoss é responsável pelo coletivo de produção audiovisual Ninoss Bandit, criado em 2022 e composto por diversos profissionais das áreas de comunicação e criatividade. No ano seguinte, por meio do selo, o artista lançou o videoclipe Troco de Marca.


Criando seu espaço

Lutar para conquistar espaço em ambientes normativos não é uma novidade para pessoas da comunidade LGBT+. Segundo Delaninoss, no universo do hip hop, essa disparidade se acentua.

– Vivo na capital de um dos Estados mais conservadores do país, que lidera o ranking global de homicídios contra pessoas LGBT+ – observa, e, ainda, acrescenta:

– Atuo na área do hip hop que promove a inclusão e a diversidade. Porém, é uma cultura que segue sendo majoritariamente composta por homens heterossexuais que apoiam, na grande maioria, somente seus semelhantes.

Otimista, o jovem diz não permitir que a limitação de espaço o abale, e afirma seguir confiante como símbolo de resistência e referência do gênero no Rio Grande do Sul.

Cultura que transforma

Delaninoss também destaca o poder de transformação social promovido pela cultura hip hop. Segundo o rapper, é uma cultura capaz de salvar vidas, principalmente por meio de projetos de inclusão e reinserção.

– O hip hop salva vidas, une pessoas, principalmente via projetos sociais, tira muitas pessoas, principalmente jovens, das ruas, da fome, do tráfico, das drogas, da depressão, e é a prova viva de que podemos virar o jogo e mudar de vida com o poder da palavra e da caneta – declara.

Apesar dos obstáculos e das durezas retratadas nas composições, Delaninoss mantém uma mensagem positiva em suas rimas. Questionado sobre a escolha de abordar um viés otimista, o artista explica que o recurso utilizado vem da vontade de colocar-se em oposição aos estereótipos negativos, muitas vezes reforçados pela sociedade a respeito da comunidade LGBT+.

– Busco ir na contramão, criando uma narrativa positiva, que não só pede, mas exige respeito, de quem se sente bem com sua aparência, que sente orgulho de ser quem é, do que faz e que não vê sua sexualidade como um problema – diz.

Por fim, ele reflete:

– É um desafio até mesmo para eu crer em tudo isso que tento transmitir com essa persona, mas sei que não sou o único que precisa desse tipo de referência positiva para se espelhar.


Projetos em andamento

Nos últimos meses, Delaninoss tem trabalhado em um EP que homenageia a Vila Orfanotrófio, seu berço. Além disso, o rapper tem se aventurado nos ritmos do funk, tendo utilizado elementos do gênero no seu próximo single, intitulado Gre-Nal.

Sobre o projeto, adianta:

– O EP contará com faixas em parceria com artistas da cena underground do Rio de Janeiro e de São Paulo, mas, é claro, com muita referência da nossa amada cultura gaúcha de periferia.

Quanto ao futuro do hip hop no Estado, Delaninoss diz torcer para haver “uma explosão” de novos talentos e formas de se expressar vindos das periferias.

– Talento, nós temos de sobra. O que nos falta, na maioria das vezes, é oportunidade – alerta e conclui:

– A arte periférica do Rio Grande do Sul respira por aparelhos, com pouquíssimo incentivo e investimento, mas seguimos na luta para trazer o melhor para as nossas comunidades.

Produção: Juliana Farinati


Aqui, o espaço é todo seu!

/// Para participar da seção, mande um histórico da sua banda, dupla ou do seu trabalho solo, músicas, vídeos e telefone de contato para michele.pradella@diariogaucho.com.br

/// Entre em contato com o artista pelo telefone (51) 98908-4691 e pelo Instagram: @delaninoss263


MAIS SOBRE

Últimas Notícias