Na RBS TV
"Tela Quente" exibe os dois primeiros episódios da minissérie sobre Raul Seixas
Capítulos da produção sobre o Maluco Beleza vão ao ar nesta segunda-feira (4), depois da novela "Vale Tudo"

Sandro Farias (*)
A dica é parar tudo e assistir à minissérie sobre a vida de Raul Seixas (1945-1989). É absolutamente impressionante a qualidade do roteiro e o capricho da produção em Raul Seixas: Eu Sou (2025), que está disponível no Globoplay e que terá os dois primeiros episódios exibidos pela RBS TV na Tela Quente desta segunda-feira (4). A infinidade de músicas incríveis do Maluco Beleza ganhou agora uma parceria que sempre mereceu: tecnologia e recursos visuais que nos permitem uma nova expansão do seu universo mágico.
O seriado nos autoriza a incluir Raul entre os integrantes que aprendemos a chamar de realismo mágico da literatura latino-americana. Está tudo lá. Raul nos levou a uma viagem parecida com a de Garcia Márquez, que nos fez acreditar em tapetes voadores, ciganos que haviam andando pelos quatro cantos do mundo e alquimistas que buscavam em livros secretos a fórmula para transformar metais comuns em ouro. Quando Raul Seixas fala do sangue no olhar do vampiro ou de um contador de histórias que nasceu "há dez mil anos atrás", ele está nos fazendo acreditar nesse mesmo tipo de magia.
Outra coisa brilhante da minissérie é a atenção dada à infância do Raulzito. Quem foi criança nos anos 1960 e 1970 vai se encontrar nas aventuras de Ali Babá ou de O Dia em que a Terra Parou, vistas na televisão preto e branco daqueles tempos. E também nos quadrinhos de ficção científica que circulavam pelos corredores das escolas, servindo como moldura ao universo lúdico que aparece em várias de suas canções.
Sem ter bem a compreensão da rebeldia transgressora contida nas letras, lembro de como eu achava legal quando se falava em Abre-te sésamo, tesouros, cavernas, do dente do tubarão ou da mosca na sopa. Diferentemente do amor românico que rodava na maioria das rádios, Raul trazia a aventura e o mistério. Um prato cheio pra gurizada se sentir dentro da jogada. As capas de discos e os vídeos não deixavam por menos. O colorido abria as portas para um imaginário sem limites. Raul me levou pra dentro dos livros, coisa que eu só fui entender melhor agora.
A série vai bem ao tratar do modo como Raul Seixas viveu suas dores e múltiplos amores, e não se omite em alertar para o perigo das drogas e do álcool. Pensar no tanto que ele produziu em tão pouco tempo é outra forma de compreender a grandeza da sua obra.
Não bastasse tudo isso, o seriado nos permite reviver a qualidade musical de Raul. As melodias incríveis, o brilho das notas dos violões cristalinos, as baterias limpas e os baixos afinados estão por tudo. A história nos faz entender melhor a genialidade do homem ao fundir rock and roll com a fantástica música nordestina e brasileira.

Por fim, os atores. João Zeppa, o cara que interpreta Paulo Coelho, é perfeito não só nos traços, mas também na voz e trejeitos do mago. E o excelente Ravel Andrade, que dá vida a Raulzito, não deixa muitas dúvidas de que o ator e músico gaúcho (que de fato canta e toca na minissérie) teria sido também a própria escolha do Maluco Beleza para interpretá-lo nas telas.
Em resumo: parem tudo e assistam a Raul Seixas: Eu Sou.
(*) Auditor tributário e escritor, autor do livro “A Vida Disfarçada de Contos” (2022)