Há séculos, as mulheres enfrentam um compasso desigual. Enquanto o relógio marca minutos iguais para todos, sobre nós pesam expectativas, julgamentos e limites impostos. Ainda assim, reinventamos o tempo em sua própria medida. Cada conquista feminina nasce do acúmulo de instantes, e um exemplo disso é o número expressivo de mulheres na direção – cênica, musical etc – dos espetáculos que compõem o POA em Cena deste ano. 

A diretora da Cia Rústica, professora da UFRGS e produtora Patrícia Fagundes é uma delas. Há mais de 30 anos atuando no cenário artístico, ela assina direção cênica e o roteiro da peça Cabaré do Tempo – Pra Lembrar do Futuro. 

Para Patrícia, que ocupa muitas posições de liderança, a cobrança e a descredibilidade são alguns dos desafios enfrentados por ser mulher na sociedade. 

– Sempre tive um jeito assertivo, sou diretora desde muito jovem. Uma mulher que ocupa posição de liderança frequentemente é chamada de mandona. É como se tivesse um pouco de pecado para quem é mulher. Um homem na mesma posição é celebrado pela sua liderança, pela sua assertividade – afirma.

Porém, para além dos desafios, a professora também acredita que devemos celebrar:

 – Celebrar a força, a capacidade de trabalho, a competência e a criatividade dessas mulheres. Elas (mulheres) puxam, estruturam, montam a casa, fazem andar esses grandes festivais.

Espetáculo

Cabaré do Tempo – Pra Lembrar do Futuro é uma peça cênica-musical que atravessa os diferentes tempos da vida e do mundo: o do relógio, da luta, da ciência, do amor etc. A narrativa, entrelaçada por teatro, dança e música, revisita memórias e projeta futuros possíveis, unindo clássicos da MPB a composições autorais, onde texto, poesia e pandeiro se encontram. 

A palavra “cabaré” tem o significado diferente do que o popularmente usado. Patrícia explica:

– Nas artes cênicas existe o cabaré artístico. É um espaço de liberdade, experiência artística, um teatro ligado à vida. Geralmente, esses espetáculos acontecem, por exemplo, em um bar, onde tu pode tomar um vinho ao mesmo tempo em que assiste. Dá para se dizer que o cabaré artístico evoca um ambiente mais relaxado e mais próximo. 

A peça, criada especialmente para marcar o encerramento da programação de abertura do Teatro Simões Lopes Neto, no Multipalco Eva Sopher, também celebra os 21 anos de trajetória da Cia Rústica. No palco, a peça convida a lembrar do futuro sonhado, refletir sobre o que fomos, o que somos e o que ainda podemos ser:

– O espetáculo pede para imaginar outros tempos possíveis, outros mundos possíveis. É uma festa. 

A montagem estará em cartaz no dia 13 deste mês, às 19h. Os ingressos estão esgotados. Porém, dá para prestigiar outras peças que têm mulheres na direção, produção, atuação, seja qual for o setor. 

Confira a programação completa do POA em Cena no site portoalegreemcena.com.br.