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Estrelas da Periferia

Aos 25 anos, jovem do Morro da Cruz recebe Kikito no 53º Festival de Cinema de Gramado

Estudante de Realização Audiovisual, Crystom Afronário foi reconhecido com troféu especial no evento ocorrido entre os dias 13 e 23 de agosto

02/09/2025 - 09h50min


Diário Gaúcho
Diário Gaúcho
Cleiton Thiele/Ag.Pressphoto
Crystom Afronário na cerimônia de premiação do 53º Festival de Cinema de Gramado.

Conhecido artisticamente como Afronário – junção de “afro” e “revolucionário” –, Crystom Oliveira Rodrigues, 25 anos, nascido e criado no Morro da Cruz, em Porto Alegre, recebeu o Prêmio Especial do Júri no 53º Festival de Cinema de Gramado, realizado entre 13 e 23 de agosto.

Primeiro estudante negro a conquistar uma bolsa no curso de Realização Audiovisual da Unisinos, Crystom é ator, diretor e roteirista de Aconteceu à Luz da Lua, curta-metragem vencedor da mostra competitiva nacional do festival na serra gaúcha.

— Entrei na universidade com o objetivo de contar histórias. E foi daí que nasceu o roteiro de Aconteceu à Luz da Lua, onde retrato as vivências da comunidade do Morro da Cruz — relembra.

A motivação para abordar o tema, explica, veio da constatação de que muitas pessoas de fora do Rio Grande do Sul sequer sabiam da existência de comunidades periféricas no Estado:

— O Morro da Cruz não aparece nem nos dados do IBGE sobre Porto Alegre, assim como muitas outras periferias. Então, tento dar voz a esses moradores, porque, tecnicamente, é como se eles não existissem, né? — provoca o estudante.

Para ele, o cinema é mais do que arte:

— Acredito que o audiovisual é uma ferramenta poderosa, quase mágica, capaz de gerar pertencimento e conferir autoridade a quem não costuma ser ouvido.

Inspirado nas próprias vivências de Crystom, o curta acompanha a trajetória de dois jovens da comunidade – personagens que refletem diferentes fases da vida do diretor. Wellington, 18 anos, sonha em concluir o Ensino Médio e ingressar na universidade, enquanto William, 23, é apaixonado por audiovisual e deseja criar um canal no YouTube para viver da arte. Entre sonhos e desafios, a narrativa adota um tom crítico 

ao abordar as vidas periféricas frequentemente interrompidas, sobretudo pela violência policial.

— A mensagem que eu quero passar é a de que nós (pessoas que vivem nas periferias) somos capazes, nós podemos e temos que acreditar que, vivendo um dia de cada vez, estamos um passo mais próximos de realizar os nossos sonhos — destaca.



Reconhecimento

No dia 15 de junho, Crystom recebeu a notícia de que seu curta havia sido selecionado para disputar o Prêmio Especial do Júri no Festival de Cinema – um dos mais tradicionais do país. Para o estudante, atualmente no terceiro ano do curso de Realização Audiovisual, a sensação já era de vitória.

— Estar na mostra competitiva de curtas-metragens brasileiros no Festival de Cinema de Gramado, logo na minha estreia como roteirista, diretor, produtor e ator, já foi o meu prêmio — declara, emocionado.

Até poder compartilhar a conquista, o jovem cineasta precisou esperar a autorização oficial do evento. No dia da cerimônia, fez questão de estar acompanhado por toda a equipe do filme, formada por um elenco 100% negro e periférico.

— Outro prêmio foi poder levar cada pessoa que participou, da equipe técnica ao elenco e à figuração, para ocupar o espaço do tapete vermelho. Um lugar ainda marcado pelo eurocentrismo e no qual, muitas vezes, não nos vemos representados — destaca.

Crystom dedica  o reconhecimento às comunidades que inspiraram sua trajetória:

— O prêmio não é meu. O prêmio é das periferias de Porto Alegre: da comunidade do Morro da Cruz, da Bom Jesus, da Restinga, da Lomba do Pinheiro.

Projetos em desenvolvimento

Após a euforia provocada pela premiação, Crystom diz estar, agora, em busca de retomar o foco nos estudos. No meio-tempo, pretende seguir desenvolvendo projetos que possam ser inscritos em festivais futuros.

Realizado com recursos da Lei Paulo Gustavo, Aconteceu à Luz da Lua, em breve, terá lançamento nos cinemas e nas escolas da Região Metropolitana.

Produção: Juliana Farinati

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