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Jornalista Celia Ribeiro morre aos 96 anos

Dona Celia, como era conhecida, foi referência de elegância, boas maneiras e moda no Rio Grande do Sul

25/09/2025 - 10h40min


Zero Hora
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Júlio Cordeiro/Agencia RBS
Celia Ribeiro morreu na Capital, aos 96 anos.

Decana do jornalismo e referência de elegância, boas maneiras e moda no Rio Grande do Sul, Celia Ribeiro morreu nesta quinta-feira (25) em Porto Alegre, aos 96 anos.

A jornalista estava internada no Hospital Moinhos de Vento, que confirmou a morte por causas naturais. Ainda não há detalhes sobre velório e sepultamento. 

Avessa ao rótulo de oráculo de boas maneiras, Celia Ribeiro defendia que o bom senso era sempre o melhor conselheiro. Costumava dizer que, respeitada uma única regra – manter-se atento aos outros –, as maiores gafes poderiam ser evitadas. 

Sua trajetória foi incomum para uma mulher nascida no ano de 1929 em uma família tradicional de Porto Alegre. Formou-se em Filosofia pela Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), em 1957, e chegou a flertar com os palcos nos tempos de faculdade. 

A paixão pelo teatro, porém, a conduziria para outra carreira: o jornalismo. Iniciou a vida profissional aos 26 anos como crítica teatral do jornal A Hora— sendo uma das primeiras mulheres a atuar em uma redação jornalística no Estado

Foi também no jornal A Hora que Célia conheceu o marido, o também jornalista e ex-diretor de redação de Zero Hora Lauro Schirmer (1928-2009). O casal não teve filhos.

Por quase duas décadas, Celia Ribeiro esteve no ar na televisão gaúcha. Em 1957, fez sua estreia produzindo o programa O Mundo da Mulher, na TV Piratini.

Já em 1964, foi convidada pela TV Gaúcha para comandar o Programa Celia Ribeiro. Oito anos depois, quando o Jornal do Almoço foi criado, tornou-se apresentadora do bloco de variedades da atração da RBS TV.

Trabalhou também no Segundo Caderno de Zero Hora de 1970 a 1992. Depois, foram mais 24 anos como colunista semanal na Revista Donna. Em 2016, ela anunciou aposentadoria.

Ao longo dos 60 anos ininterruptos de exercício da profissão, Celia soube como poucos adaptar-se às mudanças. Atuou em mídia impressa como repórter, editora e colunista. No rádio, fazia da produção à apresentação, assim como foi versátil na televisão. Quando a internet passou a dominar as relações de trabalho e pessoais, reinventou-se com mais de 70 anos, incluindo o título de blogueira na lista de realizações, sem resistência às novas tecnologias. 

Em sua despedida de ZH, cercada de colegas da redação, Celia destacou seu amor à vida e o encanto pela profissão.

— Foi uma trajetória muito longa, mas só a chance que eu tive de exercer essa profissão que eu adoro e fazer o que eu gostava já foi muito bom. 

Veja o comunicado do Hospital Moinhos de Vento

"O Hospital Moinhos de Vento comunica o falecimento da escritora e jornalista Célia Ribeiro, ocorrido nesta quinta-feira (25), aos 96 anos, por causas naturais. Nascida em Porto Alegre, Célia Ribeiro formou-se em Filosofia pela UFRGS, onde também participou do Clube de Teatro. Com mais de 60 anos dedicados ao jornalismo, iniciou a carreira como crítica teatral no jornal A Hora, atuou em rádios como Guaíba e Gaúcha, nas revistas do Globo e Cláudia e foi uma das pioneiras da televisão gaúcha, passando pelas TVs Piratini e Gaúcha.

A partir dos anos 1970, integrou a redação de Zero Hora, onde foi repórter, editora, colunista da revista Donna e blogueira. Foi também referência no ensino de etiqueta, ministrando cursos e publicando obras como Etiqueta na Prática e Etiqueta de Bolso, além de livros biográficos.

Porto Alegre (RS), 25 de setembro de 2025.

Equipe médica:

Luiz Antônio Nasi
Superintendente Médico
CRM-RS 11217

Cassiano Teixeira
Médico Assistente
CRM-RS 21956"

Uma mulher à frente de seu tempo

Em paralelo à carreira de jornalista, Celia escreveu livros sobre etiqueta, gastronomia, viagens e história.

A trajetória como escritora começou em 1991 com o best-seller Etiqueta na Prática, que seria seguido por outras sete publicações sobre o tema. Já o interesse pela gastronomia e pelas receitas de família inspiraram livros como Manual de Sobrevivência do Anfitrião Inexperiente (1995) e Receitas de Yayá Ribeiro (2002).  

Nos seus dois últimos livros, debruçou-se sobre arquivos de documentos e fotografias antigas para contar parte da história da própria família. Fernando Gomes Um Mestre no Século 19 narra a trajetória do bisavô, que deu nome a uma rua no bairro Moinhos de Vento. O Jornalista Farroupilha lembra as aventuras do trisavô, Vicente Ferreira Gomes.

A capacidade de transmitir suas ideias independentemente da plataforma ultrapassou as linguagens características de cada geração. Como mulher, também soube absorver as transformações com naturalidade. 

— Em todos esses anos que eu vivi, o que mais mudou foi o preconceito. Até os anos 1940, tudo era feio, tudo era proibido, tudo era escondido. Hoje é muito mais fácil que se respeite a individualidade das pessoas. Foi um grande ganho — disse a ZH em 2016.

Celia também ressaltava o poder do afeto, sem o qual dizia não conseguir fazer nada. Ela também afirmava que a psicanálise foi fundamental em sua vida.

— Me trouxe muito autoconhecimento e me ajudou a entender como é importante se colocar no lugar dos outros. E isso, no fim das contas, é a essência da etiqueta e das boas maneiras: saber colocar-se no lugar dos outros. A análise, junto com o exercício do jornalismo, me ajudou a entender melhor as pessoas e a mim mesma — relatou na mesma entrevista.

Sobre a associação imediata com a elegância, cultivada pelo seu público, assumia exercitar constantemente a simplicidade e fuga de linguagens arrogantes e impositivas:

— Elegância é dar mais importância ao que cai bem do que aos ditames da moda. Infelizmente, muita gente acaba usando roupas ou acessórios que não favorecem para aparentar menos idade. Elegância é também ser educado, socialmente agradável, mesmo sendo tímido. Já a maior deselegância possível é a ostentação. Não existe nada mais deselegante do que ser deslumbrado.


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