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Entrevista

Thalma de Freitas se une a cantoras negras gaúchas em show que celebra a ancestralidade

Cantora e atriz se apresenta em Porto Alegre nesta sexta-feira (10)

10/10/2025 - 12h20min

Atualizada em: 17/10/2025 - 16h49min


Michele Vaz Pradella
Michele Vaz Pradella
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Zé de Hollanda/Divulgação
Atriz e cantora, Thalma fala sobre a importância da cultura negra

Parte da trajetória de vida e de arte de quatro artistas mulheres negras do Rio Grande do Sul, que em diferentes contextos e perspectivas, compõem e propõem performances que carregam as experiências plurais da música do nosso estado. Vida e arte, história e expressão, razão e emoção fundidas aos sabores do tempo. Corpo e pensamento se apresentam como vetores unificados da produção artística de Loma, Marietti Fialho, Glau Barros e Nina Fola. Diferentes gerações, processos e caminhos que se encruzilham neste espaço-tempo chamado Ialodê: uma homenagem e reverência às Iabás, às mães, as detentoras dos saberes e da continuidade. Acompanhadas de uma banda composta por cinco musicistas, as artistas performam suas trajetórias e cantam suas vidas num encontro único com outra potência das artes brasileiras: Thalma de Freitas, que vem a Porto Alegre para esse encontro da Mostra Internacional de Arte Contemporânea (Miac), hoje, às 20h, no Farol Santander (Rua Sete de Setembro, 1.028). Os ingressos estão à venda pelo site miacbrasil.com.

Josemar Afrovulto/Divulgação
Banda Ialodê: Loma, Marietti Fialho, Glau Barros e Nina Fola

Cantora e atriz, Thalma de Freitas, 51 anos, participou de diversas novelas na Globo, como O Clone (2001), Kubanacan (2003) e Caras & Bocas (2009), mas até hoje é lembrada por ter vivido a empregada doméstica Zilda, em Laços de Família (2000). Em entrevista, a artista fala sobre seu trabalho mais marcante na TV, analisa a representatividade na teledramaturgia atual e fala sobre a importância de eventos culturais que valorizem a ancestralidade.

Para você, qual é a importância de manifestações artísticas que homenageiam a ancestralidade?

Dizem que o Brasil não tem memória, mas isso não é verdade. Todas as manifestações artísticas fazem parte da memória da nossa cultura. É muito lindo que as Ialodês tenham montado esse show pra manter viva a cultura da música de autoria negra no Sul. Pra mim, é realmente uma honra fazer parte deste espetáculo!

Você já conhecia o projeto Ialodê? Como surgiu o convite para se apresentar junto a artistas afro-gaúchas?

Eu não conhecia o projeto Ialodê, se não me engano foi a curadoria da Miac quem pensou na nossa parceria, e acertaram em cheio, porque deu “match”. Inclusive, fizemos uma música especial pro show!

Apesar da importância da cultura e da espiritualidade negras, ainda há muito preconceito. Você acha que, nos últimos anos, houve alguma mudança na aceitação do público em geral em relação a componentes da cultura afro-brasileira?

Entendo que, com o advento da internet, principalmente naquela época do início dos textões no Facebook (2010/2012), a população negra brasileira passou a ter uma voz ainda mais ativa nas conversas públicas. E, como somos grande parte da população, tudo que tem a ver com a cultura passou a ser considerado e, de certa forma, respeitado, sim. Mas acho que o que mudou foi, principalmente, a população negra falando consigo mesma, fortalecendo nossa cultura afro-brasileira, e fazendo com que a voz de pessoas preconceituosas seja menos importante do que era antigamente. 

É impossível falar com você sem lembrar de Zilda, sua personagem em Laços de Família. As últimas reprises jogaram luz sobre a invisibilidade de sua personagem, além das velhas questões sobre a empregada doméstica que é “como se fosse da família”. Você acha que a mentalidade dos brasileiros com relação a isso mudou desde a exibição da novela, há 25 anos?

Eu não vejo muita diferença entre a Zilda e o mordomo da novela Vale Tudo, que está no ar agora. Ela não era invisível, pelo contrário, chamava atenção por ser o personagem de uma empregada doméstica que tinha voz própria… É importante discutir, porque a situações das empregadas domésticas no Brasil é um grande exemplo da disparidade social em que vivemos.

Há mais espaço para artistas negros na teledramaturgia ultimamente, inclusive como protagonistas. Você acha que avançamos bastante nesse sentido? O que ainda falta para atingirmos maior equidade nos elencos?

Eu sinto falta de histórias afrocentradas e obras de ficção que imaginam outras relações sociais, que demonstrem comportamentos diferentes daquilo que fomos acostumados a aceitar como normal na sociedade brasileira, como por exemplo ter uma empregada morando na casa da família rica… O Paulo Vieira faz isso, de certa forma. Admiro muito a liberdade que ele teve pra criar na televisão. Sinto mais falta de roteiristas e diretores negros do que de espaço para atores.

Nos últimos anos, você tem se dedicado mais à música. Sente falta de atuar em novelas? 

Eu fiz a novela Dona Beja que deve ir ao ar ano que vem (na HBO Max), e também vou fazer uma peça de teatro. É muito bom poder me dedicar a todas as minhas paixões profissionais!


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